A necessidade dos países do Golfo Pérsico de estocar alimentos, controlar a inflação e atender à crescente construção civil fez com que o comércio brasileiro com os países da Liga Árabe destoasse da tônica das exportações gerais no primeiro trimestre deste ano.
Enquanto na balança comercial geral houve retração de 7% nas vendas ao exterior entre janeiro e março em relação ao mesmo período de 2012, os embarques aos árabes renderam 4% mais, atingiram US$ 3,4 bilhões e adicionaram um saldo positivo de US$ 1 bilhão às contas.
As importações brasileiras provenientes dos países árabes no trimestre cresceram mais, 11%, mas permaneceram abaixo das exportações. O petróleo, sozinho, respondeu por US$ 2 bilhões e representou quase o total do aumento registrado no período de doze meses. Por ser mais leve, a Petrobras compra o petróleo árabe para misturar com o nacional e incrementar o volume de refino.
Açúcar, carnes congeladas, minério de ferro e cereais, nesta ordem, são os produtos mais demandados pelos 21 países da Liga Árabe. Somados, os quatro representaram 85% das exportações brasileiras para a região de janeiro a março de 2013. Todos apresentaram crescimento ante o primeiro trimestre de 2012.
Os embarques de cereais, por exemplo, renderam US$ 317 milhões, valor 35% maior. Além de se diferenciar da dinâmica das exportações totais, o início do ano apresentaram tendência inversa ao resultado total de 2012, quando as vendas brasileiras aos árabes caíram 2% ante os US$ 15 bilhões de 2011.
Já o aumento da demanda por minério de ferro atende à necessidade de aço da indústria de construção civil de países que estão investindo mais para melhorar a infraestrutura, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Ambos são os que mais compram do Brasil. Somados, absorveram US$ 1,4 bilhão das exportações no primeiro trimestre.
Fernando Ribeiro, técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que os países que não passaram por turbulências políticas nos últimos dois anos, como os principais da região do Golfo Arábico – como os povos da região chamam o Golfo Pérsico -, estão com economias mais sólidas e bons índices de crescimento, o que garante maior nível de importação.
No caso de açúcar e carnes congeladas, as vendas são mais descentralizadas. Argélia, Líbia, Tunísia e Egito, que viveram a “Primavera Árabe”, cresceram ou mantiveram o patamar de importações no primeiro trimestre, impulsionados justamente por esses dois produtos.
A situação econômica e política dos países árabes da chamada África Branca e do Oriente Médio também levou ao aumento das compras, na avaliação de Michel Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. “Há uma preocupação com a segurança alimentar e em formar estoques para conter a inflação. Grosso modo, há alguns problemas sociais nesses países e a falta de alimento não pode ser mais um”, diz.
A presença brasileira, contudo, aumenta nos produtos em que o país já é competitivo, segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). No caso das carnes congeladas, por exemplo, Austrália e EUA, outros dois fornecedores mundiais de larga escala do produto, não competem fortemente no mercado árabe. O primeiro por escassez de oferta, já que atende à Ásia; o segundo, por questões políticas.
“São países com alto poder aquisitivo que também olham para a qualidade. Mas em manufaturas, por exemplo, não conseguimos entrar nesse mercado, que é abastecido por chineses e indianos. Temos um custo logístico muito alto, os asiáticos estão mais perto, e nossos produtos de valor agregado são pouco competitivos”, afirma.
No entanto, Castro diz que minério de ferro e açúcar estão com preços em queda no mercado internacional, enquanto carnes e cereais seguem firmes. Isso pode fazer com que as divisas com as exportações recuem até o fim do ano, ainda que o volume das vendas também tenha crescido. No caso dos alimentos, a tendência em 2013, para a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, é de aumento nos estoques dos países da região.