Casamento perfeito. Esta é boa definição para os interesses de Mato Grosso, Pará e da China na construção de uma ferrovia longitudinal com aproximadamente 1.800 km ligando Cuiabá a Santarém e paralela a rodovia que faz o mesmo sentido. Autoridades e empresários ligados ao assunto estão ao lado do altar para o “sim”, mas a viabilização desse projeto dependerá do arredondamento de três exigências dos mandarins.
Uma delegação mato-grossense que percorreu o trajeto entre Cuiabá e Santarém passou por Castelo de Sonhos, município de Altamira (PA). Em Castelo o presidente da Asian Trade & Investiments (ATI), Marco Polo Moreira Leite, que representa os interesses de Pequim na ferrovia conversou com o Diário. Moreira Leite observa que o sinal verde para a obra somente será dado após o Brasil assegurar três reivindicações da China: chancela oficial de Brasília no tocante às questões ambientais e agrárias e, entendimento com trades interessadas nos trilhos para o compartilhamento ou demanda no transporte em ambos os sentidos.
A China somente investirá na obra se o governo brasileiro definir – sem possibilidade de recaída – a questão ambiental. Os chineses acatarão todas as normas da legislação, mas descartam qualquer possibilidade de mudança no curso da construção. De igual modo pedem garantias para a passagem dos trilhos sem que isso se complique futuramente por questões agrárias.
A questão do compartilhamento dos trilhos é considerada resolvida pela ATI e pelo empresariado nacional. O empresário Eraí Maggi Scheffer, dono do Grupo Bom Futuro – que viajou com a delegação de Mato Grosso – responderá por aproximadamente 15% das cargas de commodities embarcadas para Santarém. Eraí disse que para viabilizar o projeto e garantir o sucesso operacional “é preciso que todos (chineses e brasileiros) aproveitem o que de melhor o outro tiver”.
O governador paraense Simão Jatene (PSDB) assegurou que o Pará criará tantas políticas de estímulo a ferrovia quanto se fizer necessário. Jatene destacou que a bancada federal de seu Estado está mobilizada em Brasília para que o projeto se viabilize o quanto antes.
Jatene recebeu o colega mato-grossense Silval Barbosa em Castelo de Sonhos. Silval defende a ferrovia e recentemente em Pequim discutiu sua construção com autoridades e investidores chineses.
A China tem interesse e pressa para construir a ferrovia. “Precisamos definir as questões ambiental e agrária para começarmos (a obra)”, diz o diretor da ATI Anselmo Leal, que também viajou a Santarém.
Leal revela que “até mesmo em condições adversas” a China constrói quatro quilômetros de ferrovia por dia. No Brasil o desempenho não vai além de meio quilômetro diariamente. Ou seja, se Brasília der o sinal verde, em aproximadamente um ano e meio o trem desembarcará produtos agrícolas de Mato Grosso no porto em Santarém.
Cuiabá – Inicialmente os chineses demonstraram interesse apenas no trecho entre Lucas do Rio Verde a Santarém, porque imaginavam uma ferrovia exclusiva para o transporte de grãos. Silval os convenceu que o melhor trajeto inclui Cuiabá, que é centro consumidor de produtos industrializados na Zona Franca de Manaus e que se transformaria num grande polo de redistribuição de cargas oriundas de São Paulo e Manaus, já que Santarém fica à margem da Hidrovia do Amazonas.
Os chineses e seus executivos brasileiros não falam em custos prováveis para a ferrovia e nem mesmo citam o nome do consórcio que será criado para sua construção. Tudo que dizem é que estão dispostos a construir aquela que seria a maior obra ferroviária no mundo no começo desta década. Resta saber se Brasília entenderá a importância da Ferrovia Cuiabá-Santarém para a economia nacional.