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Economia

Brasil: um olhar para 2013

A mensagem que tenho passado para o ano próximo é de que poderemos voltar a ter na economia mundial um período de maior racionalidade e menos especulação.

Brasil: um olhar para 2013

Os analistas já começam a olhar para 2013. Afinal, os fatos econômicos mais importantes começam a ser moldados pelo menos seis meses antes de acontecerem. Neste sentido, como responsável pela construção dos cenários futuros da economia, na Quest Investimentos, terminei recentemente um trabalho sobre o estado da economia brasileira no primeiro trimestre de 2013. Gostaria de expor parte das minhas previsões para o leitor do Valor.

Para a construção de um cenário prospectivo sobre o Brasil é preciso trabalhar com algumas hipóteses em relação ao que deve acontecer nos Estados Unidos, na Zona do Euro e na China. No caso da economia americana trabalho com a continuidade da normalização lenta de seu metabolismo econômico, principalmente nos setores imobiliário, das pequenas e médias empresas e bancário. Outro ponto importante do meu cenário é a manutenção, no próximo ano, da posição conservadora do americano médio em relação a seus gastos, representada por uma taxa de poupança em linha com a de 2012, ou seja, 4% de sua renda. Finalmente, trabalho com a hipótese de uma correção suave do déficit do governo, que deve ser próximo dos 5% do PIB em fins de 2013.

Mas temos que acompanhar com cuidado um cenário alternativo, chamado nos mercados de “precipício fiscal”. Ele vai ocorrer se não houver um entendimento político entre democratas e republicanos, até fins de dezembro, para renegociar cortes de impostos e de despesas já aprovados no orçamento para 2013. Neste caso teremos uma contração fiscal de quase 4 pontos do PIB a partir do início de 2013. Esse ajuste brutal certamente jogaria a economia em recessão, mesmo que o Fed venha a usar todo seu arsenal de medidas de expansão monetária. Nesta situação, a combinação de uma recessão nos Estados Unidos e na Europa certamente levaria o mundo emergente – inclusive o Brasil – para um período de crescimento econômico frágil.
 

No caso da Europa minha posição é que os políticos conseguiram criar uma arquitetura financeira suficientemente forte para evitar o colapso do euro. Com isto será possível testar, por mais algum tempo, a terapia atual de ajuste fiscal nos países mais endividados. Os recursos mobilizados pelo BCE e pelos países europeus, por meio do FSE, devem garantir a normalização dos mercados por um período de tempo mais longo, talvez até as eleições alemãs em outubro do próximo ano. Os leilões de títulos da Itália e Irlanda, realizados na última quinta feira, mostram que os mercados entenderam estes novos tempos e que um cenário de ruptura da zona do euro é hoje muito pouco provável.

Na China estamos vivendo um momento crítico de mudanças no metabolismo da economia. O governo iniciou recentemente uma correção de rumo – há muito demandada pelos analistas – que leva a uma redução da importância das exportações no crescimento e aumenta a participação do consumo doméstico. Também no canal de investimentos fixos está ocorrendo uma mudança importante de prioridades. Os projetos agora estão voltados para desenvolvimento das zonas urbanas fora das regiões do sul da China e para a habitação popular.

Mas, toda mudança na China, dada sua dimensão gigantesca e a complexidade de seu equilíbrio social, é sempre um movimento perigoso e que precisa ser acompanhado com cuidado. Mas trabalho ainda com um cenário de estabilidade de crescimento em 2013, na faixa dos 8% ao ano.

Nessas condições externas mais favoráveis – um verdadeiro alinhamento dos astros – parece viável que a economia brasileira cresça, em 2013, acima dos 4%. A recuperação do investimento privado, em função de um ambiente externo menos perigoso, e o crescimento dos gastos das famílias próximo a 5% ao ano seriam as principais forças por trás dessa retomada. Os juros Selic devem permanecer inalterados em 7,5% e, se necessários, os ajustes na política monetária serão feitos via medidas administrativas do Banco Central e, no limite, via valorização do real. A redução dos juros é uma conquista que a presidenta Dilma dificilmente abrirá mão, mesmo em um cenário de inflação mais adverso.

Trabalhamos na Quest com uma inflação, em 2013, da ordem de 5,5%, assumindo uma correção nos preços da gasolina e o fim de isenções fiscais em algum momento do primeiro semestre. No caso do governo realizar o aumento dos combustíveis ainda este ano, a inflação em 2013 pode ficar mais próxima dos 5%. O risco de um número superior a esse está associado principalmente ao comportamento dos mercados internacionais de alimentos, em função da seca nos Estados Unidos durante o verão e que forçou uma redução dos estoques de vários produtos importantes.

A mensagem que tenho passado para o ano próximo é de que poderemos voltar a ter na economia mundial um período de maior racionalidade e menos especulação. Por maior racionalidade quero dizer que as análises e projeções é que vão refletir novamente as questões econômicas de fundo e deixar de lado cenários polares de ruptura e fim de mundo. São quase cinco anos nos quais nos afastamos desta dinâmica com a qual me acostumei a trabalhar por mais de 40 anos.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.