Nas estradinhas rurais de Nova Califórnia só se vê verde dos dois lados. A plantação de frutos da Amazônia ocupa áreas que antes eram degradadas, ou eram de pastagens, há mais de duas décadas.
Na época, agricultores do Sul do país foram para lá plantar arroz, feijão e milho, mas perceberam que não havia como escoar a produção.
Cemildo Kaufer é um dos pioneiros do projeto Reca. Ele é gaúcho e foi para lá há 23 anos. A aposta no sistema agroflorestal, onde são cultivadas várias espécies, deu certo.
O carro-chefe foi o cupuaçu, logo depois veio o palmito da pupunha, que hoje toma conta de boa parte das plantações. Aí, foram somadas a castanheira, árvore nobre da Amazônia, que tem a extração proibida, o açaí, entre outros.
Os produtores rurais levam muito a sério a palavra cooperativismo. Agora, por exemplo, na época do corte da pupunha para extrair o palmito, eles se organizam em mutirões. Cada dia cortam o palmito da propriedade de um deles. Assim, não precisam pagar pela mão de obra e o lucro aumenta.
Hoje 350 famílias são associadas à cooperativa e outras 600 trabalham indiretamente com o Reca. Organizadas em associações, elas vendem os produtos à cooperativa. O total de área plantada do projeto Reca chega a três mil hectares, todos da agricultura familiar.
Manoel Pereira da Silva carrega nos braços o peso da maior produção de cupuaçu do distrito. Ele nasceu no seringal e trabalhou na extração do látex durante 12 anos, mas decidiu apostar no projeto, vendeu o gado para investir no cultivo da fruta. “Eu vi que o cupuaçu ia dar mais dinheiro que o gado e resolvi investir”, diz.
Muitos agricultores hoje têm certeza que a vida ficou melhor no campo depois que se associaram à cooperativa.