Redação SI 28/10/2002 – Suinocultores do Sudoeste do Paraná, o segundo principal pólo produtor do Estado, já estão sendo obrigados a comprar milho em outras regiões para alimentar os rebanhos. As compras são feitas de fornecedores do Oeste e do Sul paranaense, a até 300 quilômetros de distância. Embora ainda não se fale em ameaça de colapso no abastecimento, o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), aponta perspectivas nada otimistas para os próximos meses.
Restam no estado 1,2 milhão de toneladas do produto para a venda até a entrada da próxima safra, em fevereiro. Segundo Vera Zardo, agrônoma do Deral, a oferta mensal -de 342 mil toneladas- é insuficiente, já que o consumo mensal da pecuária paranaense é de 450 mil toneladas.
No mesmo período do ano passado, a oferta chegava a 3,1 milhões de toneladas, quase o dobro da atual. O Paraná produziu na safra atual 9,4 milhões de toneladas de milho, 25% a menos do que no biênio 2000/2001. A demanda anual do produto no Estado é de 11,1 milhões de toneladas, considerando-se consumo animal e humano, exportações e vendas interestaduais.
Segundo o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Romeu Carlos Royer, os criadores do Sudoeste estão comprando milho principalmente nos leilões realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estatal tem cerca de 8 mil toneladas armazenadas no Oeste paranaense para essa finalidade.
Além da escassez, criadores de suínos e frangos enfrentam a disparada dos preços. Ontem, a saca de 60 quilos estava sendo vendida, em média, a R$ 22,50 -alta de 14% desde o início do mês e quase o dobro do preço cobrado há um ano. Os preços atuais mantêm a paridade com o valor obtido pelo cereal no mercado internacional.
Retenção de estoques
Mesmo assim, nem Royer e nem o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, acreditam em desabastecimento generalizado. Segundo o presidente da APS, Romeu Carlos Royer, há milho suficiente em estoque, mas prevalece a retenção dos estoques, para a especulação com os preços. Além disso, as integradoras de frangos e suínos estão bem abastecidas, o que reduzirá a demanda. O Paraná é o maior produtor brasileiro de frango de corte e o segundo de suínos.
Outro fator que poderá afetar o abastecimento futuro é o atraso no plantio da atual safra de verão. A falta de chuva fez com que a área já plantada atinja apenas 63% do total. Em condições normais, a semeadura estaria concluída nesta época.Nas áreas já plantadas, a estiagem está prejudicando o desenvolvimento das lavouras. , diz a agrônoma do Deral. Para ela, essa situação poderá provocar uma redução ainda maior que a prevista na área com milho no Estado.
A mais recente projeção do Deral apontava uma redução de 7,5% na área cultivada em relação à safra de verão 2001/02. O total estimado é de 1,37 milhão de hectares, com produção de 6,8 milhões de toneladas. Já temos informações de que, na região Norte, onde a estiagem é mais grave, muitos produtores trocarão o milho pela soja, cujo prazo para plantio estende-se até dezembro, afirma Vera Zardo.
A preocupação com a possível falta de milho levou o Sindiavipar a defender o aumento do cultivo de milho de grão duro no Paraná. Com maior teor de óleo e proteína, essas variedades são mais apropriadas para a fabricação de rações.
Grão duro
Segundo Domingos Martins, presidente da entidade que reúne os abatedouros de frangos do Paraná, produtores de sementes, produtores de milho, criadores de frango e indústria já iniciaram, nesta safra, uma experiência com esse produto. A idéia, de acordo com ele, é pagar mais por esse milho, de qualidade superior ao de grão mole.
Romeu Carlos Royer, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, diz que a entidade já estimula seus associados a plantar o milho de grão duro. Ele tem um teor de proteína em torno de 10%, contra apenas 4% do tipo comum. Além disso, os produtores podem fazer silagem na própria propriedade, com o grão ainda úmido.
Muito consumido na alimentação animal em outros países, o cereal de grão duro, também conhecido como grão vermelho, é mais pesado, mais resistente a doenças e ao transporte em longas distâncias. Das cerca de 37 milhões de toneladas da demanda brasileira neste ano, 34 milhões de toneladas serão destinadas à alimentação animal.