Representando 20% do mercado de genética suína no Brasil, a Topigs é uma das três maiores organizações internacionais de melhoramento genético para suinocultura. A empresa, que já atua há 60 anos no melhoramento genético à serviço da suinocultura mundial, iniciou neste ano uma nova fase na filial nacional. A primeira mudança foi a nomeação de Joster Macedo como o novo diretor-Geral da Topigs do Brasil, que centralizou administração na cidade de Curitiba (PR). Em entrevista exclusiva, Macedo afirma que sua gestão focará no crescimento da participação da empresa no segmento de machos reprodutores no Brasil. Para isto, a Topigs está investindo mais de R$ 6 milhões numa granja em Santa Catarina e ainda almeja aumentar suas exportações para a América Latina. Acompanhe a conversa a seguir.
Suinocultura Industrial- Muitas empresas têm apresentado novos animais ao mercado, buscando aperfeiçoar a performance do produtor. Atualmente, qual o posicionamento da Topigs no mercado de genética suína?
Joster Macedo- A gente hoje é uma empresa multinacional, no Brasil desde 1995, é a primeira empresa de genética suína na Europa e com participação relevante no mercado brasileiro. Somos a número dois. Nós temos um posicionamento de “pacote”. Se formos analisar as empresas de genética suína hoje, muitas se especializam na linha macho e outras nas linhas de matrizes, fêmeas. Com características e objetivos diferentes. E nós da Topigs nos especializamos nestes pacotes. Numa junção das duas linhas, para ofertar uma solução para nosso cliente que supre toda a demanda dele por genética suína. Então é um pacote de dois produtos – matriz e reprodutor.
SI- Existem planos para crescimento da participação da empresa neste segmento? Quais são eles?
JM- Temos planos de crescimento. No mercado estamos consolidados principalmente com nossa linha fêmea. Nosso produto é bastante reconhecido. E temos aperfeiçoado o nosso produto a cada ano para o mercado brasileiro. Nossa principal matriz é a Topigs 20. Ela é bem adequada ao produtor, com balanceamento das características de reprodução – leitões desmamados por porca/ano – e muita ênfase ao lado econômico, o que inclui conversão alimentar, ganho de peso, rendimento de carcaça no frigorífico e índice de gordura. Mas o futuro nosso é a linha macho. Lançamos em 2010 um novo produto, o macho reprodutor Talent, adequado ao mercado brasileiro. Ele está se consolidando. Então este é o foco de investimento da Topigs nos próximos anos.
Estamos até montando uma granja em Santa Catarina, para desenvolver este macho naquele mercado, livre de febre aftosa, o que permite atender o mercado brasileiro e da América Latina como um todo.
SI – Porque investir apenas no macho nos próximos anos e não também na fêmea?
JM- Nós entendemos que a fêmea já está consolidada, e agora vamos investir no produto da Topigs que faltava ao mercado brasileiro, no caso, o Talent. Hoje apresentamos o produto adequado.
SI – Exportação ou mercado interno? Qual tem sido o foco de mercado da Topigs atualmente? Por quê?
JM- Trabalhamos com exportação. Primeiramente existe uma questão de Estado. O Brasil primeiro precisa criar acordos sanitários com outros países, obter certificações. Hoje exportamos para a Argentina, pois temos uma filial por lá. Mandamos uma linha pura que se multiplica no país vizinho. Deveremos iniciar exportação para a Bolívia entre setembro e outros. Temos uma visita de representantes bolivianos. E no futuro, na medida em que o Brasil passa pelas etapas de certificação sanitária, a nossa intenção é exportar para a América Latina inteira. Do Caribe para baixo.
SI – O que é mais vantajoso, o mercado interno ou as exportações?
JM- Ah, o mercado interno representa muito mais. Mais de 90% de nossa lucratividade.
SI – Com a crise que se alastrou pelo setor suinícola, muitas empresas estão cautelosas em relação a novos investimentos. Qual o posicionamento da Topigs em relação a atual crise da suinocultura? Este cenário ruim atinge de que forma a empresa?
JM- Claro que esta crise afeta nossa receita, afeta inadimplência, mas a empresa não pode parar. Em genética a empresa começa a investir hoje para vislumbrar resultados daqui cinco anos. Se eu não investir hoje, futuramente não tenho um produto moderno. O desenvolvimento demora. É claro que temos uma gestão de curto prazo, na questão de caixa e cobranças. Mas, a empresa de genética não pode parar de investir. Assim como a indústria farmacêutica e seus medicamentos, entre outros segmentos.
O que posso dizer também é que o momento atual refletiu nas vendas, que caíram. Não sei precisar uma porcentagem. O produtor protela a compra. Hoje ele direciona seu dinheiro para o milho, que alcançou patamares de preços elevadíssimos. No caso da genética, o produtor pode “esperar mais um pouquinho” para investir.
SI – A Topigs iniciou uma nova fase com sua nova direção. Quais são os planos atuais da empresa no Brasil? Foi traçada alguma estratégia especial?
JM- Com a nova gestão traçamos algumas estratégias. A primeira foi consolidar a empresa em Curitiba (PR). Ela estava espalhada em Campinas, Ponta Grossa, etc. Então vamos concentrar as atividades em Curitiba para otimizar a gestão. Junto com isso, vamos implementar novos controles, processos. A nossa equipe administrativa é nova. Então vamos focar mais eficiência e melhoria. E fora isso, há o investimento na granja em Santa Catarina para a consolidação ainda maior do Talent.
SI – Qual o valor deste investimento em Santa Catarina?
JM- O valor acima de R$ 6 milhões. Será a primeira granja do Brasil a ter uma Estação de Alimentação e Pesagem individual para reprodutores. Por exemplo, o que o mercado quer do macho? Ele quer ganho de peso, conversão alimentar e conformização de carcaça e índice de gordura, que ele passará para os filhos. Então, quanto melhor for o macho, melhor serão as características dos cevados. Como selecionamos este animal? Com base na família, que é a seleção genética clássica. Temos também a base visual e o diferencial, que é a estação de pesagem. O animal terá um brinco com um chip. O reprodutor se alimenta na estação, e a cada momento ele pega o peso inicial da ração e o peso final, identificando o animal pelo chip. Logo a estação fornecerá a curva de alimentação de cada animal desta granja. E com base na pesagem do animal, construo a curva de conversão alimentar e ganho de peso. Consigo, desta forma, selecionar os melhores animais e ter uma tabela de preços diferenciada por animal. O valor genético do animal é maior, e o cliente pode ter um animal diferenciados. É uma venda individual de cada animal.
SI – Qual a representatividade/importância da unidade brasileira perante as outras filiais?
JM- O maior mercado da Topigs é a Europa como um todo. Temos Holanda, Alemanha, Holanda, França e depois temos o mercado brasileiros. Temos um torno de 1,5 milhão de matrizes no Brasil, cerca de 20% deste mercado. Então é representativo. Não é o maior mercado, mas é fundamental para o nosso crescimento na América do Sul.
SI – A filial brasileira fornece material genética para a Europa?
JM- Não podemos. Hoje a Topigs tem núcleos de pesquisa espalhados pelo mundo para proteção e atendimento de mercado. Temos núcleos na Europa, Canadá e outros países. Mas qual o primeiro requisito para inclusão nestes núcleos? É o livre transporte de material genético. E o Brasil, por exemplo, não pode exportar sêmen para a Europa. Nós recebemos, mas não podemos enviar. Então, por mais que eu desenvolva uma linha melhor que a européia, não tenho como mandar este material.
SI – E como o Brasil poderia exportar este material?
JM- Já existem negociações no Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] para a abertura deste mercado de genética animal. Temos que aguardar. Este tipo de transação só pode ser aprovada em nível governamental. E se abrir, vale lembrar que o primeiro Estado será Santa Catarina, por conta de ser livre de aftosa sem vacinação.
SI – A questão sustentabilidade/meio ambiente é tratada de que forma pela empresa? Existem investimentos específicos planejados?
JM- A sustentabilidade está inserida no nosso negócio de genética. O que é ser sustentável? É aumentar a produtividade, é fazer mais com menos. A partir do momento que eu tenho uma fêmea que foi de 25 leitões para 30 por ano, são cinco leitões a mais. Se eu falo de um plantel, quer dizer que eu preciso de um menor número de matrizes nessa evolução. Ou seja, menor número de animais gera menor consumo de energia, de água, gerando menos dejetos, etc. Então a melhoria da sustentabilidade está ligada a melhoria genética. No caso do macho, a partir do momento que eu melhoro a conversão alimentar do macho, seus filhos consomem menos ração, gera menos dejetos, etc. Um macho reprodutor pode gerar até oito mil cevados. Imagine o impacto que isto tem na sustentabilidade em um leitão com a genética melhorada. Cada ponto de melhoria de produtividade gera um incrível ganho para a sustentabilidade.
SI – A Topigs possui uma linha de produtos bastante completa. Poderia destacar algumas linhas?
JM- Atualmente nosso carros-chefe são o macho reprodutor Talent e a matriz comercial Topigs 20. O Talent é adequado sistemas de produção intensivos com alto rendimento e qualidade de carne. Destaco que ele possui:
– Eficiência: alto GPD e excelente conversão alimentar
– Progênie robusta, uniforme e de fácil manejo
– Adequado a sistemas de alimentação à vontade
– Excelente qualidade de carne e carcaça
– Alto rendimento de lombo e pernil
Já a matriz Topigs 20 é uma fêmea consagrada no mundo e líder de mercado na Europa, e agora está no Brasil. Ela possui uma potência em prolificidade, habilidade materna e produção de carne magra. Destaco também:
– maior potencial para mais leitões
– grande número de tetos
– excelentes habilidade materna
– progênie magra e de excelentes carcaças
– hiper-prolífera
– vitalidade
Vale salientar que numa empresa de genética a essência é a pesquisa. Experimentos que focam melhorar características de desempenho e desenvolver melhores produtos.