O Brasil dá início à colheita da safrinha de milho de olho no mercado. Com as exportações em queda e parte da safra de verão ainda estocada nos armazéns, a oferta extra do cereal acentua a pressão sobre os preços, que estão em viés de baixa e começam a gerar demanda por uma intervenção. No Paraná e em Mato Grosso, líderes na produção nacional, o valor da saca (60 quilos) caiu a R$ 19 e R$13,50, respectivamente – níveis próximos ao mínimo definido pelo governo federal.
Nos dois maiores estados produtores do país a área caiu 8% em relação ao ano passado e deixou o mercado otimista no início do ciclo. “Havia uma expectativa de preços bons, porque a área de safrinha foi menor e ocorreram problemas climáticos na produção de verão”, contextualiza o analista de mercado da consultoria FCStone, Glauco Monte.
A oferta menor, contudo, foi rebatida pela queda nas vendas para o exterior, aponta Monte. “É preciso exportar pelo menos 20 milhões de toneladas para balancear o mercado e, neste momento, o nosso produto não está competitivo no mercado internacional”, frisa. Fatores como a taxa de câmbio mais baixa e o atual nível das cotações internacionais limitam as vendas brasileiras. De janeiro a maio, o país embarcou 5,2 milhões de toneladas de milho, 35% menos do que no mesmo período de 2013, indicam dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A queda nos preços poderia dar fôlego extra às exportações, mas o bom desempenho da safra dos Estados Unidos – maior produtor global do grão – aparece como outro obstáculo. O último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura do país, o Usda, indicou potencial para 353 milhões de toneladas. “Os norte-americanos tendem a colher uma safra recorde e os compradores estão observando isso. Não há alento altista no curto prazo”, avalia o analista da Cerealpar, Steve Cachia.
Embora os preços baixos sejam positivos para segmentos que utilizam o produto como insumo, no campo o cenário é de preocupação. “Estou esperando para vender. A tendência é de queda e isso preocupa”, comenta o produtor Luciano Barsoto, de Cascavel (Oeste do Paraná), que cultiva 190 hectares do cereal.
No contraponto, quem se antecipou ao cenário atual não demonstra arrependimento. Em Corbélia, também no Oeste paranaense, o produtor Marcelo Krohling dedicou 200 hectares ao cereal e já vendeu 90% da produção a R$ 24 por saca. “O preço da saca já caiu a R$ 19 aqui na região”, compara.
Até o início da semana passada, o Paraná havia colhido 5% dos 1,9 milhão de hectares dedicado à segunda safra do cereal e, em Mato Grosso, as máquinas avançaram sobre 9,5% dos 3 milhões de hectares cultivados.
Governo promete apoio
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) já planeja subsidiar a comercialização do milho. Conforme o secretário de Política Agrícola do Mapa, Seneri Paludo, os primeiros leilões devem sair em agosto. “O anúncio pode sair em julho, mas será muito difícil implementar [os leilões] ainda neste mês”, aponta.
Segundo o Mapa, o apoio pode envolver desde contratos de opção de venda futura até aquisições diretas ou leilões de prêmios para estimular o escoamento do grão das regiões produtoras para áreas de consumo. Paludo indica que o Mapa ainda está avaliando o volume que será necessário apoiar e não há definição do volume de recursos a ser mobilizado.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que seria preciso subvencionar pelo menos 10 milhões de toneladas, volume similar ao da temporada passada, quando os preços ficaram abaixo do mínimo durante todo o período de safra.
Incerteza: Clima também vira ameaça no PR
Além dos preços mais baixos, os produtores de milho do Paraná monitoram o clima na reta final da safra. As chuvas que atrasaram a entrada das máquinas no campo nas últimas semanas também elevaram o índice de umidade nas lavouras, ameaçando a qualidade dos grãos. Já existem relatos de problemas como brotamento de espiga e ataques de fungos em lavouras do estado.
A técnica da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) Juliana Yagushi explica que se trata de casos pontuais, e o impacto tende a ser menor do que na última safra. “Não é como no ano passado, quando os meses de maio e junho foram mais chuvosos e isso afetou a produção”, aponta.
As áreas mais ameaçadas são as que estão em fase de maturação (33%) do total. “O grão já está pronto, não há muito que fazer. A umidade elevada e o excesso de dias com pouca luminosidade favorece o aparecimento de doenças de final de ciclo”, detalha Juliana.