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Escalada dos grãos perde força em setembro

Colheita no Hemisfério Norte colabora para conter valorização dos grãos no mercado internacional em setembro.

Escalada dos grãos perde força em setembro

Mesmo em meio a intensos movimentos especulativos e grande volatilidade, os “fundamentos” voltaram a prevalecer nas principais bolsas americanas de produtos agrícolas em setembro. Essa influência foi particularmente marcante no mercado de grãos de Chicago, onde a escalada das cotações foi contida com a ajuda do avanço das colheitas desta safra 2012/13, mas também ficou evidente nas negociações de contratos de “soft commodities” em Nova York, com destaque para o peso do Brasil nas transações de açúcar e café.

Foco das preocupações globais em torno de uma eventual crise “agroinflacionária” global como em 2008 ou 2010, as cotações de soja, milho e trigo, básicos para a alimentação humana e para a produção de rações, comportaram-se em linha com a maior parte das previsões e acomodaram-se nos elevados patamares alcançados em julho e agosto. Nada capaz de empolgar criadores de frangos e suínos, que viram os custos subirem e as margens caírem nos últimos meses, mas o suficiente para tranquilizar um pouco a FAO, braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, que já descarta a possibilidade de uma nova crise.

Segundo cálculos do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega de Chicago, o milho encerra setembro (o balanço foi fechado no dia 27) com queda de 5,32% em relação a agosto, enquanto o trigo cai 0,35% na mesma comparação. A soja, colhida mais tarde que o milho nos EUA (principal celeiro de grãos do Hemisfério Norte e do mundo), ainda aguarda resultados mais consolidados sobre os prejuízos da severa estiagem que atingiu as lavouras do país, e sobe 0,49% – ajudada pela demanda firme, mesmo com preços recordes. Foi essa seca, que afetou sobretudo o milho, que levou as cotações dos três grãos às máximas de julho e agosto.

Se nas últimas semanas a entrada das colheitas americana e europeia de milho e soja no mercado serviu para acalmar os preços, o fato de os volumes serem menores que os inicialmente estimados provoca incertezas em relação ao comportamento dos preços até o fim deste ano. Novas safras de soja e milho estão agora sendo plantadas na América do Sul, mas aqui a colheita só começará a ganhar fôlego em janeiro. As primeiras projeções sinalizam produção recorde de soja na região, puxada pelo Brasil, mas no milho a tendência é de queda.

Nesse contexto, Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, prevê certa estabilidade das cotações no quarto trimestre. Já o banco holandês Rabobank projetou aumentos moderados, inferiores a 5%, para milho e trigo até o primeiro trimestre de 2013, mas queda para a soja, por conta do cenário sul-americano. Mas a publicação alemã especializada “Oil World” não descarta picos de até US$ 20 por bushel em Chicago nos próximos meses, valor quase 20% superior ao atual, em decorrência dos estoques curtos do grão.

Com as variações observadas em setembro, o Valor Data mostra que seguem elevadas as variações positivas dos grãos em Chicago na comparação com as médias de dezembro de 2011. Nesse quadro, a maior valorização é a da soja (45,71%), seguida por trigo (43,37%) e milho (25,43%). Em relação a setembro de 2011, o trio também apresenta saltos dos preços médios – de 24,76%, 25,25% e 9,14%, respectivamente. Para Greg Page, CEO global da americana Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, são patamares que encorajam os produtores a ampliar a oferta, o que normalmente confere maior equilíbrio aos mercados.

Na bolsa de Nova York, o grande destaque de setembro foi a disparada do suco de laranja, que encerra o mês com cotação média 10,18% maior que a de agosto e reduz as baixas acumuladas sobre dezembro e sobre agosto do ano passado para 26,14% e 22,64%. Mas o ganho foi diretamente influenciado pela tradicional temporada de furacões nos EUA e os danos que ela pode causar ao parque citrícola da Flórida, o segundo maior do mundo, atrás apenas do paulista. O problema é que, uma vez frustrada a expectativa de prejuízos a tendência é de desidratação, e isso pode ocorrer em breve.

Incertezas sobre a política da Costa do Marfim para o cacau colaboraram para que os preços da commodity chegassem ao fim de setembro com uma média 5,20% maior que a de agosto, o que resulta em ganho de 18,36% em relação à média de dezembro e na redução da queda sobre agosto de 2011 para 8,66%. Mas previsões de clima favorável no país africano, o maior produtor e exportador do produto, prometem pressionar as cotações no curto prazo.

No mercado de café, incertezas sobre a atual safra brasileira, que enfrentou adversidades climáticas, e o fato de boa parte dos produtores do país ter segurado as vendas à espera de preços melhores colaboram para que a média nova-iorquina em setembro seja 3,31% maior que a de agosto. No caso do açúcar, o avanço da colheita de cana no Centro-Sul do país influencia uma queda de 4,43% em igual comparação. Em ambos os casos, as variações acumuladas em relação às médias de dezembro e de setembro de 2011 são negativas (ver infográfico). O mesmo acontece no algodão, que permaneceu estável.