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Energia

Bons preços da energia estimulam cogeração

Pedro Mizutani, vice-presidente de açúcar e etanol da Raízen: boa oportunidade para antecipar produção de energia.

Bons preços da energia estimulam cogeração

Enquanto os reservatórios de muitas hidrelétricas brasileiras definham com a escassez de chuvas, as usinas de açúcar e etanol aproveitam para produzir mais eletricidade a partir do bagaço da cana e abocanhar os preços recordes pagos pela energia no mercado livre. Em geral, a estratégia foi antecipar para fevereiro e março o início da produção de eletricidade usando bagaço e palha da cana. Algumas usinas compraram o insumo de indústrias vizinhas e buscaram até cavaco de madeira e resto de podas de árvores para gerar mais energia.

Ainda não há dados oficiais que indiquem quantos megawatts-hora (MWh) as usinas de cana conseguiram produzir adicionalmente no mês de março. Mas os números de fevereiro já confirmam a antecipação. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), foram exportados para o sistema elétrico nacional em fevereiro deste ano 280 mil MWh de energia de biomassa (90% dos quais vindos da cana). O volume é 71% maior que o registrado em fevereiro de 2013 (164 mil MWh)

Para março, o mercado estima que esse volume deve ter se aproximado de 500 mil MWh, mais que o dobro do registrado um ano antes (223 mil MWh). Esse total seria suficiente para abastecer, por um ano, um município com pouco mais de 1 milhão de habitantes.

Não há informações disponíveis sobre como essa energia foi comercializada em março. Potencialmente, porém, as usinas sem obrigações de entregar a energia para cumprir contratos antigos tinham condições de vender o insumo ao preço médio de R$ 750 o MWh. “Normalmente, quando não há nem excesso e nem falta de chuvas, o mercado livre oferta preços de R$ 130 a R$ 140 o MWh”, afirma Luiz Cláudio Barreira, especialista em bioeletricidade da consultoria FGAgro.

De olho nesses preços recordes, a Cerradinho Bioenergia, grupo com uma usina de cana-de-açúcar em Goiás, conseguiu produzir 8% mais eletricidade nos primeiros meses deste ano. Isso só foi possível porque a empresa reduziu de 60 para 45 dias o tempo de manutenção na indústria na entressafra da cana. Dessa forma, em meados de fevereiro já havia ligado as caldeiras para iniciar a produção de eletricidade.

Assim, em vez de produzir os 190 mil MWh inicialmente previstos na safra 2013/14, a Cerradinho Bioenergia conseguiu produzir 205 mil MWh. Esse excedente foi negociado a preços até quatro vezes maiores do que os normalmente pagos no mercado regulado. “Chegamos a comercializar parte dessa produção adicional a R$ 822 o MWh”, diz Gustavo de Marchi, diretor administrativo e financeiro da Cerradinho Bioenergia. Dessa forma, a receita com a venda de energia elétrica, projetada para ser de R$ 45 milhões na safra, foi a R$ 50 milhões, segundo de Marchi. “Esse montante entra como geração de caixa na veia”, afirma ele.

Cerca de 80% da eletricidade exportada pela Cerradinho Bioenergia está vendida em contratos de longo prazo no mercado regulado – via leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – a um preço médio de R$ 200 o MWh (referente ao volume entregue na safra 2013/14. O restante foi negociado no mercado à vista ao longo do último ano a um preço médio 50% mais alto – R$ 300 o MWh. “Esse preço médio do spot foi puxado pelas vendas a preços recordes que fizemos no fim da safra 2013/14”, explica o diretor da empresa, que tem capacidade para moer 4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.

Maior grupo sucroalcooleiro do país, a Raízen Energia, controlada por Cosan e Shell, também antecipou em cerca de um mês a produção de energia em três de 24 usinas para aproveitar a janela aberta pelo mercado. O vice-presidente de açúcar e etanol da companhia, Pedro Mizutani, afirmou que no mês de março as unidades começaram a queimar bagaço e palha de cana que estavam estocados. A empresa também adquiriu outros tipos de biomassa para ampliar a produção.

Com isso, somente no mês passado 45 mil MWh foram produzidos nas três usinas em questão – uma em Goiás e duas em São Paulo. Metade desse volume foi entregue em contratos de venda já firmados e a outra metade foi negociada no mercado spot, segundo Mizutani.

“É um volume pequeno perto da nossa produção total, que é de 2,1 milhões de MWh, mas não deixa de ser uma boa oportunidade do mercado”, afirmou o executivo da Raízen ao Valor. A maior parte da produção de energia da companhia está comprometida com contratos de longo prazo. No caso da Raízen, 85% da produção anual é entregue para cumprir esses compromissos e 15% são negociados no mercado spot ao longo do ano.

A Biosev, segunda maior produtora de açúcar e etanol do país, está desde fevereiro deste ano comprando bagaço de cana-de-açúcar de usinas vizinhas para elevar a produção de energia. Enrico Biancheri, diretor comercial da companhia controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities, não informa o volume de energia adicional que a empresa produziu no primeiro trimestre deste ano, mas afirmou que algumas usinas do grupo anteciparam para março a cogeração. “A companhia tem condições de produzir 10% de energia adicional por meio de compra de bagaço de terceiros”, afirma.

Citando dados da CCEE, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) informou que, no ano passado, 15,067 mil GWh de energia elétrica produzida a partir de biomassa (90% de cana-de-açúcar) foram exportadas para o sistema elétrico nacional. Esse volume representou 3,3% do consumo nacional de eletricidade. Em 2012, essa participação foi de 2,9%.