Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Tela no aviário não segura gripe

Para produtores de ovos, telas protetoras para barrar aves migratórias não seriam solução.

Mesmo antes de a revisão da Instrução Normativa 4, de 30/12/98, entrar em consulta pública, o setor de avicultura de postura vem debatendo, com preocupação, as medidas contidas nela, e apontando soluções alternativas. A instrução institui as normas para registro e fiscalização de estabelecimentos avícolas e está sendo revisada para ser adaptada ao Plano Nacional de Prevenção à Influenza Aviária e Prevenção e Controle à Doença de Newcastle, também recentemente aprovado. Ambos entrarão, em breve, em consulta pública.

 

A principal preocupação do setor é quanto à exigência de colocação de tela protetora nos galpões de postura, medida que, segundo eles, além de caríssima, não seria eficaz para barrar o contato das galinhas com aves migratórias – portadoras do vírus da gripe aviária.

 

GALPÕES MODERNOS

Em granjas de postura modernas e na maioria das granjas de frangos de corte, os galpões são totalmente automatizados e fechados, já dentro do padrão proposto. Mas a grande maioria das granjas de postura teria mesmo de adotar a telagem.

 

Em Bastos (SP), conhecida como a capital do ovo (abriga 15% do plantel de postura brasileiro), os avicultores estão se mobilizando para apresentar alternativas à telagem. “No Japão e no Canadá, onde a avicultura de postura é moderna, e já é fechada e telada, houve gripe aviária”, diz o avicultor Carlos Ikeda, que também faz parte de uma comissão organizada pelo Sindicato Rural de Bastos para discutir o problema. O presidente do sindicato, Shigeyuki Toyoshima, argumenta: “Não é que estamos contra. Estamos, porém, na base da cadeia, sabemos o que é viável ou não. Temos de oferecer subsídios para o governo decidir”, diz.

 

Segundo os avicultores, as ações de biossegurança já obrigatórias são suficientes para reduzir ao máximo os riscos de a influenza aviária atingir os plantéis brasileiros. E os produtores de Bastos contam, também, com a vantagem da localização geográfica, pois o município não é rota – pelo contrário, está bem longe – de nenhuma espécie de ave migratória.

 

QUASE ZERO

O diretor de Ovos da União Brasileira de Avicultura (UBA), Alfredo Onoe, concorda. “A possibilidade de termos a influenza trazida por aves migratórias é quase zero.” De acordo com levantamento feito pelo Sindicato Rural de Bastos, a telagem custaria em torno de R$ 4 por ave em granjas convencionais.

 

“Se levarmos em conta que temos 100 milhões de aves de postura, a telagem custaria algo em torno de R$ 400 milhões”, calcula. “Se essa for a solução, o setor vai ter de se adequar. Mas a questão é: será que isso é realmente necessário?” Segundo Onoe, o setor de ovos nem sequer foi consultado. “O trabalho-base de biossegurança feito pelo setor é suficiente e já está implementado. Mas podemos melhorar se for o caso.”

 

 

 

 

 

 

 

SEGURANÇA

Embora o presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Érico Antônio Pozzer, também considere remoto o risco de a influenza chegar aos plantéis por meio de aves migratórias, ele crê que a telagem seria uma medida preventiva. “Não podemos deixar brechas para o vírus”, destaca. “Sabemos que o setor de ovos não passa por um bom momento, mas os avicultores terão de fazer um esforço para se adequar, pois é uma medida importante.” Pozzer defende que o governo terá de dar um prazo e abrir uma linha de crédito para o setor.

 

FALÊNCIA

Em Minas, segundo maior Estado produtor de ovos no Brasil, com plantel de 10 milhões de aves e produção de 7,5 milhões de caixas (de 30 dúzias), os avicultores também estão preocupados. “Se forem obrigados a telar vai ser a falência das granjas. O produtor teria de mudar sua estrutura, investir, sem um efeito eficaz em troca”, diz a veterinária Marília Martha Ferreira, superintendente da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig).

 

Ela diz que os produtores em geral concordam com as ações para a prevenção da gripe aviária – como a proibição do trânsito de aves vivas entre os Estados -, mas acreditam que certas medidas, como a telagem, não vão resolver o problema. “Estamos discutindo com os produtores e acreditamos que a tela não tem efeito prático e é cara.” Marília diz que a forma de criação das aves poedeiras já é favorável. “As aves ficam isoladas, são criadas em gaiola. A proteção física já ocorre.”