Redação (27/11/06) – A escolha do município para abrigar um Arranjo Produtivo Local (APL) aglomerado de empresas ligadas à mesma produção , no caso, de avestruz; e a solidificação da Cooperativa de Avestruzes Portal do Pantanal (Coavestruz), instalada no município com associados em 11 Estados e em quase todos os municípios de Mato Grosso do Sul, já garantem a São Gabriel do Oeste o título de maior produtor estadual da ave e devem ser decisivos para que a região e o Estado apareçam com destaque na produção nacional de carne e de subprodutos de avestruz, uma vez que a área é tida como uma das melhores áreas do País para a criação das aves, pela semelhança da região e do clima com as savanas africanas.
A Coavestruz foi criada em 2002 e, hoje, possui estrutura que inclui um criatório com 350 mil metros quadrados, maternidade, incubatório, fábrica de ração para consumo interno, além dos escritórios.
Além dos investimentos dos produtores cooperados, criações privadas se destacam pela quantidade de aves e estrutura implantada para a produção de avestruzes. A Biotectruz Piveta Assunção é um exemplo, entre as propriedades da região, que se especializou na criação das aves e conta com 11 anos de experiência na atividade. Pioneira na produção em São Gabriel do Oeste, depois de enfrentar dificuldades e resistência de muitos setores durante a introdução da produção na região e após sofrer com problemas como o escândalo da Avestruz Máster, que abalou a imagem da criação de avestruzes, a Biotectruz conquistou destaque nacional em infra-estrutura, quantidade e qualidade dos animais que produz e se mantém como uma das principais fornecedoras de filhotes de avestruz.
Manoel Piveta Assunção, proprietário da Biotectruz, conta que os produtores da região estão criando um grande pólo da criação de avestruz. “Começamos importando 10 casais de avestruzes da África em 1994 e, hoje, São Gabriel do Oeste caminha para se tornar destaque nacional na criação. Seguramente São Gabriel do Oeste será o maior produtor de avestruz do Brasil e o País, o maior criador mundial”, estimou.
Piveta explica que a estrutiocultura é uma atividade ainda nova no Brasil e foi afetada por um “desânimo generalizado” em decorrência do Caso Avestruz Máster quando centenas de produtores das aves ficaram no prejuízo depois de serem enganados com negociações fraudulentas envolvendo as avestruzes. “O caso trouxe reflexo nacional e a população e produtores chegaram a pensar que os prejuízos tinham ligação com a criação de avestruz, enquanto se tratava de empresários irresponsáveis que usaram a atividade para aplicar golpes. O problema é que tudo aconteceu no início da produção nacional e todos levaram um susto”, disse.
Piveta conta que, apesar da crise de imagem enfrentada no passado, o Caso Avestruz Máster contribuiu para que os produtores de São Gabriel do Oeste e de outras regiões do País antecipassem a estruturação da cadeia produtiva da carne de avestruz, desde a produção até o abate e comercialização, como forma de dar continuidade à atividade que, segundo os produtores, tem se mostrado “enormemente lucrativa”. Porém, ainda que os ganhos de alguns produtores tenham se mostrado atraentes, com bons lucros e produtividade crescente, há aqueles que investiram na produção e se decepcionaram em função de a cadeia de produção e comercialização ainda estar em fase de estruturação. Ou seja, os mercados aos produtos ainda são indefinidos e começam a ser formados.
Frigorífico de Coxim começa a abater aves em dezembro
A produção de avestruzes em Mato Grosso do Sul, até este ano, foi praticamente direcionada apenas para a comercialização de filhotes, situação que começa a se modificar com a previsão de início dos abates das aves ainda neste ano no Estado. O Frigorífico Margen de Coxim já realizou o abate experimental de um casal de avestruzes e a expectativa é que os abates comerciais tenham início em dezembro. “Estamos aguardado liberação do Ministério da Agricultura para começarmos a abater os animais”, disse o gerente-geral da unidade, Edson Luiz Nunes. Segundo ele, o frigorífico terá capacidade para abater até 300 avestruzes por dia, mas inicialmente serão 100 aves por semana, número que crescerá conforme a demanda pelos produtos.
O criador Manoel Piveta explica que o início dos abates no Estado significa o fechamento da cadeia produtiva do avestruz, uma vez que MS passa a ter capacidade de produzir, abater e comercializar os produtos e subprodutos das aves. Hoje, pouco mais de dez frigoríficos de bovinos, instalados em outros Estados do centro-norte do País, já iniciaram os abates de avestruzes, sendo que Goiás é o único Estado com um frigorífico exclusivo para o abate da ave. No País, já existem produtos embutidos produzidos a partir da carne de avestruz.
A estimativa dos diversos elos da cadeia produtiva é que o início dos abates em MS possa potencializar a produção estadual a conquistar novos mercados consumidores. O gerente do Frigorífico Margen ressalta que a logística de distribuição e comercialização da carne bovina do grupo vai facilitar a oferta da carne de avestruz aos principais compradores nacionais. “Estamos apostando muito nessa logística pronta para diluir o custo e fazer com que a carne de avestruz chegue com preços viáveis aos compradores e aos consumidores”, ressaltou Edson Nunes. O Frigorífico Margen deve construir uma sala de deplumagem para adequar-se aos abates das aves e aguarda a liberação ministerial para começar as matanças semanais.
Para Piveta, o frigorífico de Coxim está estrategicamente posicionado e poderá atender à demanda de abates de Mato Grosso do Sul e de grande parte de Mato Grosso. “Ele terá capacidade para atender aos dois Estados”, frisou. O produtor avalia que os maiores problemas enfrentados pelos produtores estão superados e o início dos abates deve desfazer um dos últimos gargalos da atividade. “A partir de agora começamos a focar nos mercados compradores dos produtos”, disse.
Outros produtos
Toda a pluma produzida no Brasil, mesmo que a produção cresça exponencialmente, será direcionada e ainda insuficiente para atender ao carnaval, o que garante o mercado ao subproduto, avalia o criador. Em relação ao couro, ele explica que já existem indústrias nacionais que confeccionam, exclusivamente, produtos a partir das avestruzes e a demanda pelas peças deve crescer à medida que os produtos finais puderem chegar com preços mais suaves aos compradores. “Hoje a indústria nacional já produz mais de 240 itens distintos a partir do couro de avestruz que são exportados para outros países”, relatou.
Neste contexto, Piveta concorda que a carne ainda precisa conquistar mercados, a partir da redução do preço final do produto, mas ressalta que consumidores mais preocupados com estética e com uma alimentação saudável são públicos em potencial para o consumo de carne de avestruz, uma vez que o produto é um alimento extremamente saudável e nutritivo, se comparado às carnes de outros animais. No entanto, independentemente do mercado interno, o produtor acredita que a carne de avestruz tenha grande projeção para as exportações, já que o consumo é habitual em alguns países. “Há uma demanda no mercado externo por carne da avestruz e o sistema sanitário imposto pelo Ministério da Agricultura brasileiro é fantástico. Temos um potencial para levar carne a outros países, assim que o ministério regulamentar o abate de avestruz para exportação. Acredito que isso possa ocorrer no primeiro semestre de 2007”, estimou Piveta.
Estado possui cerca de 10 mil filhotes
Atualmente, Mato Grosso do Sul possui cerca de 10 mil filhotes de avestruzes que sinalizam produção de aproximadamente 100 a 120 mil animais por ano a partir do próximo ano. “O atual rebanho do Estado já garante que teremos 100 mil aves por ano prontas para o abate em MS”, afirmou o criador.
Sozinha, a Biotectruz possui duas mil aves em seu criatório e, neste ano, deve produzir três mil filhotes considerando a produção de janeiro a dezembro. Em 2007, a estimativa é que a propriedade produza nove mil filhotes. “Até hoje a produção foi sustentada pela venda de filhotes negócio que já não rende tanto quanto no início da criação. A partir de agora começamos a voltar a criação para o mercado de carne, couro e plumas de avestruz”, frisou Piveta.