Desenvolvido em nove meses para combater o coronavírus em ambientes fechados, o robô brasileiro Aurora 2.0 agora passa por um processo de ajustes para combater pragas que prejudicam a agricultura. Ao mesmo tempo em que discutem parcerias para que o Aurora seja comercializado, os pesquisadores de Pernambuco que desenvolveram o aparelho trabalham em uma nova versão para combater as pragas do agronegócio.
De acordo com um dos pesquisadores que criaram o Aurora, o professor do Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Leandro Almeida, a oportunidade de desenvolver o dispositivo surgiu em maio do ano passado com a publicação de um edital específico para a realização de pesquisas que resultassem em medidas de prevenção e combate ao coronavírus. O Aurora é um dos resultados.
“Quando o edital foi publicado, juntamos forças com pessoas de áreas diferentes para buscar essa solução. O Brasil ainda é carente de tecnologia em robótica e, quando esses dispositivos chegam aqui, o custo é muito alto. Ele (o Aurora) é adequado às nossas realidades, tem um custo menor em comparação ao que existe no exterior e é simples de ser operado”, explica Almeida. Se produzido e comercializado em escala comercial, o robô pode ter um custo final entre R$ 40 mil e R$ 120 mil. “Os aparelhos similares importados não saem por menos de R$ 700 mil”, afirma.
A tecnologia empregada no Aurora utiliza radiação ultravioleta e já é amplamente conhecida da comunidade científica. Operado por um aplicativo em smartphone, o Aurora é direcionado ao ambiente em que se deseja eliminar vírus e bactérias. Neste ambiente, sempre fechado e sem a presença humana, são acionadas lâmpadas que emitem a radiação. Ela, por sua vez, provoca mutações no DNA e no RNA dos micro-organismos que são, então, mortos. Em seguida, o robô deixa o ambiente. A partir deste momento, o local pode ser novamente ocupado. O emprego do Aurora não elimina a necessidade de se manter os protocolos normais de higienização do ambiente.
Atualmente, o Aurora está em uso no Hospital das Clínicas da UFPE. É recomendado para ambientes hospitalares e clínicas, mas pode também ser adotado em hotéis, restaurantes, shoppings, escolas e locais com elevada circulação de pessoas. Nestes casos, explica Almeida, é preciso apenas adotar protocolos de uso que impeçam que pessoas estejam no mesmo ambiente do robô enquanto ele “trabalha”. A radiação é nociva ao ser humano e, no caso do Aurora, muito maior do que aquela procedente dos raios solares.
Estudos para a agricultura
Agora, além de negociar eventuais parcerias no mercado, os pesquisadores que desenvolveram o Aurora buscam adaptá-lo para o uso na agricultura. Essa adaptação dará origem a um novo robô. Alguns testes de laboratório analisam a eficácia da radiação emitida pelo robô para combater fungos que ameaçam a cultura do tomate. Em tese, explica Almeida, a radiação para combater as pragas da lavoura é menor do que aquela necessária para matar micro-organismos como superbactérias e o coronavírus. E, se ele se mostrar eficiente, poder até eliminar a necessidade de aplicar pesticidas nos alimentos. A aplicação do Aurora é realizada sempre em ambientes fechados. No caso da agricultura, portanto, precisa ser empregado em estufas.
Embora ainda não existam negociações com parceiros internacionais, Almeida explica que sua adoção no exterior não deveria esbarrar em grandes entraves, justamente porque a radiação UV já é muito difundida. “Alguns países, como o Canadá, emitem recomendações para o uso, os Estados Unidos também. Eu acredito que, para ser exportado, seria necessário ele receber uma certificação, mas não seria um processo prolongado por causa da tecnologia empregada, que é conhecida”, diz Almeida.
Além dos professores da UFPE, integram a equipe que desenvolveu o Aurora 2.0 pesquisadores do Centro de Ciências Médicas da UFPE, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e do Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste.