A biomassa tem ganhado cada vez mais espaço por ser uma alternativa para a produção de bioenergia e etanol de segunda geração (2G). Por outro lado, a colheita mecanizada e o fim das queimadas na cana-de-açúcar fizeram com que a palha deixada nas lavouras surgisse como matéria-prima e mais uma fonte de renda aos produtores, imersos na crise sucroalcooleira. Tanto, que algumas das principais empresas do setor lançaram enfardadoras e algumas, como a Valtra (uma das maiores produtoras de tratores da América Latina), acreditam que este novo mercado possa triplicar entre sete e dez anos.
“A geração de energia através do bagaço da cana-de-açúcar tem potencial para iluminar uma cidade inteira. Porém, observamos um alto índice de palha deixada no campo. Acreditamos que em um hectare sejam encontradas entre 10 e 15 toneladas de palha”, disse o diretor de produto da AGCO, detentora da companhia Valtra, Jak Tornetta. Segundo ele, esta é uma das tecnologias mais novas da atualidade e mais acessível aos produtores de médio e grande porte. Na última semana a empresa lançou a linha de enfardadoras Challenger.
Segundo o diretor de marketing de produto da AGCO, Douglas Vincensi, o processo de recolhimento de palha envolve, ao menos, um rastelo – que pode custar em torno de R$ 150 mil – e uma enfardadora – com valor mínimo de R$ 320 mil. “São equipamentos que recolhem até 60 fardos por hora, sendo que cada fardo pode variar entre 400 e 500 kg.”
O especialista em tecnologia agroindustrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Marcelo Pierossi, explica que a palha da cana enfardada tem uma umidade de 15% contra 50% do bagaço (potencial energético 1,7 vez maior). “A palha pode gerar até 0,7 MW/hora por tonelada enfardada, e o bagaço em torno de 0,4 MW/hora por tonelada. A primeira técnica só não é mais viável por conta do custo”, diz.
Dados do grupo E-Usinas indicam que é possível produzir 200 litros de etanol por tonelada de biomassa seca. ” Estas técnicas fazem com que se agregue valor ao setor sucroenergético em um momento complicado como esse”, afirma o presidente do grupo Maubisa e usineiro, Maurílio Biagi Filho. Ele explica que o ideal seria destinar o bagaço à produção de etanol 2G e a palha à geração de bioenergia. “É uma energia barata e o que falta é um incentivo do governo em relação ao preço, para que cubra os custos de recolhimento e logística até a usina.”
Alternativas
Um estudo realizado pelo grupo Safira Energia aponta que a capacidade instalada nas usinas de biomassa no Brasil cresceu 21% em 2013, variação de 8.870 MW em geração de energia ante de 7.342 MW registrado em 2012.
Além da cana-de-açúcar outras fontes de matéria-prima são exploradas pelo País. Uma emenda parlamentar do deputado federal Jesus Rodrigues (PT-PI) destinará R$ 500 mil a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para análise em desenvolvimento de etanol 2G no Nordeste através da biomassa florestal (madeira de eucalipto, por exemplo), com foco na produção da agricultura familiar. “Nossa meta é estabelecer parcerias com empresas que comprem o etanol produzido pelos pequenos agricultores, para que eles tenham mais uma fonte de subsistência”, enfatiza Rodrigues.