Agora um braço da Mitsubishi, a empresa de originação de grãos e prestação de serviços Ceagro quer negociar, ainda nesta década, quatro vezes mais soja e milho do que movimenta atualmente. O salto de 1 milhão para 4 milhões de toneladas exige mais do que investimentos, mas parece um trabalho familiar para o empresário paranaense Paulo Alberto Fachin, que criou a Ceagro em 1994 no sul do Maranhão. “Crescemos a uma média de 64% ao ano”, relata o executivo. Ele continuará no comando da “nova gigante”, que teve sua reformulação confirmada na última semana.
A Mitsubishi já havia comprado 20% da Ceagro em 2012, por cerca de R$ 90 milhões. Agora adquiriu toda a parte do grupo argentino Los Grobo na empresa e assume participação de 80%. Com poder para definir o perfil da empresa, mantém Fachin à frente do negócio, posição que exerceu também enquanto a maior parte do capital pertencia aos argentinos, que haviam entrado no negócio em 2008 e, depois de terem cedido à oferta dos japoneses, buscam novas oportunidades de investimentos no Brasil.
Ainda sem um novo nome definido, a Ceagro confirma expansão no faturamento, apesar da seca que atingiu a região da nova fronteira agrícola (Centro-Norte). A receita bruta estava na casa de R$ 900 milhões em 2011/12 e, segundo Fachin, está fechando 2012/13 (jul-jun) em R$ 1,25 bilhão. Leia entrevista exclusiva do executivo concedida por e-mail após a confirmação do negócio com os japoneses.
Como foi a negociação e qual o perfil da nova empresa? Qual a participação de cada sócio e quem assume o comando?
Paulo Alberto Fachin – A negociação foi longa e bastante meticulosa. Todos os detalhes foram pensados e analisados e acordados. A nova participação acionária ficará com 80% da Mitsubishi e 20% de Paulo Fachin. O perfil da empresa não muda, até por que foi isso que a Mitsubishi comprou.
Quando o senhor criou a Ceagro no sul do Maranhão, em 1994, tinha um plano traçado próximo do que acabou ocorrendo com o negócio?
Paulo Alberto Fachin – Quando se inicia um negócio não se tem ideia de onde ele pode chegar. Mas sempre trabalhamos buscando o crescimento e com foco em resultados e em construir uma empresa com uma boa base de governança, focada na construção de relacionamentos duradouros. Essa base proporcionou à empresa um crescimento sólido e contínuo. Crescemos a uma média de 64% [ao ano] ao longo de 18 anos.
A perspectiva de expansão do setor agro em 1995 era clara, se parecia com a atual? Quais seus principais pontos de referência hoje em dia?
Paulo Alberto Fachin – O ano de 1995 marcou uma mudança no modelo de financiamento do agronegócio. Até 1994 praticamente todo o crédito rural era provido pelos bancos em especial os bancos oficiais. A partir de 1995, devido a problemas decorrentes do alto endividamento dos produtores rurais por diversos fatores econômicos, muitos deles ficaram inadimplentes com os bancos e o setor privado passou a fornecer um volume de crédito maior aos produtores. Neste cenário que a Ceagro se inseriu e passou também a fornecer produtos como forma de financiar a produção e que levou a empresa num futuro a desenvolver o “change” [“troca” de insumos por parte da produção final] que hoje é sua principal ferramenta de financiamento ao produtor rural.
A participação do Los Grobo foi decisiva para os investimentos dos últimos anos (US$ 45 milhões). Qual será o papel da Mitsubishi na empresa?
Paulo Alberto Fachin – A Mitsubishi é uma empresa muito complementar à Ceagro, pois traz para empresa toda a expertise do mercado internacional que, aliada à experiência local da Ceagro, passa a ser um grande diferencial.
Por que o grupo argentino Los Grobo está deixando e o japonês Mitsubishi assumindo a operação no Brasil? Qual a diferença e o interesse entre os dois grupos?
Paulo Alberto Fachin – Basicamente os argentinos estão voltando seus olhos para o próprio país e a Mitsubishi, ampliando seus horizontes de captura de grãos para atendimento de sua demanda na Ásia.
Qual a soma e em que devem ser investidos os novos recursos? Isso muda o perfil da Ceagro Los Grobo para algo próximo de uma Cargill?
Paulo Alberto Fachin – Não queremos ser Cargill, embora seja uma empresa que admiramos muito. Nosso foco é outro, somos produtores e provedores de soluções ao campo com uma plataforma integrada que inclui infraestrutura de armazenagem e logística.
Quais são estrategicamente os interesses da companhia japonesa, considerando sua nova posição no grupo?
Paulo Alberto Fachin – Crescer com o modelo de negócio de sucesso da Ceagro em outras regiões do país e se consolidar cada vez mais onde já atuamos.