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Grãos em baixa?

Rabobank prevê pressão sobre cotações dos grãos no Brasil, pelo lado dos chamados fundamentos dos respectivos mercados.

Grãos em baixa?

Relativamente pouco afetadas pelo aprofundamento da crise financeira europeia nos últimos meses, as cotações internacionais de soja e milho, os grãos mais cultivados no País, têm pela frente um período que promete ser marcado por maior pressão “baixista” pelo lado dos chamados fundamentos dos respectivos mercados.

Em estudo concluído recentemente, o Rabobank, banco holandês com forte atuação no setor de agronegócios, inclusive no Brasil, confirma a tendência de boas ofertas globais de ambos os produtos e de relações entre produção e estoques mundiais confortáveis, combinação que normalmente tira sustentação dos preços – ainda que estes atualmente dependam, em grande medida, de movimentos financeiros derivados das turbulências financeiras.

No caso da soja, o Rabobank projeta que a produção global deverá alcançar 253 milhões de toneladas na safra 2010/11 – em fase de plantio no Hemisfério Norte -, apenas 4 milhões abaixo do recorde de 2009/10 (257 milhões). No cenário traçado pela instituição, a demanda deverá crescer 4,1% na comparação, para 245,3 milhões de toneladas, mas ainda abaixo da produção. Assim sendo, os estoques mundiais tendem a recuar.

“Para muitos, os preços da soja até poderiam ter caído mais com as turbulências financeiras e a valorização do dólar, mas isso não aconteceu. A demanda da China permaneceu firme e os Estados Unidos exportaram mais, o que ajudou a ‘segurar’ as cotações”, diz Luciano van den Broek, analista do Rabobank no Brasil. Segundo o Valor Data, na bolsa de Chicago os contratos futuros de segunda posição de entrega do grão acumulam baixa de 12,2% neste ano.

A equação composta pelos fatores “fundamentos” e “dólar” produz resultados semelhantes no mercado de milho em Chicago. O Rabobank prevê que oferta e demanda mundiais deverão continuar “balanceadas” em 2010/11 em torno de 825 milhões de toneladas. Mas, como na soja, a projeção não tem como precisar o fator clima, e é para ele que as atenções estão voltadas no momento no Hemisfério Norte e estarão concentradas no fim do ano no Hemisfério Sul, onde o plantio terá início no terceiro trimestre. Em Chicago, a segunda posição do milho acumulada queda de 12% em 2009.

Sempre levando-se em consideração as incertezas climáticas, para o algodão, que registrou flagrante recuperação das cotações nos últimos meses, o horizonte é de recomposição da oferta mundial, maior equilíbrio entre produção e estoques e, portanto, preços mais baixos – isso sem contar a forte influência financeira, que pode “engolir” os fundamentos. Na bolsa de Nova York, os futuros de segunda posição do algodão apresentam alta de 1,2% no ano.

O estudo do Rabobank também atenta para a mudança no mercado de açúcar, que agora encara a possibilidade de a oferta superar a demanda em 2010/11, estima redução de 1 bilhão de litros nas exportações de etanol, destaca os possíveis impactos da entrada da safra brasileira de café nesse mercado e projeta preços firmes do boi gordo.