Redação (12/03/2009) – Num projeto que também envolve a produção de energia elétrica a partir dos dejetos das aves da sua unidade industrial localizada na vizinha Matelândia, a Cooperativa Agroindustrial Lar, de Medianeira, oeste do Paraná está se habilitando a uma receita anual de pelo menos 120 mil euros no mercado de créditos de carbono. A cooperativa investiu R$ 4 milhões no projeto, que rendará 20 mil créditos de carbono ao ano, ou seja, deixarão de serem jogadas na atmosfera 20 mil toneladas anuais de CO2. Esse comércio foi instituído pelo Protocolo de Kyoto e permite a países desenvolvidos, com metas apertadas de redução de emissões de gases estufa, a compra de créditos de países em desenvolvimento, através do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
O projeto da Lar, inédito no Brasil, foi desenvolvido pela cooperativa em conjunto com a empresa espanhola ZeroEmissions, do grupo Abengoa. Com apoio da Itaipu Binacional, a cooperativa também passará a produzir energia elétrica a partir do dejeto de aves da sua unidade industrial de Matelândia.
Pelo projeto, numa fase inicial, os efluentes da unidade industrial da Lar passam por um conjunto de peneiras e por um sistema de flotação. A matéria orgânica retirada nesses passos é utilizada como matéria-prima para ração. O restante do material líquido vai para os biodigestores, onde produzem o gás metano usado para a produção de energia. Os efluentes prosseguem para um conjunto de lagoas onde a água é retirada para reuso industrial e para irrigação. "Acreditamos que esse tipo de iniciativa vai crescer cada vez mais no Brasil por causa da preocupação ambiental", disse Irineu Rodrigues, presidente da Lar.
A cooperativa é um exemplo do sistema de produção que predomina na região Oeste do Paraná, onde milhares de produtores, muitos deles integrados em cooperativas, dedicam-se a um conjunto de atividades que vai desde a produção de soja e milho, que servem como ração, à suinocultura, à avicultura e à bovinocultura de leite. O abate diário de aves na região chega a 1 milhão de animais por dia.
No caso da Cooperativa Lar, os créditos foram calculados pela ZeroEmissions e levam em conta três fatores: o tratamento aeróbico do gás metano – 21 vezes mais poluente que o gás carbônico e que passa a ser capturado das lagoas de tratamento de efluentes para gerar energia – a cobertura das lagoas de tratamento e a geração própria de energia limpa, a partir de fonte renovável. Ao deixar de consumir energia da rede pública, a cooperativa também diminui emissões, porque parte da energia disponibilizada pelo sistema elétrico brasileiro é produzida por termelétricas a gás e a carvão.