Depois de atingir o maior patamar de preços deste ano em outubro, o boi gordo deverá dar algum alívio para os frigoríficos a partir da segunda quinzena de novembro, reflexo da recomposição da oferta. O cenário tende a ser ainda mais favorável em dezembro, graças ao aquecimento sazonal do consumo por conta das festas de fim de ano.
Responsável por 80% dos custos totais de produção dos frigoríficos, o preço do boi começa a sinalizar queda, apesar de a oferta de gado ter continuado restrita no mês passado, conforme observa Lygia Pimentel, analista da consultoria FCStone.
Em outubro, o preço médio do boi gordo em São Paulo, principal referência de preços da pecuária brasileira, foi de R$ 111,56 por arroba, 1,9% mais que em setembro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). Foi a maior cotação média mensal deste ano.
Na primeira semana de novembro, porém, a cotação recuou. A média ficou em R$ 110,40 por arroba, 3,4% abaixo do início de outubro. A queda chama a atenção, já que normalmente na primeira semana de cada mês a pressão “altista” é grande em virtude do pagamento de salários.
Conforme Lygia Pimentel, as chuvas atípicas que atingem desde meados de agosto Mato Grosso do Sul e a porção norte de Mato Grosso contribuíram para melhorar a condição das pastagens e, como consequência, a engorda do gado no pasto. Por causa disso, os frigoríficos já devem passar a dispor de uma oferta de boi gordo mais confortável a partir da segunda quinzena deste mês.
Nas áreas de carne de frango e suína, ainda há incertezas, de acordo com Camila Ortelan, analista do Cepea. A questão é que, apesar do consumo mais aquecido de fim de ano, os preços das duas carnes já estão em patamares elevados – o frango atingiu cotação recorde em setembro – e o consumidor mostrou em outubro que resistirá a novos reajustes.
No atacado, os preços das carnes de frango e suína começaram a cair no mês passado, como reflexo da retração do consumo provocada pelos preços mais altos. Essa desvalorização, porém, ainda não chegou no varejo para beneficiar o consumidor, como ficou claro no IPCA de outubro. Conforme o IBGE informou ontem, as carnes foram as principais responsáveis pela elevação de 1,03% do grupo alimentos no IPCA do período.
“O preço do suíno vinha em forte movimento de alta há cerca de três meses porque houve redução de oferta, mas isso durou até a última semana de outubro, quando o atacado não conseguiu absorver novos aumentos de preço”, afirma.
Após atingir o maior valor do semestre em 18 de outubro, quando a carcaça do suíno no atacado da Grande São Paulo ficou em R$ 6,37 o quilo, as cotações do produto não pararam de cair – 8,4% desde então, para em média, R$ 5,84 o quilo na terça-feira desta semana.
Apesar de significativa, essa redução tende a ser estancada, especialmente em dezembro. Mais uma vez, a demanda deverá influenciar os preços da carne. “O cenário é bem incerto. Há argumentos para os dois movimentos. De um lado, o patamar de preços já ficou bem elevado. De outro, não há tanta oferta para sustentar o aumento da demanda”, diz.
Apesar do horizonte semelhante ao da carne suína, relatos de aumento dos alojamentos de
pintos de corte (os animais que serão abatidos após 45 dias de engorda) em setembro são um fator adicional de pressão baixista no mercado de carne de frango. “Além da dificuldade de venda [por conta dos preços elevados], também há a questão da oferta”, diz Camila.
No fim das contas, a oferta é que pode ditar o ritmo de preços do frango até o fim do ano, num contexto em que o consumidor mostrou seu limite. Desde setembro, quando atingiu cotação recorde, o preço médio do frango resfriado no atacado em São Paulo caiu quase 4%, segundo o Cepea.