Redação AI (17/07/06)- O brasileiro costuma imaginar álcool, mamona e soja quando pensa em biocombustível. Mas se esquece de produtos orgânicos que podem originar energia, gerar movimento e estar mais próximos do que imaginamos. O estudante João Cláudio Plath tem um comportamento diferente. Ele quer revolucionar o mercado brasileiro. Resolveu abandonar a gasolina, diesel e outros combustíveis tradicionais para colocar o frango no tanque. Sua filha Talita reclama que o veículo tem cheiro de coxinha de galinha. Não bastasse o odor característico, Plath já perdeu uma porta do carro: O cachorro comeu o Jipe por conta do cheiro comestível.
O veículo de Plath anda graças à mistura de gordura de galinha, pitada de álcool, metanol e soda cáustica. Em Apucarana (PR), onde estuda biologia, ele faz sucesso pelas ruas. A produção do novo combustível começou com o auxílio do professor de Bioquímica Edimilson Canezin, mas já tem muita gente disposta a copiar o modelo. Plath explica ao Diário da Manhã que a idéia surgiu após assistir documentário no canal da National Geographic. Em pouco tempo o professor apresentou ao aluno composição ideal para transformar gordura de frango em biocombustível. Foi questão de tempo para surgir o novo produto.
João Plath desejava fugir do preço exorbitante da gasolina e diesel. Conseguiu aplicar sua meta em prática graças a muita pesquisa em livros e internet. É este esforço que tem movimentado entusiastas do biodiesel, espécie não-poluente e bem mais barata. Segundo Ruy Brasil Cavalcanti, secretário-executivo do Comitê Goiano do Biodiesel, órgão criado pelo governo, existe imensa possibilidade de exploração desta modalidade de combustível. A sociedade tem uma grande necessidade econômica e o biocombustível pode ajudar na recuperação do campo. E mais outro fator impulsiona essa mudança: o biodiesel é um desejo de todos na medida em que viabiliza a defesa do meio ambiente.
Ruy Brasil afirma que tanto o combustível de origem vegetal quanto animal tendem a ser solução para problemas enfrentados por quem utiliza combustíveis tradicionais. João Plath confirma outro fator fundamental citado por Ruy Brasil: em comparação ao combustível trivial, a economia se revela enorme no final do mês.
O Jipe anda cerca de dez quilômetros por litro ao custo de R$ 0,50. Antes o estudante pagava R$ 1,80 pelo diesel, fato que impulsionou ainda mais sua ânsia por encontrar novo caminho. Mas não basta poupar o bolso. Não poluir o ambiente é também desejo antigo do futuro biólogo, que enxerga na gasolina e outras substâncias verdadeiros instrumentos de tortura para o equilíbrio do ecossistema.
A elaboração do biocombustível depende da substância principal que será usada. Por isso as possibilidades são imensas. O projeto inusitado de João Plath começou com a batida da composição na máquina de lavar roupa. Após 20 minutos, a mistura é despejada no galão. A última etapa serve para realizar o processo de decantação que utiliza calor para separar gordura das demais substâncias.
Mecânica
Tornar a invenção rentável será o próximo passo do estudante. João Plath aguarda definição do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), que avalia a descoberta para futuro registro e exploração comercial. Depois é só colher royalties, brinca.
Ruy Brasil Cavalcanti afirma que o despertar para o biocombustível coloca Goiás entre os principais pólos produtivos do País. Ele diz que o exemplo de João Plath é viável, mas cita vários outros modelos que podem ser aplicados em Goiás. Temos excelente produção de soja e solo que permite introdução de outras oleaginosas. Ressalta que o Estado se apresenta como 6 colocado na produção de álcool e a Petrobras, finalmente, despertou para esta matriz energética. O secretário executivo do comitê do biodiesel reitera que o uso de solução renovável e limpa demonstra as bases de um novo desenvolvimento sustentável. Biodiesel não tem CO2. Isso representa menos fumaça preta e presença de hidrocarbonetos, elementos cancerígenos prejudiciais à saúde.
Explosão de idéias
O estudante João Plath não é o único brasileiro em busca de solução para o uso de combustíveis. Em cada Estado existe um frisson a respeito da discussão sobre o assunto. Na verdade, a preocupação é mundial, mas os brasileiros se revelam os maiores aficionados pelo tema. Com a falta de dinheiro, o combustível é sempre um peso no orçamento familiar. Gasto cerca de 40% do que ganho com gasolina para carro da família e dos filhos, diz o advogado José Maria Nogueira. Ele é um dos entusiastas do biodiesel e afirma que tem procurado se informar sobre o tema, pois pretende entrar no mercado como experimentador solitário.
Além dos pioneiros que aplicam os conceitos de biodiesel em seus próprios veículos, existe um segundo nível de estudo deste produto. É o caso da empresa Ecológica Mato Grosso (Ecomat), localizada em Barra do Bugres (MT), que desenvolve espécie de carro popular movido a biocombustível. Outro exemplo é o Obvio, veículo montado no Rio de Janeiro que tem sido exportado para os EUA. Design criativo, pequeno tamanho e combustível verde têm impulsionado suas vendas na Califórnia. Quem se lembra da era Gurgel pode se preparar para os novos tempos. O novo combustível despertou a vocação dos brasileiros. Diversos projetos de carros nacionais de passeio se sustentam a partir do biodiesel. E não fica só nos leves. O Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), da Universidade de São Paulo, está na frente das discussões sobre biodiesel. É o local onde mais se pesquisa sobre o tema. Tanto é verdade que já colocaram para funcionar o primeiro ônibus de biodiesel no campus da faculdade. O pesquisador Daniel Bortoleto, químico que desenvolve mestrado na área de biodiesel, afirma ao Diário da Manhã que existem diversos projetos em andamento. Cada um desenvolve uma linha de estudo. E temos parcerias.
O biodiesel animal utilizado pelo Ladetel surge a partir de gordura recuperada de empresas como Carrefour e McDonalds. O laboratório ainda fornece assessoria técnica para projeto implantado com a Coca-Cola, que colocou 140 caminhões movidos a biodiesel nas ruas. No Rio de Janeiro, os ônibus da Viação Real participam do programa da Volkswagen que analisa a eficiência dos veículos que rodam com biodiesel produzido pelo Ladetel. Shell e Bosch se uniram ao laboratório universitário para colocar em prática uma idéia que suja menos o meio ambientee economiza mais.
Trecho de Goiânia a Brasília por R$ 5
Engenheiro francês Guy Ngre mostra que o caminho do biodiesel não só pode ser viável como não será o único para quem deseja abandonar a gasolina ou diesel. O carro de Ngre não tem combustão. Por um bom motivo: funciona com ar. Não bastasse a economia, também não polui. O ar da atmosfera é filtrado e depois se mistura com ar comprimido no cilindro. É um projeto mais econômico do que o carro elétrico. E mais complexo do que o biodiesel.
Segundo o jornal Le Monde, o projeto de Guy Ngre pode ser viável no futuro próximo. Em dois anos, os carros devem transitar nas capitais do mundo. O carro se abastece em três minutos. Com pouco mais de R$ 5 é possível fazer o trajeto Goiânia-Brasília.