Redação (29/09/2008)- O I Curso de Formação de Transportadores de Suínos, iniciativa pioneira da Embrapa Suínos e Aves, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Copérdia-Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia, Frigorífico Aurora WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal e o ETCO- Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal encerrou na sexta-feira, 19 de setembro, com resultados positivos e com uma lista de solicitação para novas edições, resultante do interesse de realização desse treinamento revelado por outras instituições.
Curso – O objetivo do curso foi melhorar o bem-estar e a qualidade da carne, através da atualização e troca de informações relacionadas aos principais cuidados a serem adotados, durante os procedimentos do manejo pré-abate. Iniciou no dia 18 de julho e terminou na sexta-feira, 19 de setembro, abrangendo aulas teóricas e práticas em oito módulos: direção econômica, direção defensiva, manutenção preventiva do caminhão, orientações e exercícios laborais antes e após uma jornada de trabalho, bem-estar animal: efeito do manejo pré-abate dos suínos sobre o bem-estar e a qualidade da carne, acompanhamento do embarque dos suínos na granja, avaliação prática das conseqüências das falhas no manejo pré-abate no bem-estar e na qualidade da carne, avaliação do curso e identificação dos pontos críticos no transporte de suínos.
Um outro aspecto que o curso destacou foi a orientação que passou aos motoristas para cuidados que devem ter com o seu próprio bem-estar durante a execução do trabalho, além de lhes possibilitar a correta compreensão e importância do que realizam com relação às exigências atuais, e cada vez mais significativas, de mercado.
Participação da Copérdia – O técnico da Copérdia, Clenio Arboit, explicou assim o significado desse treinamento para a cooperativa, “para nós foi uma inovação. Nós tínhamos um problema, tratava-se da mortalidade. E nosso objetivo era, pelo menos, diminuir a mortalidade em 50%. Em seguida, a gente observou que não era só a mortalidade que estava em jogo, mas coisas que iam muito além disso. E isso passava pela equipe técnica, produtores e também pelos freteiros. Todos precisavam entender que o objetivo final não é transportar suínos, mas, sim, alimentos. Acho que o curso significou muito e foi além das nossas expectativas”.
Clênio acrescentou que a partir do curso, ele tem certeza, que o motorista da Copérdia mudou o conceito sobre o trabalho que desempenha. “Antes – explicou Arboit – ele entendia a sua função como a de dirigir um caminhão. Com o curso ele entendeu que transporta um pernil, uma copa, um salame italiano…, então cresceu e muito na compreensão do trabalho que realiza”.
Já o técnico Leocir Balbinot, há sete anos na cooperativa, disse que o treinamento foi bom, que todos sabiam na Copérdia que era necessário melhorar o transporte dos animais, no percurso da propriedade até o abatedouro, e a resposta de como executar essa melhoria veio através desse treinamento. “Isso é um marco para nós, até porque nunca aconteceu antes”.
Na verdade, avaliações sobre transporte e bem-estar, sobre manejo pré-abate, vêm acontecendo na Copérdia há dois anos, em trabalho conjunto realizado com a Embrapa Suínos e Aves, e Balbinot considera também esse tempo que antecedeu o curso como muito importante, porque foi a observação, a orientação para os técnicos e produtores e freteiros, a conversa diária, e o acompanhamento de alguns carregamentos até o frigorífico que permitiram aos motoristas um olhar mais atento ao trabalho que realizam. “Quando os motoristas viram, no frigorífico, como os animais chegavam, se deram conta da importância da sua participação e o curso oportunizou para eles esse conhecimento. “Temos as melhores expectativas com relação ao resultado desse treinamento, não só eu, mas toda a Copérdia”, concluiu Balbinot.
Depoimentos – Alguns motoristas participantes do treinamento também deram seus depoimentos e vale destacar como a avaliação foi positiva e considerada importante, mesmo para aqueles que já têm muitos anos de experiência em carregamento de carga viva.
Milton João Farina, 50, 20 anos de experiência, disse: “Eu acho que é uma coisa válida porque nem nós tinha noção do que era um abate. O curso nos mostrou o que acontecia depois do animal carregado. Porque até carregado se sabia, porque estava no chiqueiro, mas depois de carregado?… ter ido ver o abate na Aurora, ter noção de como é o dia a dia na propriedade, no transporte, a realidade, né?! O pós-transporte? ninguém tinha idéia do que acontecia, acho que nenhum motorista sabia o que acontecia. Nós tivemos o privilégio de ir até lá e ver a realidade da coisa. O quanto é jogado fora, o que é perdido, porque não se tem o cuidado adequado. Existe fome no mundo e, de repente, você vê o quanto é jogado fora. O mais importante que eu vi, o que mais me impressionou foi o que é jogado fora no abate. O que é desperdiçado é que me deixou até preocupado. Tanta coisa que você podia aproveitar, tendo o manejo correto porque nem só o transporte é o culpado dessa perda, existe uma série de coisas. Se você colocar tudo em cadeia vai sobrar alguma coisa para alguém. Perdemos o que podemos aproveitar, nós, e a população que seria a maior beneficiada. Eu faria outra vez esse curso, eu creio que levaria mais alguém junto. Acho que todo curso que se faz, creio, vem em benefício da própria pessoa, nada é em vão.
Eu faria o curso de novo – O motorista, Ivan Borsatti, 40, 15 anos de experiência, falou que foi válido, “a gente tem muita coisa que aprendeu aí, né?! Além de saber o que faz parte da qualidade da carne, manter o produto perfeito no final, não desperdiçar quando está pronto. Eu acho que foi muito válido para nós. A gente sempre teve cuidado no carregamento, mas muitas questões que machucam a carcaça a gente não prestava muito atenção. Eu faria o curso de novo.”
Foi muito bom – Heliomar Meine, 38, com 2 anos de experiência no transporte de carga viva, destacou que participar do curso foi muito bom e afirmou: “antes a gente achava que conhecia, mas na verdade não. A participação nesse curso mostrou que não. Depois de estar participando no curso, notei que as carcaças chegam menos machucadas e que até morreu menos suínos no transporte, principalmente no meu caminhão. Foi muito bom. Com certeza se eu puder participar de outro será melhor ainda”.
Próximos treinamentos – Após a realização deste primeiro treinamento dos motoristas da Copérdia, já está previsto para 2009 a realização desse mesmo curso para todos os motoristas responsáveis pelo transporte da Aurora. Há ainda solicitações de outras empresas que a Embrapa Suínos e Aves estuda para atender em seguida. Atualmente, esse projeto está em negociação com o Mapa e a Abipecs – Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, visando facilitar a sua aplicação.
Osmar Dalla Costa, pesquisador que coordenou o treinamento, avaliou que o evento foi de grande benefício tanto para a Embrapa quanto para os motoristas, “pois nós examinamos a realidade, o que acontece no campo. Adotar esse manejo, dentro da propriedade, possibilitou a toda a equipe crescer tecnicamente. Isso nos ajuda redefinir linhas de trabalho para o futuro, fazer ajustes, e examinar com acuidade outros procedimentos do manejo pré-abate”.
Os resultados práticos de aprendizagem do curso poderão ser medidos através da mudança de comportamento dos próprios motoristas, com a redução da taxa de mortalidade, na menor incidência de carne de má qualidade e nos ajustes de procedimentos do manejo pré-abate com referência, por exemplo, ao horário de carregamento, formação e tamanho de lote, redefinição do sistema de embarque, adequações nos embarcadouro e as novas orientações que a cooperativa poderá adotar daqui para a frente.
Além de Dalla Costa, foram instrutores os técnicos Vanderli Rogelin, da Polícia Rodoviária Estadual de Santo Antônio e Jorge Arthur do Canto da Wolkswagen Caminhões e Márcia Hoffmann, da Fisioterapia Santa Clara. Coordenam o evento, o pesquisador Osmar Dalla Costa, a médica-veterinária Charli Ludtke-WSPA e os técnicos Clenio Arboit e Leocir Balbinot da Copérdia.
Maiores informações sobre esse treinamento podem ser solicitadas na Embrapa Suínos e Aves pelo e-mail [email protected] , telefone (49)3441-0400.