Os suinocultores brasileiros aprenderam com as crises que abalaram o setor nos últimos anos. Hoje, mesmo recebendo preços recordes na venda dos suínos, que foram impulsionados pelo consumo interno firme e pelo bom desempenho das exportações, e com melhora na lucratividade, por conta da redução de custos proporcionada pela queda de preços dos do milho, os criadores não estão dispostos a investir os ganhos na expansão do plantel de matrizes para ampliar a oferta de carne.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, argumenta que o setor amadureceu e encara o cenário positivo atual com cautela. Ele observa que o aumento das exportações para o mercado russo, principal destino da carne suína brasileira, se deve a fatores conjunturais, como problemas de doenças em países fornecedores e as restrições ao comércio impostas pelos Estados Unidos e União Europeia por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Na avaliação do presidente da ABCS, depois que passar o período de turbulência na política internacional as autoridades sanitárias russas devem retomar as práticas de controle do volume de importação da carne suína brasileira, por meio da suspensão da habilitação de frigoríficos, “para atender interesses comerciais”.
Lopes lembra que recentemente o setor enfrentou duas graves crises. A primeira, em meados da década passada, pegou o setor no contrapé, pois os investimentos no aumento da produção se frustraram com o surgimento de focos de febre aftosa, que provocaram embargos nas exportações brasileiras de carne suína. A segunda ocorreu em 2012, quando os preços do milho dispararam no mercado interno, devido à forte quebra da safra de norte-americana.
O diretor de mercado interno da divisão de suínos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Jurandi Soares Machado, alerta que mesmo as expectativas de expressivo aumento das vendas para o mercado russo não estão se concretizando, porque a carne brasileira sofre concorrência da entrada clandestina de carne suína chinesa, burlando os embargos impostos pela União Europeia e Estados Unidos. Ele diz que os exportadores também enfrentam dificuldades na hora de receber o pagamento dos russos, por causa das sanções internacionais às operações de compensação bancária.
Segundo o diretor da ABPA, os exportadores brasileiros enfrentam problemas semelhantes nas vendas para a Venezuela, por causa do risco de calote, e também para a Argentina, cujo governo limita a saída de dólares. Os dados até agosto deste ano mostram que as vendas acumuladas de carne suína para o mercado argentino caíram 49% em relação aos primeiros oito meses do ano passado.
Jurandi Machado concorda que o setor aprendeu com as crises e por isso a produção deve se manter estável nos próximos meses, apesar do cenário atual de boa lucratividade. Na opinião do dirigente a expansão da produção brasileira de carne suína deve se manter na mesma proporção do aumento do consumo interno, que absorve 80% do volume produzido. “Os números atuais indicam que a produção do próximo ano não será diferente da prevista para este ano. Se houver aumento da oferta somente será sentida a partir do segundo trimestre de 2015”, diz ele.
Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), diz que a crise de 2012 foi uma grande lição, pois os prejuízos provocados pela alta de custos obrigaram muitos produtores a arrendar suas granjas, abandonando a atividade. “Houve uma seleção natural e aqueles que sobreviveram estão mais cautelosos e preocupados em aumentar a produtividade, sem investir na expansão do plantel”, afirmou.
Mais produtividade
A busca de ganhos de produtividade, independente do momento atual de bons preços na venda do suíno e de baixos preços na compra do milho, é uma das prioridades da suinocultura. Prova disso foi um evento realizado no final de setembro que reuniu mais de 250 profissionais do setor em Florianópolis (SC). A conferência INFO360, foi promovida pela consultoria Agriness, especializada na gestão de informação para a suinocultura.
O sócio fundador e diretor de Inovação e Negócios da Agriness, Everton Gubert, conta que a empresa atende mais de 1.740 clientes no Brasil, gerenciando cerca de 1.220.000 matrizes suínas, que representam mais de mais de 75% do mercado brasileiro. A Agriness também está presente em mais de oito países, exportando tecnologia para América Latina e Europa. A empresa criada em 2001 desenvolveu um sistema de informação para gestão dos negócios.
No encontro, a consultoria divulgou os vencedores da sétima edição do prêmio Melhores da Suinocultura Agriness, que contou com a participação de mais de mil granjas do Brasil e da Argentina, que tiveram seus dados monitorados. O projeto começou em 2006, com o objetivo de estabelecer um referencial de produtividade.
Os premiados na categoria até 300 matrizes foram Mateus e Marcello Simão, da Chácara Vó Ita, de Castro (PR). Os criadores obtiveram um índice de desmamados/fêmea/ano (DFA) de 33,79. Na categoria acima de 300 até 1000 matrizes, o vencedor foi Joaquim Campos Pereira, da Fazenda Várzea do Pau D’Alho, localizada em Lima Duarte (MG), que atingiu DFA de 33,51. Acima das 1000 matrizes, a vencedora foi a Granja Guará, em Nova Morada de Minas (MG), com DFA de 32,12.
Um dos destaques da premiação foi a criadora Renata Diotti Ferreira, da Agropecuária Duas Irmãs, de Campo Grande (MS), vencedora na categoria que premiou o maior ganho de produtividade nos últimos anos. O levantamento da Agriness mostra que a granja, que tem hoje 168 matrizes, apresentava um DFA de 22,29 em 2012, que subiu para 25,60 em 2013 e atingiu um resultado de 28,27 em 2014. A média geral do ranking da Agriness é de 26,49 desmamados por fêmea/ano. Everton Gubert lembra que na primeira edição do prêmio, realizada há sete anos, a média do DFA era de 24,82.