A compreensão e aplicação do conceito de circularidade representam pilares essenciais para alcançar maior eficácia no processo de transição energética. A premissa fundamental é reduzir ao máximo a geração de resíduos, idealmente chegando a zero, eliminando a produção de lixo ou materiais descartáveis. No setor agropecuário, a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar exemplifica a proximidade desse ideal, devido ao alto aproveitamento da biomassa de cana.
No Brasil, esse potencial ainda é subutilizado, com apenas 17% da capacidade instalada no setor sucroenergético em operação. Em comparação, no setor petrolífero, o índice de aproveitamento é quase pleno, atingindo 97%. Donizete Tokarski, diretor-superintendente da Ubrabrio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene), destaca que cerca de 60 indústrias têm a capacidade de produzir 14,6 bilhões de litros de etanol por ano, mas a estimativa é que até o final de 2023 a produção seja inferior à metade desse volume. Ele ressalta a necessidade de reduzir a ociosidade para que o setor possa contribuir plenamente para a transição energética.
Nas usinas, o aproveitamento inicial ocorre com a produção de etanol. A palha da cana, que sobra após a colheita, é transformada em subprodutos comercializáveis, como bioinsumos e biocombustíveis de segunda geração. O biogás gerado a partir desses resíduos atende à demanda do setor de transportes por matérias-primas renováveis, reduzindo a pegada de carbono no setor automobilístico. Os bioinsumos, por sua vez, funcionam como fertilizantes naturais, aumentando a produtividade da cana e de outras culturas agrícolas.
Em 2022, a biomassa de cana representou 15,4% da oferta interna de energia no Brasil, sendo a maior parcela entre as fontes renováveis na matriz energética nacional, conforme o Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional de 2023, divulgado pela Empresa Nacional de Energia, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.
Tokarski destaca o papel fundamental da Embrapa como parceira na superação dos desafios enfrentados pelo setor, considerando-a uma instituição com reconhecida excelência mundial e vinculação ao Estado, capacitada e legítima para atuar em prol de políticas públicas necessárias para ampliar a participação do agronegócio brasileiro nesse processo de transição energética.