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MT colhe safra recorde e rentável de soja

<p>Temporada deverá ser lucrativa devido à reação de preços decorrente da quebra da produção no Sul.</p>

Da Redação 21/03/2005 – Há apenas um mês, Wanderlei Mamose, produtor de soja em Campo de Julho, no oeste do Mato Grosso, estava desanimado. A colheita em seus 1,3 mil hectares se desenvolvia bem, mas, para ele, os preços externos e domésticos do grão e o câmbio eram desalentadores. No caso dos preços, a explicação que ouvia era sempre a mesma: soja demais no mundo, com reflexos nas cotações da bolsa de Chicago (EUA) e em sua própria praça de comercialização.

Mamose conversou com o Valor na sexta, e mesmo por telefone era evidente que o agricultor está revigorado. Ainda ouve de especialistas que o excesso de soja no mundo perdura, mas a quebra da produção no Sul do Brasil, por conta de uma insistente estiagem, mudou o patamar dos preços. Para os mato-grossenses, que colhem uma safra recorde de soja, foi, provavelmente, a diferença entre prejuízo e lucro. “É claro que ninguém aqui queria que acontecesse o que se vê no Rio Grande do Sul. Mas a verdade é que o problema por lá nos salvou. Foi uma mudança milagrosa”, afirmou Mamose.

Sem os problemas climáticos da safra 2003/04, marcada por excesso de chuvas em regiões produtoras importantes, e com o fungo da ferrugem asiática sob controle, a produção do Mato Grosso deverá crescer 15,9% em 2004/05, conforme última estimativa da Conab, e alcançar 17,391 milhões de toneladas. Trata-se de um novo recorde, que poderá ser ampliado dependendo da produtividade, estimada pelo órgão do governo federal em 2.950 quilos por hectare. Na produção, o número do Estado é imbatível no país; já a produtividade média só perde para a de Rondônia, prevista em 2.990 kg/ha.

“Acredito em produção ainda maior e em produtividade recorde”, afirmou Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Até hoje, segundo dados da Conab, a safra mato-grossense mais eficiente foi a 2000/01, quando a produtividade média chegou a 3.100 kg/ha. “De Cuiabá para cima, a produtividade está muito boa. No sul, nem tanto”, ressalvou Seneri Paludo, da Agência Rural. Paludo acredita que a atual previsão da Conab está próxima do resultado que será visto depois de concluída a colheita.

Segundo Waldemir Ival Loto, diretor superintendente do Grupo Maggi – maior produtor individual de soja do mundo -, a colheita no Estado já atingiu 50% da área plantada (5,895 milhões de hectares, segundo a Conab, 14,5% mais que em 2003/04). Ele também projeta produção estadual recorde, e revela que o grupo deverá colher 450 mil toneladas, ante 370 mil no ciclo anterior. A área dos Maggi para a soja cresceu de 113 mil hectares, em 2003/04, para 142 mil. Em setembro de 2004, a previsão era de manutenção de área.

Loto observou, ainda, que o fungo da ferrugem, que em 2003/04 gerou quebra de 1 milhão de toneladas na produção do Estado, nesta temporada está sob controle. Marcia Yuyama, fitopatologista da Fundação Mato Grosso (FMT), disse que a situação em geral é melhor. Mas chamou a atenção para a proliferação da doença no sudeste, em pólos como Campo Verde e Primavera de Leste.

Mas a alegria do produtor Wanderlei Mamose veio com os preços, que, segundo a Agência Rural em 30 dias subiram de R$ 20,5/saca para R$ 27 em Sorriso (norte), e de R$ 26,6 para R$ 31 em Rondonópolis (sul).

O aumento levou à MB Associados a refazer sua projeção para a receita agrícola (“da porteira para dentro”) da soja no Mato Grosso em 2005. Glauco Carvalho, da MB, aumentou sua estimativa para US$ 3,2 bilhões, ante US$ 3,3 bilhões em 2004. A baixa de 3% ainda reflete a projeção para os preços médios anuais, que deverão ser menores. Em Sorriso, nesta mesma época de 2004 a saca saía por R$ 41; em Rondonópolis, por R$ 46. “Com esse novo cenário, teremos até lucro. Só o câmbio que tem de melhorar”, cobrou Mamose. Para Carvalho, este é um bom momento para vender. Até porque ninguém sabe a duração da sustentação em Chicago. Na sexta, os futuros para julho fecharam a US$ 6,53, em baixa de 23,50 cents.