Redação AI (28/03/06)- A possibilidade de que o vírus transmissor da gripe aviária chegue ao Brasil pelo Hemisfério Sul e não apenas pelo Norte, como se previa, levou a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a traçar um plano de emergência preventivo contra a influenza aviária, em parceria com a Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). Entre as medidas programadas pelos estudiosos está uma viagem à Antártica com o objetivo de coletar amostras de sangue de aves migratórias.
A elaboração do plano de prevenção emergencial foi divulgada ontem pela universidade por meio do Jornal da Unicamp. As ações visam o monitoramento extraterritorial de uma potencial rota de entrada da doença no País, por meio das aves migratórias, pelo Sul. Biólogos, veterinários, matemáticos e ornitólogos de ambas as universidades estiveram reunidos na quinta-feira no Imecc (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica).
O tema do encontro, que reuniu ainda representantes do Ministério da Saúde, da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento e da Abef (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango), foi a evolução do vírus causador da doença. O próximo passo, segundo a assessoria de imprensa, é acertar os detalhes da expedição de uma equipe de cientistas à Antártica. No continente gelado, os pesquisadores farão a coleta de amostras de sangue e outros materiais de várias espécies de aves, para a realização de análise virológica.
Estrutura A Unicamp divulgou que está preparada para analisar as amostras. A professora Clarice Weis Arns, do Laboratório de Virologia Animal do IB (Instituto de Biologia), explicou que sua área está equipada para fazer a análise do sangue. A técnica a ser empregada no IB utiliza o vírus desativado como forma de prevenir a sua introdução no Brasil. É um método extremamente seguro, assegurou a professora.
Durante a reunião, o ornitólogo Martin Sander, professor da Unisinos, explicou que as aves originárias da Antártica mantêm contato íntimo com espécies da Austrália, Ásia Menor e Japão, que podem ser portadoras do vírus. Sander esclareceu que aves antárticas podem alcançar a costa brasileira pela rota que passa pelas praias.
A concretização do plano de emergência, de acordo com a Unicamp, depende das negociações a serem feitas junto aos organizadores do Proantar (Programa Antártico Brasileiro). O problema é que as visitas da próxima temporada (no Verão de 2007) ao continente estão fechadas. Os cientistas precisam conseguir vagas no navio oceanográfico. Se deixarmos para 2008, pode ser tarde demais, alertou o ornitólogo.
Conforme informações divulgadas ontem no Jornal da Unicamp, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deve concluir nas próximas semanas um manual de procedimentos para prevenir e combater a gripe aviária. Em novembro do ano passado, o avanço da epidemia na Ásia e Europa levou o ministério a lançar, em parceria com o Ministério da Saúde, a versão preliminar de um manual de procedimentos para prevenir e combater a doença.
O manual traz uma série de medidas a serem adotadas pelos Estados e municípios. O documento alerta que o vírus causador da doença pode ser introduzido no Brasil pelo tráfego de passageiros, importação de animais, produtos biológicos, descarte de material de aviões e navios,aves migratórias e até mesmo correspondência.
A maior preocupação de cientistas, pesquisadores e autoridades da área de Saúde diz respeito à possibilidade de o vírus adquirir a capacidade de transmissão direta entre humanos, o que poderia resultar em uma nova pandemia (mundial) de gripe.
Alvos – Transmitida por vírus, a gripe aviária é altamente contagiosa atingindo galinhas e várias espécies de aves. Em raras ocasiões, atravessou a barreira entre as espécies e infectou humanos. O contato entre aves domésticas e migratórias tem provocado surtos epidêmicos em várias partes do mundo. No Brasil, não foram registrados casos de influenza aviária.