A atual pressão de baixa nos preços de grãos como soja e milho não significa a consolidação de um novo ciclo de preços negativos no mercado global de grãos. Foi a avaliação feita nesta sexta-feira (10/10) pelo consultor em agroengócios Carlos Cogo. Ele participou do Seminário de Planejamento Estratégico 2015, promovido pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo.
Com as perspectivas de boa produção, principalmente nos Estados Unidos, as cotações da soja na Bolsa de Chicago vem operando abaixo dos US$ 10 por bushel desde o início de setembro, considerando o contrato mais próximo, que é novembro de 2014. No caso do milho, o vencimento para dezembro está abaixo de US$ 4 por bushel desde julho.
Nesta sexta-feira, o Departamento de Agricultura dos Esatdos Unidos voltou a revisar para cima suas projeções para a safra 2014/2015, em fase de colheita. Para a soja, o cálculo é de 106,8 milhões de toneladas. Para o milho, de 367,6 milhões.
“Mas se você olhar para a demanda, ela ainda é crescente, especialmente nas proteínas animais. E isso requer mais soja e mais milho para ração. Eu poderia falar em ciclo de baixa se a oferta crescesse mas a demanda ficasse mais fraca”, analisou o consultor.
Cogo lembrou também que a safra sul-americana ainda está sendo plantada e representa uma incerteza. Qualquer adversidade climática pode levar a uma revisão das projeções e mudar a perspectiva de preços futuros.
Nesta semana, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou suas primeiras estimativas para a produção brasileira na safra 2014/2015. O volume de soja pode chegar a 92,4 milhões de toneladas e o de milho em 78,9 milhões somando primeira e segunda safras.
“Eu acredito que os preços já formaram um piso, tanto pra milho, trigo soja. Esse piso pode ficar por mais um tempo como pode em algum momento, em algum estresse de clima em alguma região, ele achar um nível um pouco mais alto”, analisa o consultor.
O consultor destacou ainda que, neste momento, os prêmios de exportação estão altos nos portos. Considerando a possibilidade de um ajuste da taxa de câmbio, atualmente acima de R$ 2,40 por dólar, há uma compensação para as baixas no mercado internacional.
Proteínas
Carlos Cogo não ignora a possibilidade de haver um período mais persistente de valores de grãos em patamares baixos caso ocorra pelo menos mais um ano de safras cheias nos principais produtores. Mais para frente, deve haver um reequilíbrio. Mas, neste momento, o cenário do mercado global é uma oportunidade para os produtores de proteína animal comprarem insumos com um custo mais baixo.
“O setor de proteína pode se alavancar também. Produzir mais, demandar mais soja e milho e isso vai ajudar no escoamento de forma mais acelerada esse volume de estoques adicionais”, diz ele.
Na avaliação do consultor, o quadro de oferta e demanda mundial de carnes (bovina, suína e de frango) é apertado. Com relação à produção, a tendência de crescimento maior tem sido da carne de frango, mas o maior consumo ainda é do produto suíno. Cogo desenha um cenário positivo para o setor de carnes do Brasil que, segundo ele, está mandando no mercado global.
“Nós não temos concorrentes em alguns setores, como carne bovina. Só não expandimos porque não temos oferta. O horizonte é brilhante. Temos condições de continuar a crescer em todas as carnes e ainda naquilo que não conseguimos crescer, como é o caso dos lácteos.”
No Brasil, somadas as três carnes, o consumo, de acordo com os dados apresentados por Carlos Cogo, passou de 44,7 quilos por pessoa para 94,8 quilos em 2013. Para este ano, a projeção é de 95,3 quilos por pessoa com tendência de estabilização em patamares que considera elevados.