A frente fria que trouxe chuvas ao Centro-Sul e geadas às serras gaúcha e catarinense no fim da semana passada não provocou impactos economicamente significativos para a agricultura do país. Entretanto, os mapas meteorológicos já indicam que mais uma massa de ar polar de forte intensidade deverá chegar ao Brasil dentro de duas semanas, o que novamente põe em alerta importantes regiões agrícolas, especialmente de milho, café, algodão e trigo.
Conforme Marco Antonio dos Santos, da Somar Meteorologia, a nova onda de frio deverá entrar no país por volta de 10 de junho e permanecer até pelo menos o dia 12, com atuação em toda a região Sul e nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Os modelos [climáticos] estão oscilando muito mas, por ora, há um intervalo de temperaturas previsto entre 3ºC e 8ºC nas áreas produtoras de milho”. O meteorologista diz que ainda é cedo para se falar em geadas, mas que as temperaturas serão extremamente baixas e “merecem ser acompanhadas”.
Temperaturas abaixo de 2ºC são suficientes para provocar geadas, mas o fenômeno depende de uma série de outras variantes para acontecer, como as condições de vento e umidade. Mas, ainda que as geadas não venham, os termômetros em baixa já podem causar danos a algumas lavouras de milho, com a “queima” do pé em função do frio. “Muitos plantios ainda estarão em fase de maturação, por isso ainda é um período crítico”, afirma Santos.
No caso do café, acrescenta o meteorologista, o frio em si não tende a ser prejudicial – apenas se a temperatura cair abaixo de 1ºC haverá algum dano mais significativo. Em julho de 2013, uma geada rigorosa no Paraná derrubou em 62% a produção de café local, além de ter reduzido em 33% a expectativa de colheita para o trigo e em 8% para a da safrinha de milho, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Estado.
A reta final da safrinha de milho em Mato Grosso e Goiás deve ser tranquila, de acordo com as previsões da Somar. “Apenas em Goiás há um problema com a seca, mas essa frente fria do fim de semana tende a ajudar as lavouras a conseguirem uma pequena recuperação”, afirma Santos. Mas a percepção é que a produtividade do grão já está praticamente definida nos dois Estados.
O algodão também não está livre de sofrer com o frio. Na semana passada, a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) previu um atraso de pelo menos um mês no início da colheita da fibra no país. Os trabalhos costumam começar entre junho e julho em Mato Grosso (maior produtor nacional), mas a possibilidade de que as temperaturas caiam abaixo do normal pode afetar o cronograma. Isso, porém, não tende a provocar alta nos preços do algodão, em virtude da demanda enfraquecida.
Já o trigo deve se desenvolver sem grandes problemas, mas a previsão é de que chuvas atrapalhem a colheita do cereal. “Se o El Niño se confirmar, e já há 85% de chances de isso acontecer, há uma maior tendência de chuvas acima da média entre o fim do inverno e início da primavera, que coincide com a colheita do trigo”, disse o meteorologista da Somar. Por isso, segundo ele, muitos produtores no Paraná e no Rio Grande do Sul estão tentando adiantar o plantio do cereal para tentar driblar o perigo climático.