Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário Avícola

Água na avicultura

<p>Este nutriente ainda é esquecido na avicultura industrial. A sua qualidade é muito importante para o desempenho da ave. Por Valter Bampi.</p>

Por mais de duas décadas defendendo esse conceito, ainda, encontro técnicos e avicultores dando menor importância à qualidade e à quantidade de água do que dão para a ração. Porém, fatos e dados encontram-se na literatura e campo atestando que esse cuidado deve ser intensificado, já que problemas de desempenho são atribuídos ao componente nutricional esquecido.

Em várias regiões do mundo, a disponibilidade de água é fator limitante para a produção avícola. Entretanto, em outras regiões, a água está disponível, mas sua qualidade é que limita o desempenho da atividade. Assim, de nada adianta a água estar à disposição se não há consciência da importância da manutenção de sua qualidade. Os efeitos da má qualidade são os mais variados e complexos, lembrando a relação direta que existe entre o consumo de água e o consumo de alimento, tendo essa restrição de água e ração em consequência de perda de produtividade dos animais.

Preservar a quantidade de água e a sua qualidade é fundamental, se o objetivo é obter desempenho adequado e economicamente conveniente. Águas de superfície são mais difíceis de manter a qualidade do que de poços artesianos e, às vezes, a fonte de água é boa e a qualidade é perdida pelo mau armazenamento, no qual são empregados reservatórios sujos, não cobertos, passíveis de serem alcançados por pássaros, ratos, raios solares e outros animais ou, mais facilmente, contaminados pelo ar. A qualidade também pode ser comprometida pelo sistema de encanamento empregado em que resíduos de minerais e micro-organismos estão presentes. Portanto, proteger reservatórios e os encanamentos é um procedimento indispensável.

Somente a determinação da presença de micro-organismos na água de bebida na produção animal não é suficiente. A quantidade em que eles se encontram na água é que deve ser avaliada. A água de bebida dos animais deverá ter menos que 5.000 coliformes totais/100 ml, mas, isso só serve como um guia de recomendação. Além de Escherichia coli, na água também podem ser encontrados Salmonella spp, Vibrio cholerae, Leptospira spp, protozoários e vermes. Com relação aos coliformes, eles são classificados em total e fecal. Coliformes totais são bactérias encontradas na vegetação, em resíduos de animais e no solo. Já coliformes fecais são as bactérias provenientes de intestino de animais. Estas bactérias têm vida curta quando fora do corpo do animal e sua presença como contaminante indica uma contaminação recente.

Cloração de água, dentre outros métodos de desinfecção, serve como procedimento para tal, eliminando enterobactérias. Porém, protozoários e enterovírus são menos afetados pelo cloro. É importante lembrar que substâncias como nitrito, ferro, hidrogênio, amônia e matéria orgânica diminuem a ação do cloro. A matéria orgânica transforma cloro em cloramina, que tem menos ação desinfetante. Quanto maior o nível do pH da água, aumenta a necessidade de cloro como desinfetante. Entretanto, excessiva cloração pode comprometer o seu consumo e o desempenho dos frangos. Existem trabalhos demonstrando que a adição de 5 ppm de cloro na água de bebida diminuiu o consumo e o ganho de peso. Outros benefícios dessa prática como redução de sintomatologias respiratórias e condenações na indústria, tendo sua eficácia garantida através de checagem sistemática na borda ou chupeta do nipple pelo avicultor e/ou na visita do supervisor Técnico. Pesquisas mostram, extraídas de um artigo do Prof. Mario Penz (URGS), que as bactérias diminuíram com a inclusão do cloro na água como mostram as tabelas abaixo:

Efeito da cloração – Hipoclorito de Sódio – da água no consumo de água e no ganho de peso dos frangos de corte.

1 a 28 dias

29 a 49 dias

1 a 49 dias

Cons. Água

GPeso

Cons. Água

GPeso

Cons. Água

Gpeso

ml

g

ml

g

ml

g

Sem Cl

3480 a

908 a

7053 a

1350 a

10526 a

2258 a

Com Cl

3317 a

918 a

6359 b

1398 a

9686 b

2316 b

Consumo de água = ml/ave/período

Ganho de peso = g/ave/período

Adaptado de Meirelles et al., 1995 P<0,01

Efeito da cloração da água – 2 a 3 ppm – na redução da sua contaminação bacteriana.

Tempo (horas)

Bactérias (UFC/ml)

Água com Cloro

Água sem Cloro

8

3 x 102

117 x 105

11

11 x 104

156 x 105

14

65 x 104

110 x 106

17

215 x 104

163 x 106

Adaptado de Macari, 1996.

Efeito do tipo do bebedouro na contaminação bacteriológica da água (micro-organismos/ ml de amostra).

Microorganismos

Nipple

Pendular

Entrada

Saída

Entrada

Saída

Coliformes Totais

640

3.300

1.600

1.700.000.000

Coliformes Fecais

130

230

1.000

80.000.000

Escherichia coli

110

900

900

66.000.000

Estreptococos fecais

55

1.200

2.000

36.000.000

Microorganismos mesófilos

24.000

700.000.000

86.000

1.400.000.000

Entrada – significa no bebedouro de entrada de água no galpão.

Saída – significa no bebedouro no final do galpão.

Micro-organismos mesófilos – contagem total de micro-organismos saprófitos e patogênicos.

A água não foi tratada.

Adaptado de Macari e Amaral, 1997.

Por Valter Bampi, médico veterinário e diretor do Grupo Big Frango.