A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado da Bahia (Aprosoja-BA), o Estado deve semear área de 5% a 7% maior com soja na safra 2023/24. Já as lavouras de milho tendem a recuar pelo menos 50% em área plantada. No atual ciclo 2022/23, aproximadamente 1,870 milhão de hectares com a oleaginosa e entre 230 mil e 250 mil hectares com o cereal.
“Acredito que haverá migração das áreas de milho e algodão, que são culturas com custos mais elevados e margem de rentabilidade mais baixa, para soja. A área de soja deve aumentar também pelo fato de que em safra com El Niño, onde os riscos para a produtividade são maiores, o produtor tende a migrar para a cultura mais barata”, disse o presidente da Aprosoja-BA, Leandro Köhn.
No caso do milho, profissional estima que o corte na área plantada será “severo” em virtude da baixa rentabilidade do cereal. “Hoje, a margem de rentabilidade do milho é negativa para o produtor. Haverá uma redução drástica, talvez até mais de 50%. O produtor vai fazer isso porque o milho precisa de muito recurso para plantar, exige alta adubação nitrogenada e qualquer seca que aconteça pode ter quebra total na produção”, explicou o presidente da Aprosoja-BA. Presidente da Aprosoja não vê no momento estímulo para abertura de novas áreas no Estado. “Não devemos ter aumento na área total. Muitas áreas que estavam abertas inclusive nem foram ainda plantadas. O investimento está parado”, acrescentou.
Um dos principais motivos para a manutenção da área plantada, segundo Köhn, é o recuo expressivo dos preços dos grãos neste ano. No Oeste Baiano, ele calcula que o preço da soja recuou de R$ 160 por saca praticado no início de fevereiro para R$ 116 por saca na última semana e sendo negociado em torno de R$ 100 por saca para entrega na próxima safra.
“É um decréscimo muito expressivo. Hoje, o custo médio previsto para 2023/24 é de R$ 4.500 por hectare de soja gera um custo de R$ 79 por saca, mas podemos ficar com margem negativa. No milho, o custo médio aproximado é de R$ 7.000 por hectare, com custo de R$ 47 por saca, acima do valor atual comercializado de R$ 46 por saca. Na safra anterior, o custo foi de R$ 9.000 por hectare ou de R$ 60 por saca, um prejuízo de R$ 2.000 por hectare”, apontou. Segundo o presidente da Aprosoja-BA, se o El Niño confirmar uma produção maior nos Estados Unidos e no Sul da América do Sul, os preços dos grãos podem sofrer maior pressão baixista, em virtude do aumento da oferta.
A produção no Estado foi de cerca de 7 milhões de toneladas de soja (produtividade média de 62 sacas por hectare) na safra 2022/23 e de 2,25 milhões de toneladas de milho (rendimento médio de 150 sacas por hectare), que está sendo colhido. “Houve quebra de produtividade no milho plantado mais tarde. Na soja, vimos redução de produtividade em áreas marginais porque ficaram até 40 dias sem chuva”, detalhou Köhn.
Para a safra 2023/24, além dos preços mais baixos dos grãos, a preocupação dos produtores do Estado é relacionada ao grau de severidade do El Niño, fenômeno climático caracterizado pela má distribuição de chuvas. “O El Niño severo geralmente causa danos maiores, como foi na safra 2015/16. Nos outros anos de El Niño, a safra no Estado foi menor. No El Niño ‘normal’ existe uma concentração de chuva entre novembro e janeiro e ausência de chuva, de fevereiro a março. Nos últimos anos, quem plantou cedo conseguiu finalizar a lavoura e colher até o período acentuado da falta de chuva, em fevereiro,, ou seja, as lavouras de milho e algodão ficam mais expostas e as de soja sofrem menos”, explicou o presidente da Aprosoja-BA.
Neste cenário de arrefecimento dos preços e de instabilidade climática, os produtores tendem a reduzir o nível de investimento nas lavouras, prevê Köhn. “É um cenário extremamente preocupante porque temos uma queda muito acentuada da renda. Nos últimos dois anos foram feitos investimentos, os juros estavam mais elevados, os preços dos maquinários elevados. Agora, será um ano de redução de custos nas lavouras, de retirada de fertilizante e de corte em alguns químicos”, comentou.
Köhn diz que não é possível mensurar neste momento quanto será o corte no volume aplicado de adubos pelos produtores, que já foi de 25% na safra passada, mas que haverá redução, especialmente de fósforo. “A grande maioria dos produtores vai reduzir adubo, principalmente o fósforo e parte de cloreto de potássio. O produtor vai avaliar caso a caso, mas haverá redução porque, embora os preços dos fertilizantes tenham recuado, as cotações da soja caíram mais”, pontuou. A safra 2023/24 começa a ser semeada em meados de outubro no Estado.