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UE volta a subsidiar carne suína

<p>A notícia emergiu no mesmo dia em que Bruxelas decidiu suspender as taxas de importação de cereais.</p>

Redação (27/11/2007)- A União Européia anunciou ontem que voltará a subsidiar as exportações de carne suína do bloco, para ajudar os criadores locais a encarar o ganho competitivo que Brasil, Estados Unidos e Canadá tiveram no mercado internacional em razão da contínua desvalorização do dólar.

Encarada como um "tremendo retrocesso" por Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), a notícia emergiu no mesmo dia em que Bruxelas decidiu suspender as taxas de importação de cereais. Na contramão do "protecionismo" para a carne suína, a "liberalização" para os cereais – que poderá aliviar os custos dos suinocultores – decorre do forte aumento dos preços agrícolas no exterior.

Vale observar, ainda, que a comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, comunicou aos ministros europeus sua intenção de retomar os subsídios à exportação de carne suína apenas um mês depois de ter rejeitado a mesma demanda, então apresentada por França, Polônia e Irlanda. A ajuda servirá para compensar a diferença entre os atuais preços do produto no mercado internacional e o preço mais elevado em países da UE.

Na Europa, há excesso de produção de suínos. Esta superoferta derrubou os preços em 11% em um ano, período em que os criadores viram a fatura subir com a alta das matérias-primas para a ração de seus animais. Recentemente, o governo francês reclamou que 30% da produção de suínos do país era vendida fora da UE, sobretudo para Rússia, Japão e Coréia do Sul. E, com o euro forte, pedia ajuda para enfrentar a concorrência, que exporta mais, com preço menor e em dolar americano "fraco". Um plano europeu de assistência para a formação de estoques privados de carne suína fracassou. A idéia era que os produtores guardassem pelo menos parte da produção em frigoríficos à espera de recuperação dos preços, mas isso não aconteceu.

Neste cenário, os criadores europeus de suínos tiveram na decisão do bloco de suspender as taxas de importação de cereais outro alento, uma vez a produção européia de grãos é modesta. A UE espera estimular importações de todos as origens, principalmente de trigo com menos qualidade – que pode ser utilizado em rações – da Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Mas poderá haver surpresas, já que Moscou pretende restringir suas exportações de cereais para evitar problemas de abastecimento em pleno período eleitoral. A Rússia já aplica taxa de 10% sobre suas exportações de trigo, e quer aumentá-la para 30% ou 50%.

Para a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), a tensão no mercado de grãos deverá continuar. Afinal, pelo terceiro ano consecutivo, o consumo poderá superar a produção mundial. Na safra 2006/07, a produção global declinou 4,6% e os estoques baixaram 15%, menor nível em 20 anos. Para 2007/08, as projeções são de que produção e consumo vão aumentar – e os estoques deverão recuar de 102 milhões para 92 milhões de toneladas. O movimento reflete a queda nas produções agrícolas de Austrália e Ucrânia, principalmente. Embora a oferta global de milho deva ser recorde este ano após colheita excepcional nos EUA, o preço do grão deve seguir em alta diante da demanda para a produção de etanol altamente subsidiado.