A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) homenageou o ex-ministro da agricultura, Alysson Paolinelli, grande mineiro, referência como gestor público e propulsor do estímulo ao agronegócio brasileiro. Ele recebeu o Prêmio Alysson Paolinelli – O maior Brasileiro Vivo, concedido com apoio da Comissão do Direito Agrário da OAB Nacional e da Alagro-Academia Latino-Americana do Agronegócio, durante evento realizado nas dependências da Fiesp, nessa terça-feira (29/11), em São Paulo. Confira abaixo o discurso proferido por Paolinelli na cerimônia.
DISCURSO DE ALYSSON PAOLINELLI APRESENTADO NA HOMENAGEM DA FIESP
Abraço inicialmente meus amigos Roberto Rodrigues e Jacyr Costa Filho
O Presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva.
O Ministro da Agricultura, Marcos Montes.
O Vice-Presidente eleito, Geraldo Alckmin, em nome dos quais agradeço a presença de todos.
Amigos. Muito obrigado pela homenagem que me prestam. Estou comovido.
Agradeço o tremendo esforço feito para que o Brasil fosse laureado com o Prêmio Nobel. Mas, a grande tarefa não terminou. Com a Ciência Tropical do nosso lado, vamos lutar juntos pela histórica.
OPORTUNIDADE DO BRASIL
O Brasil está pronto para fazer o futuro chegar novamente.
Somos o único País capaz de, em poucos anos, mais do que dobrar a produção de alimentos, sem desmatar uma única árvore.
É urgente depositar um novo olhar, reler o papel do Agro Tropical muito além da sua tradução convencional em avanço do PIB.
Temos as respostas rápidas e seguras que o mundo precisa diante dos temas críticos, das mais profundas e complexas crises globais da atualidade:
*No combate à fome, a redução do preço dos alimentos, via choque de oferta. Já fizemos uma vez. Não é aventura.
*No enfrentamento da agenda climática, um arsenal tecnológico e a visão: a inclusão social que transforma desmatadores em agentes do impacto mínimo da produção de alimentos sobre a natureza.
*Na contenção dos fluxos migratórios forçados, pela geração de renda, emprego e qualidade de vida, em bases sustentáveis, aqui mesmo, na região tropical, de onde ninguém deveria ser forçado a sair se pudesse viver com dignidade.
Essa é a causa dos jovens, os verdadeiros donos do futuro. Com eles, dialogamos pela comunhão de valores. Informação não basta.
É a causa do Planeta: a natureza é nosso ambiente de trabalho, conservá-lo é uma obrigação.
É a causa humanitária, das pessoas, objeto maior do processo civilizatório que nos une a todos.
É a causa dos investidores, que buscam a segurança da governança ESG.
Parece sonho, é verdade. Mas, no Brasil, estamos acostumados a realizá-los.
A participação dos jovens nas Reformas brasileiras é o elemento chave. Sem eles, vamos reproduzir o modelo gastador, socialmente injusto, administrativamente desorganizado e economicamente ineficiente que impedem o Brasil de ser um País Desenvolvido.
A primeira reforma tem que ser a Política. Partido tem que ter carta de princípios, respeitá-la, ser fiscalizado pelo eleitor.
A Reforma Administrativa é urgentíssima. A gestão eficiente dos recursos humanos já produziria recursos para os mais necessitados. Pasmem, sequer temos um teto efetivo para os salários do setor público.
A honestidade de um governo começa por aí.
É preciso rever o papel da Embrapa. Antes, uma empresa com missão definida, autonomia técnica e financeira. Hoje, prisioneira de relatórios, de uma burocracia interminável, e tendo pela frente os mais inquietantes desafios globais para resolver E, sem crédito, o sonho pode virar pesadelo. Um País endividado como o Brasil não terá todos os recursos necessários. Precisamos viabilizar o crédito externo, interno, estudar alternativas. Estamos falando de alimentos.
Uma Reforma Tributária só faz sentido pautada pelas duas primeiras. Os Países Desenvolvidos descobriram isto há cem anos. Não se tributa em vão. Nenhuma Nação séria, com moeda forte, planeja primeiro o que vai gastar. Saber o quanto o Estado custa é preliminar. O avanço tributarista em cima de quem produz é inaceitável. Ousam imaginar tributar alimentos em meio à crise que vivemos.
Os governantes devem ser obrigados a comprovar a eficiência no uso do que arrecadam.
E a oferecer segurança jurídica. Como é possível fragilizar a tal ponto o setor que é o eixo central da dinâmica econômica do País? A ameaça de invasões vai continuar? O problema do Brasil nunca foi falta de terra, mas de gente preparada e de política pública adequada.
Juntas, Natureza e Ciência têm todas as respostas.
Preservar a floresta úmida é essencial. Mas, sem considerar a geração de emprego e renda pela Bioeconomia Tropical continuarão excluídas da pauta civilizatória 29 milhões de pessoas, só na Amazônia brasileira.
Preservar, regenerar, mas também converter a Amazônia no maior celeiro de produtos naturais do Planeta.
O grande desafio é transferir a revolução do saber da prateleira para a realidade, para o “chão de fábrica”, lá onde atuam os produtores rurais Conhecer o potencial das nossas tecnologias é uma obrigação. Evita que lideranças, principalmente as que nos governam, façam coro com os que nos criticam por desinformação.
Por isto fizemos o livro “AS TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS QUE VÊM DOS TRÓPICOS – DESENVOLVER SEM DESMATAR”, organizado pelo Fórum do Futuro, com 64 artigos assinados por uma nata de pesquisadores e gestores que escancaram nossa capacidade transformadora.
A humanidade já assistiu a dois grandes saltos na história do aumento da oferta.
O Terceiro Salto só virá se:
*Fizer parte do projeto brasileiro de sociedade; *Se o mundo nos perceber como parte da solução.
Há 50 anos, os brasileiros pagavam pela comida mais cara do mundo. O choque de oferta decretado pelo ingresso do Brasil no mercado internacional de alimentos, em 1980, baixou fortemente os preços.
A família brasileira média gastava cerca da metade da sua renda com alimentação. Os preços de índice 100 começaram a desabar: em 2000, vinte anos depois, tinham caído em 50% globalmente e em 70% para os brasileiros.
O Agro Tropical transborda, vai muito além.
Quando assumi o Ministério da Agricultura, em 1974, o frango era uma proteína reservada à elite. O consumo per capita nacional era de apenas 3,5 kg por ano.
O melhoramento genético (Ciência, Tecnologia e Inovação tropicais) foi então a base de um dos mais vibrantes processos de democratização alimentar da trajetória humana.
Hoje, os brasileiros, em média, comem 45kg de carne de frango a cada ano.
Democratizar as tecnologias sustentáveis é pré-condição.
Entre cientistas e gestores, sabemos que uma árvore em pé vale muito mais do que deitada, mas é essencial que o produtor pequeno, médio ou grande enxergue isso também.
A ignorância do produtor faz a sua miséria.
Sem Educação, com a ajuda da iniciativa privada, não vamos prosperar. Só no Brasil são 4,5 milhões de famílias de excluídos tecnológicos. No mundo tropical, centenas de milhões de pessoas.
Esse EXÉRCITO DOS SEM FUTURO engrossa as intermináveis colunas de migrantes forçados a deixar sua casa, sua gente.
Um País com essa História, com a capacidade de reescrever o futuro das Nações, não tem o direito ao desalento.
Acreditar e ser otimista, certo, mas sem subestimar o cenário inquietante, uma inédita coincidência de crises diversas, complexas e profundas.
O mundo retornou a geopolítica bipolar. O Brasil é prisioneiro de uma encruzilhada diplomática e comercial.
*Somos parte do mundo ocidental, do seu ambiente de negócios, praticamos os seus valores; *E dependemos comercialmente do mercado asiático.
Esse quadro desafiante pode ser também uma gigantesca janela de oportunidades para o Agro empreendedor, tecnológico, inteligente, sustentável, organizado, cooperativado, inclusivo, obediente aos termos da Constituição da República e contrário a todas as ilegalidades.
O cooperativismo é a melhor forma de organização dos pequenos e médios produtores. Hoje, 54% dos nossos produtos agrícolas já são originários de cooperativas. Elas dependem de lideranças verdadeiras. É mais uma oportunidade para nossa juventude.
São balizas da visão estratégica de País que precisamos pacificar para instruir o debate de um
Novo Pacto Global, um ganha-ganha, com base na governança dos nexos Alimento, Água e Energia.
Vamos surpreender na contrapartida social e ambiental, mas precisamos de ajuda.
Hoje, ninguém faz mais nada sozinho.
Os Países ricos precisam parar de investir nas consequências e operar na solução dos problemas, lá onde eles se encontram.
No lugar de muros, vamos construir pontes do conhecimento.
Oportunidade histórica para o Brasil, para os povos tropicais, para o mundo. Nossa tarefa é conciliar a narrativa em torno daquilo que a sociedade brasileira quer oferecer à comunidade global.
Somar agendas comuns (Estado, Ciência, Iniciativa Privada e Sociedade) acende um novo ciclo de expansão econômica no Brasil e no mundo.
Insegurança alimentar é uma grave ameaça à Paz. Garantir comida e cumprir a agenda da sustentabilidade, não é simples.
Exige diálogo franco com a sociedade.
Hoje, comunicar é negociar, é compartilhar causas com os eventuais adversários que queremos converter em parceiros de jornada.
É materializar significados numa linguagem que os formadores da opinião urbana consigam entender.
Vamos unir jovens, agricultores, empreendedores, e toda a gente que trabalha a favor da racionalidade econômica para evitar que se jogue fora mais uma oportunidade do Brasil.
A classe política não pode mais tergiversar. Uma Nação pujante, honesta e realista está nascendo perante o mundo.
Jovens, vamos em frente.
Esta é a nossa hora.