Na década de 1960/70 um jogador de futebol corria durante uma partida no máximo 6, 7 km. Hoje, alguns atletas chegam a passar dos 18 km nos mesmos 90 minutos, varrendo vários pontos do campo. Quando o Brasil foi Tri Mundial, ponteiro era ponteiro, lateral era lateral e goleiro que fosse cabecear bola na área adversária era carimbado de maluco. Pelé foi Rei em época diferente de hoje. Havia um “planejamento” dentro de campo que geralmente funcionava, desde que as funções fossem obedecidas à risca. O técnico pensava, a maioria dos jogadores executava, salvo exceções “garrinchais”. Mas a poesia ficou de lado e até times desconhecidos passaram a competir de igual para igual com os eternos favoritos. Por quê? Porque hoje zagueiro tem que defender e atacar, e centro-avante tirar de cabeça o provável gol adversário embaixo de sua trave, lá atrás.
Nas organizações empresarias as “funções especializadas” continuam, mas a demanda por visões laterais e compromissos profissionais fora do que você estava “preparado”, aumentam generosamente, exigindo competências multidirecionais. Mais estresse positivo e mais rapidez nas decisões dentro das empresas precisam ser vistos como ativos úteis. Isso não significa enterrar o plano de vôo, mas ter a sensatez de decidir logo um ajuste de rumo. Jack Welch (GE) dizia que a estratégia é um organismo vivo, que respira o tempo todo. Para o respeitado consultor estratégia é um jogo rápido, cheio de vida. Completava, provocativamente: “Na hora da estratégia, pense menos, faça mais”.
Kaká e Robinho entendem bem de criatividade, desde que o resultado seja o gol, mesmo que a espiritualidade do primeiro mereça um ´cartãozinho vermelho´ de vez em quando. Pergunta-se: teria condições o comprometido gaúcho Dunga, de orientar o que atletas desse porte deveriam fazer diante de determinadas situações? Jamais, pois as circunstâncias do momento é que obrigarão a inventar uma jogada, um novo posicionamento, quem sabe até então não experimentados nem nos treinos. Luis Fabiano que o diga, meteu dois chapéus em cinco metros, em dois zagueiros grandalhões. Será que Fabiano havia pré-meditado aquilo? Pelé também fez gol semelhante numa Copa, com uma diferença: executou apenas 50% do que nosso centro-avante fez contra o time africano.
Na gestão moderna parece-me que, uma vez preservado o DNA central, os objetivos macro, uma vez respeitada a diretriz estratégica-mãe, no mais é optar pela confiança e incendiar as equipes, torcendo que a taça seja levantada. Nesse processo fica para trás o engessamento e a lentidão pois o cliente não espera por solução “no outro dia”, uma vez que a obtém de imediato, seja pelo centro-médio, pelo massagista ou pelo presidente do clube. O resultado normalmente é um ambiente corporativo oxigenado, dinâmico, comprometido e mais alegre. E, via de regra, com lucros maiores.
Pensemos nisso.
– Julmir Cecon, assessor de imprensa da Cooperalfa, MBA em Gestão, Especialista em Comunicação Social.