Redação (12/03/2009)- O Brasil, terceiro maior importador mundial de fertilizantes, voltou às compras. Estimuladas pela demanda dos produtores de milho safrinha, as indústrias importaram matéria-prima para produzir o adubo.
Aos únicos dois navios, carregados com sulfato de amônio e uréia que desembarcaram no País em janeiro, se somam pelo menos outras cinco embarcações que já chegaram ao Porto de Paranaguá (PR) a partir da segunda quinzena de fevereiro. E outros sete navios devem atracar em Paranaguá este mês carregando cerca de 142 mil toneladas de mineral fertilizante.
A maior parte do carregamento é de sulfato de amônio, componente usado na fabricação do adubo que alimenta as lavouras de milho. "As indústrias estão comprando apenas o necessário e substituindo as importações pelo produto nacional", informa Ralf Kasemodel, diretor da Câmara Setorial de Fertilizantes do Porto de Paranaguá.
A partir de agora, as matérias-primas de fertilizantes que chegam a Paranaguá passam pelo Terminal Público de fertilizantes, uma espécie de "pulmão" que bombeia o adubo para os armazéns das empresas importadoras. O Porto de Paranaguá é o maior corredor de entrada de fertilizantes no Brasil. Em 2008, foram importados 6,3 milhões de toneladas do produto, o maior volume registrado entre todos os portos brasileiros.
Os estoques de fertilizantes no Brasil, que atingiram níveis altíssimos no final do ano passado, já estão em patamares mais baixos após um movimento de queima de estoques por parte das empresas de insumos, que reduziram os preços, incentivando o uso do produto na safrinha de milho do Centro-Sul brasileiro. "Ao contrário do final do ano passado, está todo mundo trabalhando da mão para a boca", afirmou Fábio Calegare, gerente para o Mato Grosso do Sul da companhia de fertilizantes Heringer. As empresas estão evitando fazer estoques, compram apenas para atender a demanda no curto prazo.
No segundo semestre de 2008, antes da crise financeira afetar os preços das commodities e acentuar o problema da oferta de crédito, as empresas de fertilizantes do Brasil trabalhavam com a expectativa de vendas recordes e fizeram elevadas reservas. Com o recuo da demanda, sobrou adubo nos armazéns e muitas tiveram de fazer verdadeiras liquidações, com o preço de alguns produtos caindo mais da metade.
Segundo o gerente da Heringer, empresa nacional de capital aberto que figura entre as três maiores do Brasil, atualmente o setor está mais cauteloso com suas compras, "pois o risco é grande, as companhias não têm caixa para fazer posições mais longas, e também não tem crédito no mercado", afirma.
Com a queda no preço do adubo, os agricultores investiram na safrinha, e os estoques estimados entre sete e oito milhões de toneladas, aproximadamente 30% do consumo anual do Brasil, já estão bem mais reduzidos, graças ao ritmo das importações do País, que depende essencialmente do produto comprado no exterior.
"Acredito que os preços dos fertilizantes chegaram aos níveis mais baixos", destacou Calegare comentando o efeito das vendas para redução dos estoques, lembrando ainda que o consumo estimado no primeiro trimestre foi de quatro milhões de toneladas.
A demanda em fevereiro, após meses de baixa procura, foi bem alta, disse ele, referindo-se aos produtores que buscaram o fertilizante para plantar o milho. O grande plantio de milho verificado em Mato Grosso do Sul e Paraná, dois dos maiores produtores de safrinha, confirmam que os volumes disponíveis de fertilizantes foram reduzidos.
As empresas, menos assustadas com os volumes estocados, começam a segurar o preço, embora algumas ainda precisem de mais vendas a valores baixos para fazer caixa. O movimento de antecipação de compras de fertilizantes para a próxima safra já começou, ainda que tímido, por conta das incertezas nos mercados.