Da Redação 15/09/2004 – Brasil e China vão pesquisar, em sociedade, o genoma da soja, para permitir uma manipulação mais eficiente e aumentar a produtividade da oleaginosa, informou ao Valor o presidente da Embrapa, Clayton Campanhola.
Os termos do acordo para a pequisa conjunta estão em negociação, e os trabalhos dos cientistas devem começar em 2005. Segundo Campanhola, a Embrapa começará, ainda neste ano, um intercâmbio de germoplasma (material genético de plantas) com a Academia Chinesa de Ciências Agrárias (CAAS). “Pretendemos trocar mais de 1.000 exemplares de material genético, até o fim do ano”, diz o executivo.
A aproximação com os chineses – que começou com a visita do presidente Lula ao país, em maio, e de uma missão de técnicos da Embrapa às unidades da CAAS – faz parte de um esforço de maior internacionalização da estatal, que firmou convênios de cooperação técnica com 42 países nos últimos 20 meses, a maioria na África e na América Latina.
Os convênios, segundo Campanhola, além da ajuda técnica prestada aos países beneficiários, abrem caminho aos fornecedores brasileiros de produtos agrícolas, como sementes. Abre também, para a Embrapa, o acesso a linhas de financiamento internacional a pesquisas e ações técnicas para desenvolvimento e cultivo de alimentos em países pobres e em desenvolvimento.
O governo de Moçambique depositou nesta semana US$ 450 mil que financiarão atividades dos pesquisadores da Embrapa no país; o governo do Gabão pretende destinar US$ 2,5 milhões, em grande parte financiados por instituições internacionais, para um projeto de cooperação com a Embrapa para o desenvolvimento de mandioca adaptada às condições locais. Em Angola, a Embrapa pesquisa melhoramentos na cultura do caju, aproveitando a experiência de um projeto semelhante no Brasil. Como os resultados da pesquisa brasileira são protegidos por patentes, os angolanos farão sua própria pesquisa, e os resultados poderão ser aproveitados no Brasil pelos produtores locais.
“A disseminação das técnicas da Embrapa e dos cientistas brasileiros pode aumentar as receitas do país, pela via dos royalties”, comenta Campanhola. A Embrapa não usa recursos próprios nas missões, que são, em parte, financiadas pela Agência Brasileira de Cooperação, do ministério das Relações Exteriores – a direção da estatal brasileira calcula não usar mais de US$ 100 mil das verbas da agência.
A complementação do dinheiro necessário vem dos próprios países, de países europeus com programas de ajuda e de instituições como a FAO, braço da Organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação. O presidente da Embrapa diz, ainda, que as pesquisas e trocas de material genético fazem parte da política do Ministério de Agricultura, de diversificar produtos na pauta de exportações brasileira.
A “internacionalização” da Embrapa tem extensões também nos países desenvolvidos, sob a forma de cooperação com laboratórios em Washington (EUA) e Montpelier, na França, onde a estatal mantém pesquisadores em uma espécie de laboratório virtual. A partir deste ano, os coordenadores desses laboratórios foram encarregados de identificar centros de excelência na Europa e América do Norte, para manter a estatal informada sobre a linha de frente de tecnologia.
Com os chineses, o Brasil pretende obter, também, uma nova variedade de arroz híbrido desenvolvido por eles, mais rústico (resistente a pragas e ao clima) e com maior produtividade. O termo de cooperação entre a Embrapa e a CAAS também prevê a vinda de material genético de trigo e algodão. Desde o início da semana, uma missão de técnicos da CAAS está em visita ao Brasil, onde fica até o fim do mês, em contatos com os pesquisadores dos quatro centros de pesquisa da estatal. Em Londrina, no Paraná, conhecerão o trabalho da empresa com soja; no Rio Grande do Sul, com trigo, em Goiás, as pesquisas de arroz e feijão; e, em Brasília, os especialistas chineses terão reuniões com os especialistas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para a seleção e intercâmbio de germoplasma. O custo de uma pesquisa sobre genoma de plantas, como o da soja, tem custos em torno de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões, e prazo de três a quatro anos.
“Dividiremos com os chineses os custos e a competência, aproveitando os grandes especialistas que eles têm”, afirma, satisfeito, o presidente da Embrapa.