Produção e demanda alimentar, sustentabilidade, tendências do mercado consumidor, logística, tributos, estratégia e inovação foram temas tratados em profundidade por líderes do agronegócio durante a primeira edição do Interfeed Leadership Meeting, realizado este mês, no Hotel Renaissance, em São Paulo. Promovido pelo Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal), com apoio da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e da FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o fórum empresarial colocou em pauta as ameaças e os desafios da produção de alimentos, aproximando, assim, os elos da cadeia – produtor, indústria transformadora, governo, varejo, consumidor.
Primeiro dia de evento
Para abrir o evento, Mário Sérgio Cutait, Presidente do Sindirações, traçou um panorama bastante realista do setor. Cutait teceu críticas sobre a infraestrutura do Brasil e ressaltou a capacidade produtora e empreendedora do agronegócio nacional. “O Brasil consolidará seu status como exportador gigante de produtos agrícolas até 2017”, afirmou, com base em dados do Serviço de Observação Estratégica da União Europeia. “Nosso futuro é brilhante. Estamos todos no mesmo barco, mas, ao invés de deixar a maré nos levar, está na hora de, unidos, tomar o leme e seguir rumo ao futuro”, arrematou o Presidente.
Importantes autoridades participaram da cerimônia de abertura: Benedito Ferreira, Diretor Titular do Departamento do Agronegócio da Fiesp; Luciano Santos de Almeida, Secretário Adjunto da Secretaria de Desenvolvimento do Governo do Estado de São Paulo e representante do Governador José Serra; Francisco Sérgio Jardim, Superintendente Federal no Estado de São Paulo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Deputado Federal Duarte Nogueira (PSDB-SP); e João Sampaio, Secretário de Agricultura do Governo do Estado de São Paulo. Todos elogiaram a postura dos empresários e enfatizaram a urgência de um trabalho conjunto entre os integrantes da cadeia.
A italiana Daniela Battaglia, Diretora do Departamento de Produção e Alimentação Animal da FAO/ONU Roma, compartilha dessa opinião e trouxe à tona uma séria discussão em torno da produção e demanda de alimentos no mundo. “Temos que nos unir e chegar a uma solução, juntos”, exclamou. “Minha missão no Interfeed é alertar os produtores, inclusive médios e pequenos, sobre o desequilíbrio entre produção, demanda e distribuição dos alimentos”, disse. Segundo Battaglia, nos últimos anos, produção de carne triplicou nos países em desenvolvimento e a de leite cresceu 122%, mas, ainda assim, mais de 1 bilhão de pessoas passa fome no mundo todo. “O problema não é a falta de comida, mas sim a distribuição. O consumo continua concentrado nos países ricos; o déficit de proteína animal ainda é muito grande.”
Roberto Waack, Presidente do Conselho Consultivo do Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares), concentrou atenções ao abordar um tema igualmente relevante: a sustentabilidade no agronegócio. De acordo com o palestrante, as grandes empresas nem sequer começaram a enfrentar os desafios nesse sentido. Cada vez mais a postura sustentável aparece como responsabilidade plena do mundo corporativo e exigência crescente dos próprios consumidores, conforme declarou Waack, no Interfeed.
Na sequência, Marlene Bregman, Vice-Presidente de Negócios Corporativos da Leo Burnett, tomou a palavra e falou sobre tendências do mercado consumidor. Bregman ponderou que mudanças comportamentais influenciam, de maneira significativa, o consumo dos alimentos, que tendem a apresentar benéficos que extrapolam sua função nutricional . Também enfatizou a crescente influência da mulher nas decisões de compra dos alimentos do futuro.
Na finalização do primeiro dia, o Sindirações prestou uma homenagem à senadora e Presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Kátia Abreu, por sua valiosa contribuição para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
Segundo dia de evento
O segundo e último dia do 1º Interfeed Leadership Meeting também provocou grandes reflexões por parte dos profissionais presentes. Para José Roberto Serra, Presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) , a capacidade logística do Brasil precisa ser melhorada. Em razão da infraestrutura precária nos portos, os investimentos tornam-se limitados, o que compromete o crescimento do país. O Presidente da Codesp salientou ainda que a China, por outro lado, conta com infraestrutura portuária de qualidade, favorecendo imensamente seu crescimento e competitividade.
Os tributos foram tema da palestra seguinte, ministrada por Luiz Roberto Peroba, Sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados. Para ele, a complexidade do sistema tributário constitui grande entrave para investimentos internos e externos. O especialista na área apresentou o trabalho desenvolvido a pedido do Senador Sandro Mabel, relator da proposta de Reforma Tributária, que segundo ele amenizaria a guerra fiscal entre os estados.
Carlos Alberto Julio, Presidente da Tecnisa e ex-Presidente da HSM, discorreu sobre estratégia empresarial. As perguntas instigantes suscitadas por ele fizeram os empresários pensarem com seriedade sobre o que almejam para suas empresas nos próximos anos, já que vivemos um período de transformações intensas e irreversíveis. Reforçou a importância do planejamento, da tomada de decisão , e de equipes que se complementam.
Fernando Reinach, Diretor Executivo da Votorantim Novos Negócios, também conquistou o interesse da plateia ao abordar o tema inovação. O fundador do Projeto Genoma polemizou ao admitir que a mistura entre produtos fabricados a partir de organismos geneticamente modificados (OGMs) e aqueles convencionais é praticamente inevitável. Segundo Reinach, é inviável segregar o milho convencional do que sofreu modificações genéticas. “Os principais consumidores do mercado internacional fazem aquisições do cereal independentemente de sua origem tecnológica”, comentou. Reinach acredita que o avanço genético é a única saída para aumentar a produtividade no meio agrícola e, assim, garantir a produção de alimentos para a população mundial. “Até 2050, haverá 9 bilhões de pessoas no planeta. Vamos ter que produzir o dobro de alimentos”, argumentou. “A tecnologia é, sem dúvida, a melhor amiga do meio ambiente”, concluiu Fernando Reinach.
Numa linha de raciocínio parecida, o americano Paul Roberts fechou o fórum empresarial com o painel “Uma visão de futuro: a demanda de alimentos e energia”. Autor do livro “The End of Food”, Roberts defende a melhor utilização do solo, da água e da energia como alternativa para o aumento da produtividade. “Existe, sim, um claro potencial de escassez de comida. A população cresce, os hábitos alimentares mudam e os recursos naturais, como água e energia, são finitos. Todavia, estamos atentos as formas de prevenir a crise, adotando novos métodos de gestão e produção”, atestou. Para ele, o Brasil desponta como grande fornecedor, pois dispõe de terra arável, água e mão-de-obra. “O Brasil deve ocupar posição de destaque no contexto global, todavia deve ocupar-se em melhorar a sua infraestrutura.”
De acordo com Marcos Mantelato, Diretor do Sindirações e coordenador do evento, todos os temas tratados no Interfeed têm lugar destacado na agenda da alta gestão de empresas e entidades – públicas e privadas. “Antes de chegar às soluções – que envolvem, sobretudo, assertividade técnica –, o fórum deverá auxiliar os gestores na tomada de decisões. Agora, ao retornarem aos seus empreendimentos, eles poderão fazer as perguntas certas junto às suas equipes para melhor compreender os desafios que ora são apresentados , e agir ”, finaliza.