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Estudo da Embrapa aponta trunfo ambiental do etanol

Objetivo é provar que o combustível pode reduzir de forma significativa as emissões de gases causadores do efeito estufa.

Redação (31/03/2009)- As conversas dos dirigentes dos 20 países mais influentes do mundo, na próxima quinta-feira, em Londres, serão embaladas por uma pesquisa inédita da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva levará na bagagem para os encontros do G-20 um estudo que mostra como a produção de etanol pode reduzir de forma significativa as emissões de gases causadores do efeito estufa – sem dúvida, um tema caríssimo ao colega americano Barack Obama e a quase todos os mandatários dos países industrializados.

Preparado sob encomenda do Palácio do Planalto, o levantamento da unidade Embrapa Agrobiologia, de Seropédica (RJ), aponta que, mesmo levando-se em consideração todo o processo de produção da cana-de-açúcar, a fabricação do álcool, o transporte, a distribuição e a comercialização do combustível, o etanol brasileiro reduz em 73% a emissão total de dióxido de carbono (CO2), do óxido nitroso presente no nitrogênio de fertilizantes, e do gás metano (liberado pela queima da palha da cana e na vinhaça) na atmosfera.

O estudo da Embrapa sustenta que, se toda a frota de veículos brasileiros movidos a gasolina passasse a queimar etanol em seus motores, haveria uma economia de 53,3 milhões de toneladas ao longo de um ano. Isso equivale a 14% das emissões totais de CO2 pela França – ou 25% do consumo dos franceses em energia de transportes (diesel e gasolina), de acordo com os pesquisadores da Embrapa.

Em valores médios, a redução pode ser constatada pelo exemplo de uma caminhonete modelo S-10, da Chevrolet. Alimentado por etanol, o motor "flexpower" do veículo emite 9,4 quilos de CO2 a cada 100 quilômetros rodados. Com motor turbo movido a diesel, a emissão sobe a 29,7 kg. Com gasolina tipo "A", sem mistura, o mesmo motor descarrega 35,1 kg de dióxido de carbono no ar.

"Ou seja, com etanol, a picape emitiu apenas 27% gases de efeito estufa", resume o pesquisador Robert Boddey. Inglês naturalizado, o cientista afirma que o balanço energético é "amplamente favorável" ao etanol. "E o presidente Lula poderá mostrar isso com orgulho aos líderes das maiores economias globais".

O estudo, realizado em conjunto com os pesquisadores Bruno Alves, Segundo Urquiaga e Luís Henrique Soares, admite, porém, que a cana cultivada em áreas novas fica "mais suja". Ao plantar e manejar a gramínea, há impacto para produzir a cana. Um produtor de milho ou soja estimula em três toneladas a emissão de CO2.

Nessas áreas, a cana emitiria 4.420 kg de dióxido por ano. Em lavouras de soja e milho, cultivadas em duas safras por ano em produtividade média de 2,5 mil a 3 mil kg por hectare, as emissões somariam apenas 1.160 kg/ano de CO2. Em pastagens, cuja produtividade (baixa) chegue a 0,7 unidade animal por hectare (ou um boi de 350 kg), as emissões subiriam a 2.840 kg/ano. Mas ficariam ainda bem longe das emissões da cana-de-açúcar.

Mas, ao utilizar a cana para substituir a gasolina, deixa-se de emitir 9 toneladas de CO2. Isso porque o total de etanol produzido em um hectare equivale a uma economia média de 12 toneladas de CO2 por ano

"Sempre mitiga a emissão, mas esse grau varia em função de quanto eram as emissões no uso anterior da terra", explica o pesquisador Bruno Alves. "Se a cana entra em área de uso intensivo de pecuária, por exemplo, reduz de forma significativa essas emissões. Em áreas menos tecnificadas, a redução é menor".

A Embrapa Agrobiologia prepara, agora, estudos com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para comparar a economia de CO2 na produção de etanol de milho americano. "Deve ficar bem abaixo do resultado do etanol de cana", estima Robert Boddey.