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Como definir a vida útil de produtos cárneos e avícolas

A vida útil dos produtos cárneos e avícolas é crucial por diversas razões, incluindo aquelas referentes a qualidade, segurança e lucratividade.

Como definir a vida útil de produtos cárneos e avícolas

A vida útil dos produtos cárneos e avícolas é crucial por diversas razões, incluindo aquelas referentes a qualidade, segurança e lucratividade. Ela impacta significativamente no desenvolvimento do produto, controle de qualidade, segurança alimentar, comercialização e satisfação do consumidor. No entanto, a equação exata para se determinar a vida útil de um produto ainda continua parcialmente ciência e parcialmente mistério. Pelo fato de muitos fatores intrínsecos e extrínsecos afetarem a vida de prateleira de um produto, tê-los com clareza e de forma conscientizada pode ser um dos aspectos mais desafiadores e complicados do processamento de carnes bovina e avícola. Para unidades de processamento de carne bovina, o teste da vida de prateleira pode ser utilizado como uma ferramenta para medir objetivos da qualidade produtiva ou como indicador de problemas que surgirem durante a produção. Também é proveitoso entender como aquele produto vai “se manter” e satisfazer os consumidores, dado que estas pessoas os compram e os levam para seus lares.

Definindo vida útil
O primeiro desafio referente a vida útil é o de extrair uma definição para isso. Dependendo do tipo de produto (por exemplo, fresco, mantido sob refrigeração, longa vida), o segmento da indústria alimentícia de interesse (por exemplo, fabricante, distribuidor, atacadista, consumidor) ou a necessidade pontual em prol do produto (por exemplo, qualidade, segurança, economia), a definição de vida útil pode ser bastante diferente. De um ponto de vista holístico, integral, a vida útil é definida como o ponto, dentro da vida do produto, no qual não é mais considerado aceitável de acordo com limites predeterminados desenvolvidos àquele produto específico. Mais especificamente, a vida útil é definida como a quantidade de tempo (em dias) com que alterações microbianas e químicas são adiadas o máximo de tempo necessário para estender a vida pós-processamento de um produto ao máximo possível de extensão. Deve-se notar que a vida útil não apenas descreve a qualidade de deterioração com o tempo, afetando a capacidade de venda do produto, mas também é usada como métrica da segurança alimentar. Para determinados produtos, como totalmente cozidos, prontos para o consumo, a vida útil é empregada para determinar a eficácia inibidora de antimicrobianos quanto ao controle da proliferação de patógenos tais como a Listeria monocytogenes. Por definição regulatória, um antimicrobiano utilizado para controlar a L. mononcytogenes deve limitar o crescimento desta bactéria por não mais que 2 logs durante a vida útil estipulada para aquele produto.

Fatores que afetam a vida útil

Um dos maiores problemas quanto à compreensão e obtenção da vida útil é se dar conta de que muitos fatores intrínsecos e extrínsecos a afetam. Alguns desses fatores são satisfatórios durante o controle que fazemos; outros, não. Alguns dos fatores impactam de forma maior na vida útil do que outros, e alguns até causam repercussões maiores em determinados produtos (por exemplo: produtos frescos vs. de longa vida) do que em outros. Alguns dos fatores mais bem compreendidos incluem: instalações sanitárias adequadas e condições em que se encontram os equipamentos, frescor das carcaças, cortes frescos de matérias-primas (por exemplo, microbiológicos e bioquímicos), controle do produto e de sua temperatura processual (por exemplo, produtos frescos, congelados, processamento, armazenagem, distribuição, etc.), adição de ingredientes e seu teor (por exemplo, sal, nitrito de sódio, antioxidantes/antimicrobianos sintéticos ou naturais, etc.), tipo de embalo (por exemplo, a vácuo, com atmosfera modificada, etc.) e tecnologias de processamento (por exemplo, borrifadas de antimicrobianos, processamento térmico, pasteurização sob alta pressão, etc.), apenas para nomear alguns. Todos esses fatores mencionados podem e vão afetar a vida útil tanto positivamente quanto negativamente. Além disso, dê uma atenção especial ou dispenda maiores esforços no controle desses fatores, algo que trará retornos expressivos no prolongamento da vida útil do produto.

Também há muito outros fatores que são menos óbvios ou menos fáceis de se controlar que podem causar impactos na vida útil de um grau menor, mais sutil, até estrondoso; e, em alguns casos, esses fatores podem ser significativamente nocivos à vida útil como um todo ou aos esforços para prolongá-la. A não adesão a programas rigorosos de sanitização pode custar, instantaneamente muitos dias, ou até semanas de encurtamento da vida útil. A contaminação bacteriana inadvertida proveniente do manuseio feito pelos funcionários podem custar esse mesmo preço (nota especial: para entender se os funcionários estão causando impactos na vida útil, observe suas ações – se vestem ou não luvas antes e durante o manuseio de um produto). A exposição prolongada de luz de produtos curados pode desgastar as reservas da coloração curada. Um único aumento de temperatura no produto (mesmo que apenas a superfície se aqueça) também pode diminuir a vida útil. Pequenas mudanças na frescura da matéria-prima também podem ser culpadas. Mal funcionamento ou manutenção de equipamento feita inadequadamente, causando uma remoção menor de oxigênio do produto durante a etapa de vacumização ou de embalo também podem gerar problemas de vida útil. A qualidade da gordura, a qualidade dos condimentos empregados, a ponderação da qualidade de água e sua pureza e até mesmo o controle de materiais de embalo… tudo isso pode impactar na vida útil.

Talvez a melhor maneira de entender “que fatores afetam a vida útil do seu produto” é levar em conta os fatores avaliados em sistemas de segurança alimentar, tais como a Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle, e utilizar uma abordagem avaliativa semelhante. A Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle, por si só, fizeram muito para aperfeiçoar a vida útil da maioria dos produtos simplesmente devido ao foco, na melhoria geral da sanitização das instalações industriais produtoras, equipamentos e equipe de funcionários. A Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle também criou uma abordagem sistemática para avaliar cada etapa no processo de segurança alimentar, que poderia facilmente ser adaptada e utilizada como um modelo para desenvolver uma avaliação completa da vida útil do produto.

Como determinar a vida útil de um produto
Testes de vida útil de produtos podem ser caros e medidas que tomam muito tempo. Por isso, não é viável testar todos os produtos, e isso é muito menos necessário em vários casos. Entretanto, se a sua empresa fabrica uma porção de produtos e a vida útil deles é importantíssima à qualidade ou devido a razões econômicas, a testagem da vida útil certamente seria algo a se levar em conta.

Fabricantes que detêm vidas úteis excelentes em seus produtos conhecem as peculiaridades… dos testes que são feitos de novo e de novo de novo. Essa abordagem é crucial para estipular a vida útil e assegura o fato de que a vida útil permanecerá a mesma ao longo do tempo. Como já discutido, muitos fatores podem afetar a vida útil. Alguns o fazem durante o controle dos produtos e outros não. Portanto, a única forma de conquistar confiança total sobre a vida útil verdadeira do produto é realizar testes continuamente.

Para executar um teste de vida útil, há algumas coisas a se levar em consideração. Primeiramente, são necessárias muitas embalagens do produto para eficientemente pôr em prática um único estudo. Em segundo lugar, várias replicações desse estudo devem ocorrer a partir de diferentes lotes do produto e partindo de diferentes períodos de tempo (quer dizer, 1º trimestre, 3º trimestre, etc.) para entender a vida útil eficazmente. Em terceiro lugar, deve-se escolher um ambiente com controle de temperatura, luz e umidade, com parâmetros selecionados que simulem como um produto será armazenado até que seja consumido, para fins de teste. Em quarto lugar, análises visuais e microbiológicas (e uma porção delas) devem ser feitas de acordo com um procedimento planejado e programação cronometrada de amostragem. Em quinto lugar, deve-se desenvolver folhas de dados utilizadas para captar mudanças visuais e/ou organolépticas ao longo do tempo.

O teste existente de vida útil pode ser feito, primeiramente, posicionando o número de pacotes predeterminados de produto acabado (vamos usar presunto fatiado como exemplo) em um local de armazenagem com climatização controlada. Um dia ou dois após o cozimento, pelo menos de 3 a 5 pacotes escolhidos aleatoriamente devem ser visual ou organolepticamente avaliados em relação a coloração, aroma e atributos de sabor. Outro conjunto de pacotes têm de ser enviados para análise microbiológica e ter amostras escolhidas para avaliação de bactérias aeróbias, anaeróbias ou outras que sejam deteriorantes, à sua escolha. A contagem total de placas ou níveis ácido-láticos bacterianos são geralmente determinados. Nos intervalos de agrupamento dos pacotes (ditados pelo produto sendo testado), conjuntos adicionais de pacotes aleatoriamente escolhidos devem passar por análises visuais, organolépticas e microbiológicas. Caso você queira, análises microbiológicas após as inicialmente feitas (dia 1 ou 2) podem ser adiadas até que uma alteração visual ou sensorial seja percebida durante o curso dos pontos temporais de avaliação pré-estabelecidos. Uma vez que qualquer mudança for notada, um teste microbiológico deve, então, ser feito. Como em todos os outros testes, uma robustez aumentada de testes geralmente fornece resultados melhores.