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Insumos

Situação do milho

<p>Safra de milho brasileira depende da comercialização. Safra americana tem acréscimo de produção.</p>

Os números quase finais para a safra de 2008/09 indicam um total de cerca de 49 milhões de toneladas (segundo informações da Conab). Deste total, cerca de 33 milhões de toneladas produzidas na safra de verão (uma redução de quase 6,5 milhões de toneladas em relação à safra anterior) já são definitivos, enquanto cerca de 16 milhões de toneladas produzidas na safrinha (menos cerca de 2,5 milhões de toneladas em relação à safrinha anterior) ainda podem sofrer algum ajuste, pois a colheita ainda se encontra em andamento.

Uma vez que a safra está praticamente fechada, as preocupações passam para o lado da comercialização. A situação do mercado do milho no Brasil continua muito difícil neste ano de 2009. Os preços internos estão em queda e as perspectivas no que diz respeito ao mercado externo não têm se mostrado favoráveis. Mesmo com a redução de quase nove milhões de toneladas em relação à safra anterior, os preços têm se mostrado decrescentes nas últimas semanas, em decorrência do grande estoque remanescente da safra 2007/08 e da produção obtida que, apesar das perdas, ainda é superior às necessidades internas.

Para que ocorra alguma reação nos preços, as exportações seriam vitais para escoar o excesso de milho disponível. Entretanto, o mercado externo para o milho brasileiro se encontra com um desempenho abaixo do esperado. No mês de junho, foram exportadas apenas 159 mil toneladas (contra 364 mil no mesmo mês de 2008 e cerca de 298 mil toneladas em junho de 2009). Pior do que isto é o que está ocorrendo do lado das importações. Durante o mês de junho, foram importadas do Paraguai e da Argentina cerca de 100 mil toneladas de milho, destinadas principalmente a atender às necessidades da região Sul, que foi mais afetada pela redução da produção na safra de verão. O resultado das exportações menos as importações foi, então, de aproximadamente 59 mil toneladas. A continuar este ritmo, parece difícil que o excesso de milho existente no mercado seja normalmente escoado em quantidade significativa para afetar os preços. Isto sem esquecer que a taxa de câmbio continua instável, muitas vezes reduzindo o valor em moeda nacional a ser recebido nas exportações.

Neste campo, estão sendo programados leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) pela Conab como forma de viabilizar a exportação de milho e retirar parte do produto que se encontra na região Centro-Oeste, onde os preços de mercados estão mais deprimidos em virtude da colheita da safrinha. No Mato Grosso, o preço do milho na última sexta feita, 24 de julho, chegou a R$ 8,00 por saco, relembrando o que ocorreu anos atrás quando, inclusive, foi sugerida a utilização do milho neste estado para a produção de álcool. Para piorar a situação, estão ocorrendo problemas relacionados com a disponibilidade de armazéns para milho, o que definitivamente não ajuda a sustentar o preço.

Embora a partir das informações disponíveis atualmente o cenário não se mostre favorável para a comercialização do milho, recomenda-se que esta situação seja continuamente acompanhada para verificar possíveis sinais de recuperação, antes da tomada de decisão com relação à venda da produção. De qualquer forma, os resultados desta safra (que foi implantada em um regime de preços de insumos em níveis elevados, teve a produtividade das lavouras em alguns estados fortemente afetada por fatores climáticos negativos e está sendo comercializada em condições desfavoráveis) certamente afetarão a tomada de decisão dos agricultores com relação ao próximo ano agrícola que está preste a se iniciar.

Nos outros países, as condições se mostram favoráveis. No conjunto de países da Comunidade Européia mais Rússia e Ucrânia, espera-se uma leve redução na produção de milho em relação à safra passada, mas nada comparável ao verificado há dois anos. Como resultado, a necessidade de importações segue baixa. Com estas expectativas, a demanda possível por exportações brasileiras para este destino perde força.

Na Argentina, os números finais da colheita tendem para cerca de 12,5 milhões de toneladas, em comparação com um total de 22,3 milhões na safra passada. Esta redução na produção foi decorrente de vários fatores, tais como: uma redução de cerca de 23% na área plantada com milho; um severo déficit hídrico; o elevado custo dos insumos (principalmente fertilizantes); e, por fim, o conflito entre produtores e governo resultante da elevação das retenções nas exportações.

Situação Mundial – O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos liberou, no dia 10 de julho, mais uma previsão sobre a próxima safra de milho nos Estados Unidos. As novas estimativas incorporam a revisão das informações relativas à área plantada com este cereal e foram elaboradas a partir de levantamentos efetuados no início de junho junto aos agricultores. Esta reavaliação indicou um acréscimo da área plantada na safra em relação às estimativas anteriores. Como as condições climáticas continuam normais, a estimativa relativa aos rendimentos continuou baseada na evolução da série histórica. O resultado final resultou em um acréscimo na produção esperada de milho nesta safra, ao contrário do estimado no início de junho.

A produção estimada para os Estados Unidos é cerca de 1,5% maior do que a do ano anterior e agora, caso se concretize, será a segunda maior safra de milho colhida no país. Esta nova visão e a constatação já internalizada de que nada de tão dramático aconteceria nesta safra serviram para acalmar os mercados e as cotações caíram consideravelmente nas últimas semanas, de cerca de US$ 4,50 por bushel no início de junho para US$ 3,27 na última sexta-feira. A despeito de grande parte desta redução ter ocorrido no mês de junho, a sensação de normalidade manteve os preços no intervalo entre US$ 3,50 e US$ 3,20 durante todo o mês de julho.

Embora tenha sido emitido um comunicado de que um novo levantamento será efetuado nos principais estados produtores de milho e de sorgo no fim de julho/início de agosto, os eventuais ajustes deverão apresentar um impacto reduzido sobre os preços frente a um novo recorde possível nos rendimentos agrícolas, derivados de um ano favorável e do incremento no potencial de produção das novas cultivares à disposição dos agricultores.

Com base nestas novas estimativas e em revisões sobre a utilização de milho para diferentes finalidades, mantém-se a expectativa de redução nos estoques americanos de milho após a recuperação verificada no último ano. O nível destes estoques seria suficiente para atender, caso estas previsões se confirmem, a cerca de 14,6% da demanda interna (12,4%, caso se considerem as exportações). Embora estes valores sejam baixos, será o terceiro ano em que percentuais de magnitude semelhante se verificam, indicando que o mercado começa a se acostumar com eles. Neste caso, somente apostas de prazo muito longo encorajariam elevações nos patamares dos preços.

Do lado da demanda, a projeção de consumo de milho para produção de etanol segue crescente e a utilização dos resíduos deste processamento tem compensado o menor uso do milho diretamente na alimentação animal. O preço do petróleo, após uma redução que se verificou no início de julho, retornou ao nível de US$ 70 o barril, o que, juntamente com a redução do preço do milho, ajudou a recuperar as empresas produtoras de álcool nos EUA. As exportações se mantêm no patamar de 50 milhões de toneladas, dentro da margem histórica.

* Por  João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo