Os preços da soja e derivados tiveram queda expressiva no primeiro trimestre de 2010, pressionados pela colheita da América do Sul. Nos meses seguintes, os preços encontraram sustentação na demanda mundial e tiveram altas significativas, finalizando o ano nos maiores níveis em dois anos e meio, favorecendo as boas expectativas, inclusive para 2011.
Com preços em queda no início de 2010, as negociações estiveram limitadas no mercado brasileiro. Segundo pesquisadores do Cepea, produtores acreditavam que a desvalorização do Real frente ao dólar e a divulgação de dados positivos sobre o crescimento das grandes economias no último trimestre de 2009 devolvessem a sustentação aos preços de commodities agrícolas. Além disso, agentes esperavam que políticas de suporte de governos, especialmente da China, limitassem as quedas observadas em janeiro.
Até fevereiro, o ritmo de negócios no mercado brasileiro seguiu baixo na maioria das praças pesquisadas pelo Cepea. Os preços pedidos por vendedores e os propostos por compradores ficavam distantes, limitando as efetivações. No segmento de exportação, o embarque da soja que foi negociada em períodos anteriores esteve lento devido às chuvas que não permitiam que os navios zarpassem. Em Paranaguá, por exemplo, boa parte dos embarques foi cancelada em fevereiro, fazendo com que filas de caminhões se formassem na entrada do porto, especialmente na segunda quinzena daquele mês.
A recuperação das negociações ocorreu apenas de abril em diante. Inicialmente, do lado dos vendedores, houve a necessidade de caixa para pagamentos de dívidas de curto prazo, especialmente para aqueles que fizeram o sistema de troca de insumos por soja (escambo). O preço da oleaginosa nos mercados interno e externo, que já havia se recuperado, também aumentou o interesse desses agentes. Os valores se recuperaram pela maior demanda internacional e pelos menores estoques dos Estados Unidos.
Já no final do primeiro semestre, a demanda internacional começou a se elevar expressivamente, dando sustentação aos preços da soja e derivados. A China passou a ser o grande ator na sustentação dos preços, o que prevaleceu até o final do ano. Com isso, as exportações brasileiras passaram a ser crescentes. Ao mesmo tempo, no mercado interno, a demanda e os preços também seguiam firmes, ignorando as baixas observadas no mercado externo.
Em meados do ano, segundo pesquisas do Cepea, enquanto as cotações internacionais eram pressionadas pelo bom ritmo do plantio e pelo desenvolvimento satisfatório da nova safra norte-americana, os preços internos foram impulsionados pela retração vendedora, pelos momentos de alta da taxa de câmbio e pela boa demanda da soja brasileira para exportação – este cenário sustentou os preços no porto e, posteriormente, no interior do País.
Quanto aos derivados, além do bom ritmo das exportações, a demanda interna também fazia sua parte. Para o farelo, os segmentos de carnes puxavam a demanda, enquanto no óleo, os leilões realizados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) também sustentavam os valores.
Dessa forma, já em agosto, as cotações coletadas pelo Cepea se aproximavam dos maiores valores do ano. Como conseqüência, as negociações de soja passaram a ocorrer em um ambiente de maior “queda de braço” entre compradores e vendedores, tanto no mercado interno quanto no externo. No mercado internacional, as atenções de agentes estiveram voltadas para a safra norte-americana, com incertezas sobre produtividade e dados apontando demanda aquecida. No Brasil, a expectativa de agentes consultados pelo Cepea era de que os preços continuassem firmes, levando vendedores a permanecer retraídos e compradores a intensificar as aquisições. A demanda interna vinha tanto de indústrias domésticas quanto de tradings, que buscavam exportar e/ou completar cargas de navios.
No Brasil, prevaleceram as negociações antecipadas para o produto da safra 2010/11, que estavam em ritmo mais acelerado que no mesmo período de 2009. O fato é que, enquanto em 2009 os preços estavam em queda e com incertezas quanto aos valores que estariam em vigor no primeiro trimestre de 2010, a partir de agosto deste ano, os preços eram considerados bons pelos vendedores. Os valores das negociações para exportação do produto em março de 2011, período de pico de colheita no Brasil, chegaram a ficar apenas 6% menores que os praticados no mercado spot. Já as negociações no físico brasileiro para entrega imediata seguiram lentas no último trimestre, com as atenções passando a focar a safra 2010/11. Em outubro, os preços da soja atingiram os maiores patamares do ano e seguiram crescentes nos períodos seguintes.
Diante disso, entre 30 de dezembro de 2009 e 29 de dezembro de 2010, o Indicador CEPEA/ESALQ (média de cinco regiões do Paraná) da soja em grão teve elevação de 15,4%, fechando a R$ 49,04/sc de 60 kg no dia 29. A média anual, porém, ficou em R$ 40,00/sc, 14,9% inferior à média de 2009.
O Indicador ESALQ/BM&FBovespa (produto posto porto de Paranaguá) teve acréscimo de 19% no mesmo período, fechando a R$ 50,00/sc. Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, observou-se aumento de 16,8% no mercado de balcão (ao produtor) e de 17,1% no mercado de lotes (negociações entre empresas), entre 30 de dezembro de 2009 e 29 de dezembro de 2010.
Entre os derivados, para o farelo de soja, a alta acumulada no ano foi de 0,3%, na média das regiões pesquisadas pelo Cepea. Em relação ao óleo, o produto posto em São Paulo, com 12% de ICMS, teve forte valorização de 38,9% no ano.
Segundo dados da Secex, entre janeiro e dezembro de 2010, o Brasil exportou 29,07 milhões de toneladas de soja em grão, com crescimento de 2,5% em relação ao mesmo período de 2009. Para o farelo de soja, de janeiro a dezembro, foram embarcadas 12,8 milhões, quantidade 10,5% maior que a do ano anterior. Já os embarques de óleo de soja chegaram a 1,4 milhão de toneladas no acumulado de 2010, ficando 0,3% inferior ao do mesmo período de 2009.
Um fator que impressionou o mercado foram os valores FOB, devido ao forte aumento se comparado ao ano anterior. Para embarque em Mar/11, o valor FOB Paranaguá para a soja em grão ficou em US$ 31,52/sc, com alta de 30% se comparado ao valor observado no final de dezembro de 2009, para embarque em Mar/10.
Para o farelo de soja, o embarque em Mar/11 por Paranaguá fechou a US$ 412,70/t em 29 de dezembro, contra US$ 257,70/t observado no mesmo dia de 2009, com embarque em Mar/10. No óleo de soja, o embarque Mar/11 foi de US$ 1.278,46/t, bem acima dos US$ 872,59/t verificado no mesmo período de 2009, com embarque em Mar/10.