O Mercosul vive um momento crucial e não pode se converter num peso na esperada expansão de novos negócios para o Brasil. Convidado a participar de audiência pública para debater o Mercosul na Comissão de Relações Exteriores do Senado esta semana, o Consultor para Assuntos Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), embaixador Clodoaldo Hugueney, defendeu que é preciso abrir espaço para que a agricultura brasileira e a dos demais países que integram o bloco possam crescer e ganhar novos mercados.
O debate sobre os rumos do Mercosul contou, ainda, com a presença de representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Alto Representante-Geral do Mercosul. Os líderes da indústria defenderam a transformação do bloco em um acordo de Livre Comércio.
Desde sua criação, o Mercosul é uma união aduaneira com destaque para dois pontos básicos: o fim das barreiras comerciais entre os participantes do grupo e aplicação de uma Tarifa Externa Comum (TEC) ao comércio com terceiros países.
Entrave ao comércio – No entender do representante da CNA, o importante é o bloco não ser percebido como um entrave ao crescimento do comércio, como um acordo-âncora. Segundo o embaixador, no estágio atual em que se encontra o Mercosul, “tal convicção está cada vez maior”. Isso acontece, destaca o diplomata, em razão da falta de avanço na construção do mercado único e do desrespeito às normas acordadas.
O grande teste, no entendimento do embaixador Hugueney, se dará até o final deste ano. É que até outubro próximo espera-se a apresentação da oferta do Mercosul ou dos países em condições de faze-lo o que reiniciará a negociação com a União Europeia (UE) “Será um teste válido, ainda sem garantia cabal de que haverá entendimento entre as partes”, assinalou. O mercado europeu é muito importante para o setor agropecuário que é competitivo e ofensivo nos países do cone sul.
Livre comércio – Ao longo dos debates na audiência pública, foi discutida a alternativa de o Mercosul deixar de ser uma União Aduaneira, transformando-se numa zona de Livre Comércio. O embaixador Hugueney manifestou sua convicção de que este não é o ponto central a ser levado em conta. Na visão do representante da CNA, é perfeitamente possível, caso um sócio não tenha condições de acompanhar a negociação, tentar iniciá-la e, em seguida, dar oportunidade para que outros se juntem ao processo negociador.
O que existe são problemas estruturais e conjunturais, lembrou o diplomata. Ele deu como exemplo a grande dimensão econômica do Brasil na estrutura do bloco. E lembrou que algo semelhante aconteceu nos primórdios da União Europeia com a influência de países com economias fortes, casos da Alemanha e da França. Além disso, não é possível promover a integração com o desrespeito continuado às regras, o que retira credibilidade do Mercosul.