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Marinheiro (quase) de primeira viagem

Losivânio de Lorenzi é eleito pela primeira vez o presidente da ACCS. No entanto, sua atuação na entidade e sua ligação com a suinocultura catarinense é bastante antiga. Em entrevista, ele fala dos desafios desta gestão e comenta a situação do mercado de suínos e de insumos.

No dia 29 de julho de 2010, a Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) iniciou uma nova etapa de sua gestão. Losivânio de Lorenzi assumiu a presidência da entidade, consequência da saída de Wolmir de Souza, que deixou o cargo em busca de novos desafios dentro da suinocultura nacional. Era a primeira vez que Lorenzi assumia a liderança da ACCS, após sete anos na condição de vice.

Em quase 10 meses de gestão, Lorenzi deu sequência ao trabalho já iniciado por seu antecessor em Santa Catarina. Em pouco tempo, ele concluiu grandes projetos dentro da área ambiental, iniciou conversas para melhorar o sistema de integração de suínos e encaminhou um ofício ao governo do Estado buscando subsídios para a cadeia, entre outras ações importantes. Estas conquistas fizeram com que os membros da ACCS e lideranças regionais indicassem, por unanimidade, Lorenzi para a presidência da associação neste próximo biênio.

Este será o primeiro mandato de Lorenzi, como presidente eleito, frente à ACCS. No entanto, com sua vasta experiência dentro do setor suinícola e seu comprometimento com a associação de classe nestes últimos anos não o tornam um “marinheiro de primeira viagem”.

Losivânio de Lorenzi concedeu uma entrevista à Suinocultura Industrial. Ele fala dos desafios desta primeira gestão, comenta o mercado de suínos e de insumos e aborda a relação da ACCS com entidades como o Instituto Nacional da Carne Suína (INCS) e a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).

Suinocultura Industrial- Os últimos dois anos alternaram bons e maus momentos para a suinocultura catarinense em consequentemente, exigiram bastante empenho da ACCS. Que balanço o senhor faz do trabalho da associação no último biênio?

Losivânio de Lorenzi- Eu assumi a presidência em julho de 2010 com total apoio da associação. Há sete anos como vice-presidente, com a saída do Wolmir de Souza os associados confiaram na minha pessoa para liderar a ACCS neste pequeno período. Foi um trabalho de continuação. E creio que as ações feitas no último biênio foram muito fortes e bastante positivas para a suinocultura de Santa Catarina.

SI- Em sua opinião quais foram as principais ações da entidade nesse período?

LL- Acredito que o trabalho na questão ambiental pode ser mais destacado, principalmente na região oeste de SC. Trabalhamos neste últimos dois anos na elaboração de um código ambiental estadual [Termo de Ajuste de Conduta (TAC)], apesar dele estar em conflito com o código nacional, mas que resolveu o problema que tínhamos dentro de nossas propriedades referentes à poluição da natureza. Também trabalhamos a questão dos custos de produção suinícola com a Embrapa Suínos e Aves. Buscando uma maior rentabilidade do setor, fizemos alguns estudos com a entidade. Além disso, juntamente com órgãos governamentais, iniciamos as discussões sobre o projeto de lei para o sistema de integração, que deve melhorar a relação do produtor com a integradora, garantindo maiores lucros.
Analisamos também muitas questões pontuais que foram trabalhadas em momentos de crise, como a questão do milho, que todo ano trás alguns problemas de preço e abastecimento. Sempre cobramos a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], pedindo mais milho para Santa Catarina, para que o produtor tenha um custo menor dentro de sua propriedade e fazer com que ela seja lucrativa. Atuamos com frigoríficos também, junto ao governo do Estado, na busca de uma política de subsídios, como a isenção do ICMS para exportarmos nosso suíno. São várias ações. Difícil lembrar de todas devido a esta amplitude, mas fizemos um trabalho muito bom.

SI- Este será seu segundo mandato à frente da ACCS. Que motivos o levaram a disputar este novo mandato?

LL- Antes da minha posse, eu disse para a diretoria da ACCS que se eles achassem que seria melhor colocar uma outra pessoa na presidência, eu deixaria meu cargo a disposição naquele momento. O que eu deixei bem claro é que o setor não precisaria de mais uma disputa interna. A cadeia suinícola precisa de trabalho, por isso seria melhor todos chegarmos a um consenso em relação ao nome do novo presidente. De qualquer forma, eu sempre me vi como uma pessoa bastante qualificada para continuar nesta luta da ACCS. Por esta razão, disputei e fui indicado por unanimidade.

SI- Em sua opinião quais serão seus principais desafios neste novo mandato?

LL- Quero continuar meu trabalho na entidade, embalsamado no conhecimento que já adquiri dentro do próprio governo de SC, dentro da entidade e também na confiança adquirida pelos associados em minha pessoa. Todas as regionais indicaram um membro para a nova diretoria da ACCS e fiquei muito feliz pela unanimidade na escolha por mim como presidente. Eles acreditam que estou preparado, e com essa abertura – tenho a proposta de unificar as entidades, então, todos juntos vamos levantar a bandeira em prol do fortalecimento da suinocultura. Eu, a ACCS, a indústria e outras entidades unidas em busca de um único objetivo, manter o produtor na atividade, com qualidade de vida, com lucro, com produtividade e com orgulho daquilo que faz.

SI- Quais serão as principais prioridades e metas da diretoria da ACCS neste terceiro mandato?

LL- O primeiro desafio, que segue, é a questão ambiental. Nós sempre vamos ter pessoas que não sabem separar a área de produção de suínos e área da propriedade que deve ser preservada. A gente sabe que o produtor é consciente da preservação do meio ambiente, mas nós temos que fornecer a orientação correta. Trabalharemos também o tratamento de dejetos, evitando a poluição gerada pelo estrume do suíno.
Também queremos qualificar mais o suinocultor de SC. Hoje a idade média de um produtor de suínos é 57 anos. É uma idade muito alta para alguém voltar para uma escola ou ir atrás de uma formação, pegar um computador e aprender algo que ajudaria na gestão de uma granja. Com todo o respeito, muitos produtores não tem perspectivas de investimentos na propriedade e pensam mais na aposentadoria. Querermos levar conhecimento ao produtor, para que ele não tenha mais a visão de que ele é um criador de suíno e ponto. Ele é um empresário rural do ramo de alimentos que representa uma importante atividade. Santa Catarina é um Estado invejado pela sua qualidade de produção mundialmente, logo, precisa de maior qualificação, ter mais este diferencial – agora no gerenciamento – para crescer e obter mais lucros. Hoje, nosso Estado tem 21,43% da arrecadação do PIB, o primeiro PIB é da suinocultura e nós sentimos um descaso do governo.

SI- Mudanças na cobrança do PIS e Cofins, assim como a isenção do ICMS para a atividade suinícola são assuntos que interferem economicamente a suinocultura catarinense. A ACCS vai trabalhar de que forma a questão da carga tributária do produtor?

LL- Trabalharemos a questão da carga tributária. Queremos pressionar o governo, que precisa ou subsidiar o produtor do suíno ou o produtor de grão. Temos apanhado nestes últimos anos com o custo de produção. O suinocultor ganha dinheiro com o preço do grãos baixo e depois, com a alta, perde muito desta rentabilidade – e chegamos ao prejuízo. Encaminhei um ofício ao governo do Estado para que o mesmo olhe para nosso status sanitário diferenciado e pense que este status poderá ser perdido se o produtor continuar a trabalhar com prejuízos, perdendo a excelência de produção. Falamos muito em ser o “País da produção de alimentos do futuro”, mas precisamos ser o País do presente, para o produtor rural, com políticas benéficas, com subsídios para a produção de carnes ou de grãos ou de outros setores diretamente envolvidos com nossa cadeia. 

SI- A entidade tem trabalhado muito com a ABCS e o INCS nos últimos meses, correto? Como está a relação com estas entidades?

LL- Acredito que toda iniciativa ou entidade que ajudem o setor é positiva. A ACCS faz 53 anos este ano e sempre apoiou as entidades e sindicatos. Não será diferente nestes próximos anos. Todos que vêem agregar o setor será bem vindo. Juntos sempre faremos o diferencial. É claro que não é de dia pra noite que resolveremos todos os problemas, mas a união sempre faz a força. Parceria ajuda no crescimento da suinocultura de Santa Catarina.

SI- Qual a atual situação da suinocultura no Santa Catarina?

LL- Em SC estamos com dificuldade de lucro na atividade. Na integração, a venda do suíno está em R$ 2,40 e no aberto em R$ 2,50. Nossa bolsa é R$ 2,45. Segundo os dados da Embrapa Suínos e Aves, nosso custo é de R$ 2,55, logo estamos no prejuízo. Temos uma atividade pagando para trabalhar. Isso é preocupante, uma vez que não temos nem perspectiva para este custo abaixar. Há uma previsão de alta do milho. Estamos pressionando o governo para parar de exportar milho para segurar os custos no Brasil, e isto deve ser atendido. Acredito que em abril, com maior exportação, a situação comece a melhorar. Esperamos que no mercado interno, com o clima mais frio, o consumo de carne suína também aumente. Enfim, esperamos uma melhora substancial a partir de abril, mas hoje estamos com muita dificuldade.

SI- Quais são as perspectivas para a cadeia de SC em 2011?

LL- Acredito que 2011 será um ano bom. Em 2010, o ano iniciou ruim e terminou muito bem. Tenho esta mesma linha de pensamento para 2011. A partir de maio teremos lucratividade e no final do ano esqueceremos este momento atual. Há projeções que o mercado dos EUA e a própria EU vão comprar nossa carne, e isso terá um grande diferencial. Teremos um ano de bons preços dentro da atividade, eu espero. A carne suína é um produto de muita qualidade e é bastante competitiva em relação às outras carnes.