Diante de uma possível redução no potencial da safra 2021/22 de grãos no Sul por causa da estiagem, o cenário para a suinocultura brasileira neste ano, que já era nebuloso em razão de uma tendência menos positiva para as exportações, deverá se complicar ainda mais.
A Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) tem alertado que as crises cada vez mais frequentes e complexas no segmento podem levar muitos produtores independentes e pequenas e médias integrações à falência.
“A grande preocupação é a recuperação da demanda do mercado doméstico para absorver o aumento da produção”, disse o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, em nota. A entidade considera o cenário interno “hostil”, reforça que há sinais de superoferta e lembra que, por isso, os preços estão em queda desde a segunda quinzena de dezembro.
Em boa parte de novembro e no início de dezembro, o indicador Cepea/Esalq para o quilo do suíno vivo negociado em São Paulo permaneceu acima de R$ 7. O índice caiu abaixo de R$ 6,50 na segunda metade do último mês de 2021, rompeu a barreira de R$ 6 no início de janeiro e atingiu R$ 5,14 na segunda-feira.
De acordo com o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, a queda de preços e o aumento de custos estão causando prejuízos entre R$ 300 e R$ 350 por animal vendido no mercado independente de Santa Catarina.
“Vemos que principalmente pequenos suinocultores, que já não têm mais como aguentar o prejuízo e enfrentam dificuldade de obter crédito estão indo para a integração. É um sistema em que não se fatura muito no pico, mas também não se perde muito em crises”, diz o dirigente, em nota.
“Tradicionalmente, o início do ano é de retração de demanda por carne suína no mercado doméstico e de queda da exportação, o que agrava o desequilíbrio entre oferta e procura, pressionando ainda mais os preços para baixo”, afirma a ABCS.
Segundo a Safras & Mercado, essa queda nas exportações não será apenas sazonal. Com o aumento da produção na China, o Brasil deverá embarcar, nas contas da consultoria, 1,07 milhão de toneladas de carne suína neste ano, recuo de 3,8% em relação a 2021 e volume 10,8% menor que o previsto pela Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA).
O Bureau Nacional de Estatísticas da China informou que, no ano passado, a produção de carne suína do país cresceu 29%, para 53 milhões de toneladas, e aproximou-se dos níveis pré-peste suína africana. “Pequim trabalhou muito para recuperar sua suinicultura. Recompôs os estoques públicos, ofereceu linhas de crédito com juros diferenciados e reduziu a importação. Tanto é que vimos quedas nos embarques americanos, europeus e brasileiros no fim de 2021”, afirma Fernando Iglesias, analista da Safras.
“Com as exportações não indo tão bem, existe um alerta bem grande. As margens estão bem deterioradas e alguns produtores operam no vermelho há algum tempo”, observa o analista. Ele lembra que as compras para suprir os asiáticos durante o Ano Novo Chinês já foram feitas e que, assim, as exportações brasileiras já devem refletir a queda da demanda em janeiro.
Neste primeiro mês do ano, estima a Safras, os embarques de carne suína tendem a crescer 46%, mas sobre um volume baixo (61,6 mil toneladas) enviado em janeiro de 2021. Em sete dos 12 meses do ano passado, os embarques ficaram próximos ou superaram 100 mil toneladas.
Ricardo Santin, presidente da ABPA, diz, no entanto, que após o Ano Novo Chinês – e quando a onda de covid-19 causada pela ômicron for controlada por Pequim -, as compras deverão reagir.
A ABPA acredita que, mesmo com o aumento da produção, a China ainda terá que importar 4,8 milhões de toneladas, levando em consideração projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a demanda chinesa. Além disso, diz Santin, a produção chinesa cresceu em 2021 apoiada também no abate precoce de matrizes – e que, com isso, a tendência agora é de queda.
Nesse contexto, a principal preocupação da ABPA é com os custos. No fim do ano passado, a entidade projetava um cenário de custos mais “controlados”, mas a estiagem no Sul do país deve manter os gastos elevados. “As empresas e integrações estão mais alongadas [no planejamento de compra de insumos], mas os independentes sofrem um efeito mais severo”, afirma Santin.