Redação AI (16/08/06)- Todos os anos, 1,5 milhão de pessoas visitam o Zoológico. Quem escolhe fazer o passeio entre maio e setembro tem a chance de admirar um espetáculo à parte. Por causa do frio, o parque recebe cerca de 3 000 aves hóspedes, principalmente irerês e marrecas-caneleiras. “São animais encontrados em todo o Brasil e em alguns países da América do Sul”, afirma o biólogo Guilherme Augusto Domenichelli, do Zôo. “Os que vêm para cá são provenientes de regiões ao sul, onde o inverno é mais rigoroso.” Essa bicharada toda, que curte o friozinho na cidade grande, encontra no Zoológico o que mais falta em seu ambiente natural nesta época: alimentação abundante. Alojadas ao redor do lago principal, as aves têm à disposição, além de vermes, moluscos e plantas aquáticas que compõem o ecossistema, ração à base de milho. Para se ter uma idéia, os tratadores deixam ali 300 quilos diários de ração, 100 a mais que no restante do ano.
Outras áreas verdes da cidade também abrigam aves viajantes. É o caso dos 32 parques municipais, que, no total, representam 15 milhões de metros quadrados de natureza, refúgio perfeito para exemplares de papa-moscas-joão-pires, tesoura-do-brejo e verão, entre outros. “Eles vêm porque acham comida grátis”, brinca o ornitólogo paulistano Johan Dalgas Frisch, presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem e autor do livro Aves Brasileiras. “O verão macho, por exemplo, tem uma bela penugem avermelhada. Nos meses de junho, julho e agosto, pode ser visto às margens da Represa de Guarapiranga e nos parques do Ibirapuera e da Aclimação.” No fim de agosto, quando o inverno está quase terminando, os cerca de cinqüenta pássaros dessa espécie que se hospedam em São Paulo voltam para o sul do Brasil, Argentina e Uruguai, onde constroem seus ninhos e se reproduzem. Suiriris, coleirinhas, tizius e bacuraus são outras aves que costumam passar pela cidade nesta estação, embora raramente se alojem por aqui. “Elas migram até a Amazônia. São Paulo apenas faz parte da rota”, explica Frisch.
Apaixonado por aves há quase sete décadas, o ornitólogo lamenta que o paisagismo urbano não seja projetado para receber os pássaros. “A partir dos anos 60, o número de espécies na cidade caiu muito”, diz Frisch. Para ele, a falha está na escolha das plantas. Há uma exagerada preocupação com sua aparência e não se leva em conta que são seus frutos e flores que atraem a fauna. “Para povoarmos o céu da cidade, precisaríamos de muitas amoreiras, pitangueiras, mangueiras, jabuticabeiras, caquizeiros…” Com mais árvores frutíferas, quem sabe nossos hóspedes de inverno não se sentiriam mais em casa?