Da Redação 27/10/2005 – É comum caracterizar a agricultura familiar como um setor atrasado do ponto de vista econômico, tecnológico e social, voltado fundamentalmente para a produção de produtos alimentares básicos e com uma lógica de produção de subsistência. No entanto, “esta imagem estereotipada da agricultura familiar está longe de corresponder à realidade”, afirma Hildo Meirelles de Souza Filho, pesquisador do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Na verdade, a agricultura familiar é caracteriza pela produção feita dentro de um estabelecimento agrícola que seja gerido pelo próprio produtor e com utilização de mão-de-obra familiar seja superior à mão-de-obra contratada. Propõe-se ainda um limite máximo de cinco módulos rurais para a área dos estabelecimentos familiares, evitando-se a inclusão de latifúndios improdutivos.
Meirelles é um dos organizadores do livro “Gestão Integrada da Agricultura Familiar”, lançado pela Editora da UFSCar. A obra é fruto dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais para o projeto “Desenvolvimento de um Modelo de Gestão Integrada da Agricultura Familiar”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Apesar dos projetos terem sido realizados com agricultores familiares da cidade de São Carlos, no interior do Estado de São Paulo, os estudos deram origem a propostas e discussões amplas para a implementação da Gestão Integrada em estabelecimentos agrícolas familiares situados em outros locais. “Foi possível diagnosticar e propor ferramentas de gestão adaptadas para esse grupo, mas que, posteriormente, serviram como parâmetro para construção de modelos mais gerais”, explica o pesquisador.
Para a construção de modelos de Gestão Integrada da Agricultura Familiar, uma das primeiras preocupações é não tomar os agricultores familiares como um grupo homogêneo. “Existem agricultores familiares bem-sucedidos, integrados a sistemas agroindustriais e/ou voltados para exportação, bem como produtores pobres, que dedicam seu tempo e parcos recursos para a produção de subsistência”, analisa Meirelles.
De acordo com o último Censo Agropecuário disponível (1995/96), a agricultura familiar representa 85,2% dos estabelecimentos rurais brasileiros. Ocupa 30,5% da área agrícola total e responde pela geração de R$ 18,1 bilhões ao ano. Além disso, é uma importante fonte de emprego no meio rural, principalmente nas regiões mais pobres do País. Na região Nordeste, cerca de 50% das pessoas estão empregadas na produção familiar.
A produção agrícola também é bastante diversificada, incluindo produtos como soja e fumo, que são destaques na pauta de exportação brasileira. Em 1995, 25% do café, 31% do arroz, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 49% do milho e 32% da soja foram produzidos por agricultores familiares. “Não há contradição entre um discurso sobre a necessidade de aumento da exportação agrícola e agricultura familiar. Ao contrário, a agricultura familiar pode contribuir para o aumento das exportações, especialmente em produtos que utilizam mais intensivamente a mão-de-obra, como por exemplo, produtos da fruticultura”, esclarece o organizador do livro.
Apesar dessa indiscutível importância sócioeconômica, os agricultores familiares ainda sofrem com problemas graves decorrentes da não utilização de ferramentas de gestão. Essa inabilidade gerencial se reflete em projetos que são iniciados e não concluídos, na falta de aproveitamento do potencial produtivo das propriedades agrícolas e em dificuldades para captar e gerenciar os créditos rurais. “Existem fatores que prejudicam o desempenho da agricultura familiar que estão diretamente ligados ao controle da unidade de produção. São projetos mal concebidos que adotaram opções produtivas inconsistentes, insuficientemente testadas e até mesmo descabidas. Este tipo de problema revela a forte deficiência em atividades de gestão”, salienta Meirelles.
A capacitação gerencial, segundo ele, está ausente em grande parte das propriedades, principalmente em decorrência da falta de modelos de gestão com suficiente operacionalidade. “A gestão do empreendimento rural, que compreende a coleta de dados, geração de informações, tomada de decisão e ações, é insuficientemente tratada na literatura”, critica. Segundo ele, com raras exceções, a incorporação de práticas gerenciais e a plena integração da produção rural às necessidades do processo de transformação industrial ou de distribuição ainda estão longe de serem usuais.
Autores: Hildo Meirelles de Souza Filho e Mário Otávio Batalha (Orgs.)
Editora: EdUFSCar
Ano de publicação: 2005
Número de páginas: 359
Preço: 37,50
Mais informações: www.editora.ufscar.br