Apesar da queda recente dos preços dos fertilizantes, os produtores rurais brasileiros seguem retraídos na aquisição dos adubos para uso em 2023. Levantamento trimestral da consultoria StoneX mostra que, para aplicação na safra de inverno 2022/23, ou seja no primeiro semestre do ano que vem, o ritmo das compras de adubos está oito pontos porcentuais atrás de igual período do ano passado.
O atraso é menor para aplicação na safra de verão 2023/24, no segundo semestre de 2023, com retração anual de dois pontos porcentuais no volume assegurado de adubos pelos produtores rurais.
Entretanto, a retração se acentua na comparação com a média dos últimos três anos, período em que a negociação antecipada de adubos começou a ser intensificada pelos produtores.
“Para o 2º semestre de 2023, vemos que o movimento de retração de antecipação de compras, o chamado barter trade, iniciado há um ano, se aprofundou um pouco mais. Se compararmos novembro/2022 com o auge das antecipações de compras, ocorrido em novembro/2020, o índice Brasil recuou sete pontos porcentuais e o da principal região consumidora, Centro-Oeste, recuou 15 pontos porcentuais”, observa a consultoria no relatório.
Para uso no primeiro semestre de 2023, período de semeadura das culturas de inverno como milho safrinha e trigo e da segunda safra de algodão, até o fim de novembro, 41% dos fertilizantes a serem aplicados nas lavouras do País já foram adquiridos, atrás dos 49% de um ano antes.
Mesmo com o atraso na comparação com o ano-safra anterior, as compras avançaram nove pontos porcentuais do fim de agosto ao fim de novembro e 15 pontos porcentuais desde maio – quando se iniciou a movimentação para a safra de inverno. Até maio, 26% dos fertilizantes aplicados na primeira metade do próximo ano estavam assegurados – índice que subiu para 32% ao fim de agosto.
Há maior retração, de 13 pontos porcentuais, na negociação antecipada de adubos na região Sul, segunda maior produtora de milho safrinha do País e maior produtora de trigo, que assegurou 32% dos fertilizantes a serem usados no primeiro semestre do ano que vem, ante 45% reportados em novembro de 2021. Na sequência, vem o Centro-Oeste, maior produtor de milho safrinha e de algodão do País onde o índice de negociação dos adubos atingiu 52% do volume necessário em novembro deste ano, ante 59% observados em igual período do ano passado.
O Sudeste garantiu 34% dos fertilizantes para a temporada de inverno 2022/23, em comparação com 39% há um ano. Já o Norte/Nordeste foi a região que apresentou menor atraso, com 49% das compras firmadas, atrás dos 50% de um ano antes.
O levantamento revelou também que até o fim de agosto 17% dos adubos a serem utilizados nas lavouras brasileiras no segundo semestre do ano que vem – período de semeadura da safra de verão 2023/24 – já tinham sido comercializados. Em igual período do ano passado, produtor já havia garantido 19% dos adubos a serem aplicados na safra de grãos de verão.
O maior volume foi assegurado pelo Centro-Oeste, principal produtor de grãos de verão do País, que estava com a negociação acima do índice nacional, com 21% dos adubos comprados para o uso no segundo semestre do próximo ano, ante 22% de igual período do ano passado.
A maior retração é observada na região Sudeste, com 15% dos fertilizantes travados, atrás dos 20% há um ano. Já as regiões Sul e a Norte/Nordeste estão com apenas um ponto porcentual de atraso na comercialização antecipada para o segundo semestre do ano que vem. No período reportado, 15% e 17%, respectivamente dos adubos necessários já haviam sido contratados, ante 16% e 18% observados em novembro do ano passado.
As compras antecipadas para a safra de verão 2023/24 se iniciaram em novembro. Aproximadamente dois terços dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano. Desse volume, a maior parte é aplicada a partir deste mês, quando começa o plantio da soja.
O levantamento foi feito pela consultoria até o fim de novembro com misturadoras, distribuidoras, cooperativas, médios e grandes produtores de todas as regiões do País e considera as vendas de adubos por meio da fixação de preços e fechamento de contratos para entrega futura. A pesquisa compreendeu uma área de 29 milhões de hectares, equivalente a 44% da área estimada com grãos na safra 2022/23.
Observa-se que a comercialização antecipada do pacote de adubação, especialmente para grãos, se intensifica conforme a relação de troca – quantidade necessária de determinada commodity para compra de 1 tonelada de adubo – fica mais favorável ao produtor.
Essa relação, contudo, está menos favorável desde meados do ano passado, em virtude das altas contínuas dos preços dos adubos. Ou seja, o poder de compra de fertilizantes pelo agricultor brasileiro está menor, apesar das cotações sustentadas das commodities.