Depois de acusações públicas, um relatório com acusações de crimes ambientais e uma ação judicial, JBS e Greenpeace encerraram o período de seis meses de estranhamento e retornaram à mesa para dialogar.
Fruto desse reencontro, a maior empresa de proteína animal do mundo anuncia hoje um novo plano de ação com critérios mínimos para operações com gado e produtos bovinos na Amazônia para os próximos dois anos. A JBS também colocou pela primeira vez em seu site, na semana passada, relatório detalhado de monitoramento de suas operações comerciais na Amazônia, chancelado pela auditoria BDO.
O plano de ação é um aprimoramento das medidas que a JBS já vinha tentando aplicar em seus fornecedores desde 2010. Apesar de todos os esforços, como mostra o documento obtido pelo Valor, ainda há trabalho a ser feito.
Entre as metas propostas está a de que 100% dos fornecedores diretos da companhia apresentem mapas georreferenciados de suas propriedades até dezembro de 2014. A partir daí, fazendas sem o documento terão os animais rejeitados pela JBS. Hoje, a empresa mantém 22.549 fazendas no bioma Amazônia em seu cadastro de fornecedores, tendo realizado compras efetivas de 15,4 mil delas nos últimos três anos.
O georreferenciamento (mapeamento por satélite) é um ponto importante no documento de compromissos porque é visto como a única ferramenta para determinar os limites geográficos das propriedades rurais. Através dele é possível não só saber a extensão de uma fazenda, mas a área de florestas protegidas por lei dentro dela ou se há sobreposição com terras indígenas, por exemplo. E, a partir dessas informações, identificar a legalidade do animal.
Em seu relatório de monitoramento, a JBS afirma que passou a coletar ao menos “um par de coordenadas geográficas do ponto de embarque dos animais (curral) de cada fazenda” e que faz o monitoramento no raio de 10 quilômetros desse ponto para detectar possíveis desmates ou invasões de unidades de conservação ou terra indígena.
Outro ponto novo é o compromisso da empresa em conter o desmatamento associado a fornecedores indiretos, algo mais difícil de se colocar em prática. A ideia é desenvolver em conjunto com o Ministério da Agricultura um procedimento para emissão das Guias de Trânsito Animal (GTA) que considere a lista de áreas embargadas pelo Ibama. A JBS compromete-se, ainda, a publicar um relatório de monitoramento, auditado externamente, no mês de janeiro de cada ano.
“A grande diferença agora é que eles detalham o que estão fazendo, o que já conseguiram alcançar e o que falta fazer”, disse Márcio Astrini, campainer para a Amazônia do Greenpeace. “Antes a JBS dizia aos seus clientes que não comprava carne ilegal, que tinha tudo sob controle. Só que isso é impossível”. Questionada, a JBS não quis falar sobre o assunto.
Com base em dados gerados em 12 de novembro, a JBS informa que bloqueou 762 fazendas fornecedoras de gado na Amazônia – 509 por desmatamento, 171 por ocupação irregular de terra indígena e 82 fazendas por ocupação irregular de unidades de conservação. Além disso, 83 fazendas estavam bloqueadas por trabalho análogo à escravidão.
A companhia, que estima faturar R$ 70 bilhões este ano, foi alvo em junho de um documento do Greenpeace sobre sua suposta contribuição no desmatamento da Amazônia. Intitulado “JBS Reprovado – Como a maior empresa de carnes do planeta continua massacrando a Amazônia”, o documento acusava a empresa de cinco irregularidades na compra de animais de fornecedores de Mato Grosso.
Após negar todas as acusações, a JBS ganhou uma ação na Justiça contra a ONG, que foi obrigada a retirar o documento do ar e comentar publicamente o assunto. Como parte do entendimento na nova tentativa de aproximação, a JBS retirou a ação contra os ambientalistas e estes prometeram não voltar à tona com as acusações de seis meses atrás.