Engraçado como são as coisas neste País. Agora que a tal da nova gripe começou a matar, a imprensa escondeu a doença no segundo caderno, com chamadinhas discretas vez por outra na primeira página. Dá a impressão que os jornalistas meio que “bodearam” da gripe. Na fase mexicana do vírus H1N1 (parece jogo de batalha naval), no tempo em que a gripe era suína, os jornalistas esperaram ansiosamente as primeiras vítimas no Brasil. Mas demorou tanto que eles aperrearam e trocaram a gripe pelo Sarney.
É incrível como a imprensa acaba “pautando” os grandes problemas nacionais. A bola da vez agora é o Sarney, e os jornais não vão descansar enquanto não conseguirem derrubar o presidente do Senado. A imprensa é que nem burro velho, quando empaca uma idéia…Nada contra. Não tenho nenhuma simpatia pelo senador, que já devia ter sido escanteado desde os tempos do Tancredo.
Mas Sarney, que já foi aliado da Arena, da ditadura militar, do Collor, do FHC, do síndico aqui do prédio, e agora é amigo do Lula, não vai à lona tão fácil. Se bobear, a velha raposa do Maranhão faz um acordo com o H1A1 (ou H1N1?), para o vírus voltar às manchetes e os escândalos do Senado caírem no esquecimento. Capaz até de oferecer ao vírus uma diretoria no Senado.
Brincadeira a parte, a pandemia está ficando séria e merece mais cobertura da mídia. Já tivemos quatro mortos no Brasil, sendo duas crianças. E estamos em pleno inverno, quando aumenta a vulnerabilidade das pessoas ao vírus. Na Argentina, país vizinho, a gripe já matou 137 pessoas.
O papel da imprensa, no caso de uma pandemia, vai muito além da simples divulgação de medidas de higiene para se evitar a infecção. A prevenção tem um caráter amplo e estratégico, como mostra o manual “Jornalismo Preventino e Cobertura de Situações de Risco”, elaborado pela Andi.
Cabe à imprensa investigar se a infraestrutura hospitalar no Brasil é capaz de enfrentar a pandemia. Uma cobertura preventiva precisa levantar se o agravamento da pandemia não pegará o País desprevenido, sem um programa de emergência. Isto implica na checagem de vários itens: número de leitos, estoque de medicamentos, quantidade de respiradores artificiais, oferta de médicos, enfermeiros, assistentes etc. O orçamento do governo contempla situações de emergências? As dotações orçamentárias previstas pelas autoridades são suficientes para cobrir planos de emergência?