Novo levantamento do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) sobre oferta e demanda de grãos naquele país e no mundo, divulgado na sexta-feira, confirmou a tendência que o próprio órgão e analistas do setor têm sinalizado nos últimos meses: nesta safra 2010/11, que está em desenvolvimento no Hemisfério Norte e que no Hemisfério Sul será plantada a partir de setembro, a relação entre estoques e consumo de milho, soja e trigo será menor do que no ciclo anterior.
É um cenário que teoricamente oferece suporte às cotações internacionais do trio, mas, em tempos de La Niña, que costuma reduzir o regime de chuvas no sul da América do Sul, é difícil que as projeções atuais passem incólumes até o fim das colheitas. Em princípio, o fenômeno ameaça a oferta, e se seus efeitos forem severos a relação entre estoques e demanda poderá recuar mais, o que pode causar altas inesperadas.
Os dados do USDA mostram que o quadro mais “apertado” é o do milho. Se tudo acontecer como o órgão espera, os estoques globais do grão representarão 16,3% da demanda no fim da temporada, ante 17% em 2009/10 e 18,9% em 2008/09. O USDA passou a estimar estoques finais de 135,56 milhões de toneladas, 2,6% menos que o previsto em agosto. A alteração, somada a ajustes na produção e no consumo nos EUA – que poderão fechar o ciclo com a mais baixa relação entre estoque e consumo em 15 anos -, impulsionou o produto na bolsa de Chicago. Os papéis para dezembro fecharam a US$ 4,7825 por bushel, alta de 7,5 cents.
No mercado de soja, os novos números do USDA resultaram em uma relação entre estoques finais e consumo total mundial de 25,2% em 2010/11, abaixo de 2009/10 (26,5%) mas acima de 2008/09 (19,9%). Mas, apesar do forte crescimento projetado para as importações chinesas , prevaleceu em Chicago a correção para cima nas estimativas para as produções americana e global, o que derrubou os preços. Os papéis para novembro caíram 15 centavos, para US$ 10,31, piso em três semanas.
Com os problemas climáticos que derrubaram as produções na Rússia e em outros países europeus, a relação global entre estoques finais e demanda de trigo deverá recuar para 26,9% em 2010/11, ante 30,2% em 2009/10 e 25,7% em 2008/09. Mas, como a situação era pior no relatório do USDA de agosto, na sexta-feira as cotações caíram em Chicago. Dezembro fechou a US$ 7,3675 por bushel, baixa de 1,25 centavo. (Com Dow Jones Newswires e Bloomberg)
Herbicida concorrente pode ser solução para resistência ao glifosato
Soja resistente ao Roundup e ao Dicamba já está sendo avaliada por órgãos regulatórios dos EUA .
Monsanto avança com pesquisas para encarar fim da patente da soja Roundup Ready, prevista para ocorrer em 2014Quase 15 anos depois de a primeira semente transgênica chegar ao mercado global, o outro lado da moeda começa a aparecer nos países pioneiros na adoção da biotecnologia. Estados Unidos e Argentina já apresentam uma série de casos em que as ervas daninhas passaram a apresentar, assim como a semente de soja geneticamente modificada, tolerância ao glifosato.
No Brasil, casos de resistência ao herbicida mais utilizado no mundo já foram identificados no Rio Grande do Sul. Por enquanto, o problema segue restrito às lavouras gaúchas, mas diante da rápida adoção da tecnologia transgênica no país, que já representa 75% da soja plantada, a expectativa é que pragas resistentes ao glifosato passem a ser encontradas em outras regiões.
“A tecnologia Roundup Ready foi importante, mas as plantas daninhas criaram resistência. A solução para isso será criar sementes resistentes a vários herbicidas, como estamos fazendo com o Dicamba”, afirma Robert Fraley, vice-presidente executivo mundial da Monsanto e chefe do departamento de tecnologia da empresa, admitindo que, mesmo que indiretamente, a tecnologia dos transgênicos tem suas limitações. Dicamba é o nome comercial de um herbicida da Basf que tem como princípio ativo o glufosinato de amônio, produto concorrente ao glifosato – e, portanto, ao Roundup da Monsanto.
Nesse cenário, a multinacional americana prepara-se para lançar um pacote tecnológico para uma soja que seja resistente aos dois tipos de herbicida – Dicamba e Roundup. “Dessa forma, o produtor pode utilizar qualquer um dos herbicidas, controlando assim as plantas indesejadas”, afirma Fraley.
Na prática, o agricultor poderá utilizar qualquer um dos dois produtos para aplicar sobre a soja, sem prejudicá-la. Com isso, a erva que for resistente ao glifosato será destruída pelo glufosinato e vice-versa. “A decisão de escolha será do agricultor”, afirma.
A solução para os problemas de resistência ao glifosato ainda levará alguns anos para chegar ao mercado. A tecnologia está atravessando o processo regulatório nos Estados Unidos e tende a ser liberada próxima ao prazo de expiração da patente soja Roundup Ready, em 2014.
O fim da patente não é encarado pela empresa como algo preocupante. Além da soja que “corrige” um problema gerado pela sua primeira tecnologia, a Monsanto tem na manga uma série de lançamentos – e, consequentemente, de novas patentes -, para disputar o crescente mercado de sementes de soja geneticamente modificadas.
No aspecto agronômico, a multinacional desenvolveu especificamente para o Brasil uma variedade de soja que será resistente ao glifosato e também às lagartas. O produto já foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e deverá chegar ao mercado em 2012.
“Para o Brasil, vemos possibilidades também na área de melhor aproveitamento de nutrientes, além de variedades que permitam ganhos de produtividade”, afirma Ernie Sanders, diretor de projetos para a América Latina da Monsanto. “Sem contar pesquisas com nematóides, ferrugem e seca que estão sendo feitas mas que são para longo prazo”, afirma o executivo.
Outros dois setores que estão no foco da empresa no curto prazo são os de nutrição de alimentos e ganhos de produtividade. Nesse sentido, em dois anos chega ao mercado americano uma soja com teor de ômega 3 para ser utilizado pela indústria de alimentos, além de variedades que possuem até cinco grãos por vagem, elevando a produtividade das lavouras.