No Brasil, há mais de 500 espécies exóticas invasoras que causam danos significativos, incluindo animais, plantas e micro-organismos. Estima-se que essas espécies causem prejuízos anuais entre US$ 2 e US$ 3 bilhões, afetando a biodiversidade, a agricultura e a saúde pública. De 1984 a 2019, apenas 16 dessas espécies foram responsáveis por danos avaliados entre US$ 77 bilhões e US$ 105 bilhões.
Um extenso relatório, elaborado por 73 autores de 40 instituições após três anos de pesquisa, destaca a importância de conscientizar sobre esse problema. Michele de Sá Dechoum, bióloga e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta que os dados atuais provavelmente subestimam o real impacto dessas espécies.
Entre as espécies citadas estão a tilápia, o javali, o mexilhão-dourado e o tucunaré, originários principalmente da África, Europa e Sudeste Asiático. O relatório, elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, propõe medidas de gestão e governança para mitigar os riscos.
Todos os biomas brasileiros são afetados, especialmente a Mata Atlântica e, em menor escala, a Amazônia. As vias de introdução dessas espécies invasoras são variadas, incluindo o comércio de plantas ornamentais e a descarga de água de lastro por navios.
No caso dos javalis, introduzidos globalmente para caça e criação, suas características favoráveis para a reprodução e crescimento rápido se tornam problemáticas quando esses animais são liberados na natureza. Introduzidos no Brasil na década de 1960, eles proliferaram significativamente a partir do final dos anos 1980.
A introdução de espécies pode ocorrer de forma acidental ou intencional, causando diversos impactos. O professor Mário Luis Orsi, da Universidade Estadual de Londrina, destaca o tucunaré como um predador que ameaça a biodiversidade local. Medidas controversas, como a consideração de espécies invasoras como nativas em alguns municípios, tornam o controle desse problema ainda mais desafiador.
Espécies como a tilápia, introduzidas com apoio público, têm causado impactos negativos na fauna nativa e na cultura local. Por outro lado, o mexilhão-dourado representa um alto custo para a manutenção de infraestruturas hidrelétricas devido à bioincrustação.
O relatório identifica 268 animais e 208 plantas e algas como invasores no Brasil. A professora Michele Dechoum destaca a necessidade de uma gestão pública mais atenta às invasões biológicas, reconhecidas como uma das principais causas da perda de biodiversidade. A COP 30, prevista para 2025 no Pará, é vista como uma oportunidade para promover a prevenção e controle dessas espécies invasoras.
Pragas invasoras e perdas de até US$ 105 bilhões
Entre 1984 e 2019, as pragas exóticas invasoras causaram danos econômicos estimados entre US$ 77 bilhões e US$ 105 bilhões, com uma média de US$ 2 a US$ 3 bilhões por ano. As pragas agrícolas e florestais lideram as perdas, totalizando US$ 28 bilhões, seguidas pelos vetores de doenças, responsáveis por US$ 11 bilhões. Esses prejuízos resultam em redução da produção, perda de horas de trabalho, custos hospitalares e impactos no turismo. Além disso, o mexilhão-dourado representa um alto prejuízo para infraestruturas hidrelétricas e aquicultura. A remoção de bioincrustações pode custar até R$ 40 mil por dia em pequenas usinas e chegar a R$ 5 milhões diários em grandes usinas, como Itaipu, devido à paralisação das turbinas, conforme relatado pelos autores do estudo.