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Suínos

Suinocultura atual na visão de Folador

Em entrevista, o presidente da Acsurs faz uma análise do setor suinícola gaúcho e nacional. Folador também aborda a produção independente e integrada, entre outros temas importantes.

A suinocultura gaúcha atravessa um momento “bipolar”. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), o Rio Grande do Sul liderou o ranking das exportações brasileiras de carne suína de janeiro a agosto deste ano. No entanto, para o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do RS (Acsurs), a rentabilidade do produtor ainda é muito baixa.

Em entrevista divulgada pela assessoria da entidade, Folador faz uma análise do atual sistema de produção de suínos do Estado, independente e integrado, fala das fusões agroindustriais, e também faz projeções para o cenário da suinocultura gaúcha para os próximos anos. O presidente da Acsurs também aborda a questão da rastreabilidade dos animais e questões ambientais. Leia a íntegra da entrevista.

Como a Acsurs analisa o atual sistema de produção de suínos no RS, considerando a produção independente e a integração?

Folador- A produção de suínos no RS, a partir de meados da década de 80, iniciou um processo de integração, com o objetivo de padronizar e melhorar a produção de suínos, tanto na oferta de animais para a agroindústria, buscando uma constância de entrega de suínos, quanto para melhorar os padrões técnicos, índices de eficiência, produção, produtividade, visando qualificar o suinocultor cada vez mais.

A partir da década de 90, o sistema de integração se intensificou ainda mais e, posteriormente, após o ano 2000, o sistema de integração tomou um caminho sem volta, pois, além da integração, o suinocultor passou a ser verticalizado, atuando por setores. A partir daí, o produtor deixou de ser dono de seu plantel e tornou-se um prestador de serviço na produção suinícola.

Isto trouxe vantagens como o aumento de produtividade, uma oferta constante para a agroindústria, uma padronização dos animais produzidos. Porém, em relação à rentabilidade, o suinocultor teve muitas perdas, pois no sistema de mercado livre, ou seja, o produtor independente, tendo sua própria produção, sendo dono de seu plantel e podendo adquirir os insumos para sua produção, de acordo com sua demanda específica, tinha um capital muito maior em seu poder.

Hoje, como prestador de serviço na produção de suínos, ele não tem capital nenhum, a não ser sua propriedade e suas instalações. Os suínos não são mais seus. Houve uma grande redução no capital dos produtores.

É um sistema que não tem mais volta, pois está consolidado, e faz-se necessário buscar dentro da questão da integração a rentabilidade, a remuneração do produtor, para que atenda às exigências econômicas e financeiras das granjas e das necessidades que o produtor tem.

Quais os percentuais aproximados de suínos terminados no sistema de parceria e na produção independente no RS?

Folador- Hoje, não existem mais suinocultores independentes. Eles tornaram-se inter-independentes, tendo em vista que não possuem um contrato de integração com as agroindústrias, mas definem sua produção de acordo com uma demanda específica pré-acordada com determinada empresa.
     
Atualmente, em torno de 70 a 80% dos suinocultores gaúchos fazem parte do sistema de integração, que possuem contrato formalizado, e, em torno de 20% dos produtores atuam no mercado independente, sem contrato formalizado.

Como a Acsurs analisa a fusão ou as aquisições que estão ocorrendo entre as agroindústrias no setor de carnes, especialmente as ligas à suinocultura? Que consequências positivas ou negativas poderão ocorrer?

Folador- Na avaliação da Acsurs, a grande concentração das empresas é algo negativo para a concorrência, para os produtores, fornecedores de insumos e consumidores, pois nós concentramos a produção na mão de poucos, no caso da agroindústria.

Tanto as empresas que realizam fusões quanto as agroindústrias, têm um discurso de que vão reduzir custos e, com isso, vão oferecer seus produtos com custos menores ao consumidor. Na prática, isto não tem ocorrido.
     
Logo, observamos que esta é uma situação definida, que não haverá mudanças. É uma tendência que está ocorrendo em vários segmentos. A concentração e o monopólio de empresas não é algo benéfico para ninguém, a não ser para quem os cria.
     
Para os suinocultores, isto acaba acarretando no aumento do nível de exigência da produção, da produtividade, na qualificação que tem que ser cada vez melhor, investindo cada vez mais e, em contrapartida, a remuneração que o produtor recebe não é equivalente às exigências de produção. Estas concentrações de empresas e fusões causam mais dificuldades para os suinocultores.

A questão da rastreabilidade da carne suína representa alguma dificuldade para o setor? Vai afetar os produtores integrados? Os independentes?

Folador- Não encaramos a rastreabilidade como uma dificuldade, pois é uma necessidade, tendo em vista a evolução da produção, e, principalmente, tendo em vista que os consumidores atualmente estão muito exigentes, buscando também uma segurança alimentar, e, além disto, querendo saber de onde vêm os produtos que ele consome especialmente a carne.
     
O único ponto negativo neste contexto é nas consequências econômicas para os suinocultores, pois lhe é exigido que invista cada vez mais em melhorias como biossegurança, cercamento de granjas, enfim, fazer tudo aquilo que é necessário para garantir a rastreabilidade dentro dos padrões exigidos.
     
Porém, estes investimentos não são incluídos dentro dos custos de produção dos suínos. Ele necessita que estes investimentos tenham um retorno econômi-financeiro e não simplesmente fazê-los para atender exigências, sem retornos financeiros. Ele precisa deste retorno.

Considerando-se que algumas indústrias do setor de carnes estão migrando para o Centro Oeste do país pelas disponibilidades de insumos para a alimentação animal, este fator trás algumas consequências para a suinocultura gaúcha?

Folador- Acredita-se que a consequência deste movimento é o achatamento dos preços pagos aos produtores aqui no Estado. Pois, como no Centro Oeste tem-se a disponibilidade de grãos a um custo menor, isto acaba dando uma vantagem para os produtores de carne daquela região. Acaba competindo diretamente com os custos que temos no RS.
     
Quando o mercado não paga o preço necessário, ou seja, enfrenta uma crise, os elos da cadeia acabam “empurrando” o ônus desta competitividade de mercado para o produtor, que acaba recendo menos.
     

A produção suinícola do Rio Grande do Sul vai seguir produzindo e não vai migrar para o Centro Oeste. Temos em nosso Estado um complexo industrial instalado e consolidado, temos os produtores, mão-de-obra abundante para seguir com a produção de suínos e aves.
     
Já no Centro Oeste tem-se as vantagens do clima, terreno, espaço, do custo de produção menor. Porém, não tem a disponibilidade da mão-de-obra que temos no RS. Pode-se automatizar até certo ponto, tanto na indústria quanto na produção, pode-se utilizar a automação. No entanto, há certas situações e demandas que não substituem de forma alguma a mão-de-obra, que temos aqui.
     
Hoje, a região Centro Oeste não ameaça a produção que temos no Rio Grande do Sul.

Em termos de capacidade de produção e industrialização no setor, o RS tem como expandir?

Folador- Avaliando as atuais instalações das granjas e das indústrias, observa-se que as indústrias existentes estão com sua capacidade de absorção da produção suinícola esgotada, tendo em vista os atuais níveis de produção no Estado.
     
Haveria capacidade de expansão, desde que fossem construídas novas plantas industriais no Rio Grande do Sul. Há espaço para ampliar a produção de suínos em nosso Estado.

Quais são as potencialidades da suinocultura gaúcha (pontos fortes) na visão da Acsurs (incluindo os fatores que tornam a carne suína do RS mais competitiva no mercado)?

Folador- As potencialidades que temos são a produção, a mão-de-obra qualificada, a qualificação de nossa produção, tendo em vista seus parâmetros técnicos e sanitários excelentes. São os principais pontos positivos que fazem o diferencial da suinocultura gaúcha.
     
O produtor tem uma dedicação e um empenho muito grande na produção, fazendo tudo aquilo que é necessário para atender as normas, tanto sanitárias quanto ambientais. Estes fatores fazem da carne suína muito competitiva, comparando com outros Estados. Não perdemos em nenhum aspecto quando nossa produção é comparada com outros Estados. O que se produz em Santa Catarina, no Paraná, no Centro Oeste, se produz aqui também.
     
A questão da logística, por estarmos um pouco distantes dos grandes centros consumidores, como São Paulo, Rio de Janeiro e a região nordeste, talvez, seja um dos pontos que nos traga certa desvantagem com outros Estados produtores, que se encontram mais próximos destes mercados.

Quais as principais dificuldades enfrentadas pela suinocultura gaúcha?

Folador- A principal dificuldade enfrentada pelos suinocultores gaúchos é a rentabilidade muito baixa, tendo em vista o pouco retorno financeiro que tem na atividade, em função dos investimentos que ele precisa fazer para manter-se na atividade. O suinocultor precisa ser mais remunerado. É o principal ponto de estrangulamento do produtor, pois ele está envelhecendo, sua idade média é alta, seus filhos não estão ficando na atividade, pois a rentabilidade é muito pequena. O que lhe é imposto e exigido é muito maior do que ele recebe.
     
Hoje, para ser suinocultor, é preciso trabalhar 365 dias por ano. Não se tem Natal, Páscoa, 1º dia do ano, que não tenha de estar dentro da granja alimentando e cuidando dos suínos, fazendo o que é necessário na produção. Esta dedicação e trabalho precisa ser mais bem remunerada.

Qual é o cenário futuro da suinocultura no RS na visão da ACSURS, considerando as questões de número de produtores no setor e de produção? Qual será o “tamanho das granjas ou dos terminadores”?

Folador- O que se percebe é que o número de produtores está diminuindo e o número de suínos nas propriedades está aumentando. As empresas integradoras fazem isto visando à redução de seus custos de transportes, assistência técnica, entre outros.
    
Porém, sabemos que no RS 90% da suinocultura é feita em pequenas propriedades. Além disto, temos um limitador ambiental, pois há leis ambientais estaduais e federais que determina um número máximo de animais por área fixa, tendo em vista os dejetos produzidos pelos suínos. Hoje, em relação aos produtores terminadores, não se pode colocar em uma propriedade com 5 ou 10 hectares, dois ou três mil animais.
     
O porte médio dos terminadores deve ter algum ajuste à maior nos próximos anos. A tendência é que deva ocorrer uma queda no número de produtos no Estado principalmente em virtude de questões ambientais, em função da produção dos dejetos.

As mudanças no código florestal poderão beneficiar o setor? De que maneira?

Folador- O código florestal, caso realmente seja trabalhado de forma coerente, como já foi exposto na Câmara Federal, pensando realmente na sustentabilidade ambiental, acredita-se que ele venha ao encontro da necessidade de nossos suinocultores.
     
É necessário que seja consolidado o que está em vigor atualmente, pois não podemos ignorar o que já existe, ainda que adequações à legislação vigente sejam necessárias. Porém, não pode haver radicalizações por parte dos ambientalistas prejudicando os produtores rurais, forçando-os a se retirarem para as cidades, influenciando o êxodo rural.

De que maneiras o governo federal e estadual poderiam contribuir para melhorar a situação da suinocultura no RS?

Folador- O principal ponto que o governo poderia contribuir para melhorar a situação da suinocultura no Estado é em relação à carga tributária, que atualmente é muito alta, principalmente dos produtos derivados de suínos. Isto seria um ponto que poderia beneficiar a cadeia suinícola como um todo, ainda que esse benefício não chegue ao bolso do produtor.
     
Outro ponto á nível de Governo Federal que poderia ser trabalhado para beneficiar os produtores, é a questão da regulação dos contratos estabelecidos entre os produtores e às indústrias, buscando uma maior equidade entre as partes. Atualmente, os contratos são unilaterais, nos quais os produtores têm 90% de deveres e 10% de direitos. Faz-se necessária uma lei para regulamentar esta atividade, que estás sendo buscada de forma pacífica, com muito diálogo, sem conflitos ou atritos.