Após a recente aquisição de terras no Paraguai, comunicada esta semana ao mercado, a BrasilAgro, uma das principais companhias agrícolas do país, planeja novos investimentos na América do Sul. “O próximo passo deve ser dado na Colômbia”, disse Alejandro Elsztain, CEO da Cresud, empresa argentina que controla a BrasilAgro.
Em encontro com investidores ontem, em São Paulo, Elsztain adiantou que a Bolívia não deve ser o foco da companhia brasileira neste momento, tendo em vista que a Cresud já atua naquele país. “Mesmo que surjam novas oportunidades no Paraguai, é a BrasilAgro que deve explorá-las”, acrescentou o executivo.
A BrasilAgro adquiriu da Cresud as terras no Paraguai. Desde 2008, a companhia argentina detinha 50% de participação na paraguaia Cresca – os 50% restantes pertenciam a Carlos Casado, empresa também de origem argentina. A Cresca desenvolvia uma fazenda de 45,57 mil hectares na província de Boquerón, na região do Chaco, oeste do país, e tinha a opção de adquirir outros 96,35 mil hectares adjacentes à fazenda original.
Por conta da dificuldade de remeter dólares ao exterior para efetivar a compra dessa área de 96,35 mil hectares, em função de restrições do governo argentino, a Cresud preferiu passar o negócio à sua controlada. “Como não queríamos perder o negócio, preferimos que a BrasilAgro o fizesse. Foi muito mais lógico do que perder a opção de compra”, disse Elsztain. Assim, a BrasilAgro ficou com 50% da Cresca e a Carlos Casado segue com a outra metade.
O processo envolveu duas transações. A BrasilAgro pagou US$ 18,5 milhões pelos 50% de participação da Cresud na Cresca e exerceu a opção de compra dos 96,35 mil hectares por US$ 16,86 milhões.
Do montante devido à Cresud, cerca de US$ 5 milhões já foram quitados e os demais US$ 13,5 milhões devem pagos ser nos próximos 12 meses, assim como o valor por conta da opção de compra. A Cresca também pagava uma taxa à Cresud pela gestão da empresa, valor que deve agora ser passado à BrasilAgro. Ficou acertado ainda que, em um ano, caso a companhia brasileira venda até 24 mil hectares de terra não desenvolvida no Paraguai, terá de pagar à Cresud um valor correspondente a 25% do preço de venda que exceda US$ 350 por hectare.
Com a conclusão do negócio, a BrasilAgro administrará 141,92 mil hectares no Paraguai, sendo 70 mil agricultáveis. Para o CEO Julio Toledo Piza, a extensão da área, o baixo nível de desenvolvimento e a chance de diversificar a atuação da empresa justificaram o investimento.
As terras no Paraguai, acrescentou Piza, também são mais férteis que as da Bahia, região típica dos investimentos da empresa. “Além disso, é necessária 1,8 tonelada por hectare para pagar o custo direto da implantação da soja na Bahia, enquanto no Paraguai esse número é de 0,8 tonelada por hectare. E o preço da soja também é mais alto lá”, comparou. Nos últimos 5 anos, 500 mil hectares foram desenvolvidos em Boquerón, a maior parte com pecuária. “Mas nossa ideia é também investir em processos agrícolas na região”.
Apesar da atenção aos países vizinhos, a BrasilAgro segue interessada em ampliar o portfólio no Brasil. Criada em 2006, a empresa adotou o modelo de negócio de sua controladora, que aposta na criação de valor pela compra de terras e transformação dessas áreas, além de geração de caixa com a operação agrícola. A companhia já adquiriu 248 mil hectares no Brasil, dos quais 24 mil foram vendidos. A taxa de retorno (imobiliária e produtiva) é superior a 20%, segundo a empresa.
Para Piza, a BrasilAgro começa a chegar a uma fase de equilíbrio, com a evolução do portfólio, venda de fazendas e os ganhos com a produção de grãos e pecuária. “No ano passado [safra 2012/13], já fizemos o pagamento de dividendos e um programa de recompra de ações”, disse.