A Câmara dos Deputados aprovou em plenário, na noite de terça-feira, o projeto de lei que estabelece novo marco regulatório do gás natural no Brasil, medida que deve reduzir a burocracia para investimentos em novos gasodutos e pode aumentar a competição no setor, segundo especialistas, e o texto vai agora ao Senado.
A proposta altera o regime de exploração de gasodutos de concessão para autorização, o que acredita-se vai facilitar a viabilização de novos projetos.
A matéria também proíbe que empresas ou grupos que atuam com transporte de gás controlem companhias com atividades também na exploração, desenvolvimento, produção, importação, carregamento e comercialização do insumo.
“É um marco importante, que reafirma o compromisso de abertura do mercado”, disse a especialista em energia do Souto Correa Advogados, Livia Amorim.
“Sem dúvida desburocratiza o processo de outorga de gasodutos”, acrescentou ela, destacando no entanto que diversos pontos do marco ainda precisarão ser detalhados em decreto ou regulamentação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para a Abrace, associação que representa indústrias com grande consumo de energia, a nova lei possibilita um “mercado mais livre”, ao garantir regras para que empresas acessem infraestruturas de gás de terceiros, como terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) e unidades de processamento.
A entidade também defendeu que a lei “garante a independência dos transportadores” e permitirá acesso amplo aos gasodutos.
“Muitas medidas adicionais serão necessárias, mas esse é o projeto possível e necessário. A discussão vai continuar e tem pontos de aperfeiçoamento que poderão vir”, disse o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, que vê perspectivas reais de forte redução de custos do gás para a indústria.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse no mês passado que a aprovação da lei do gás poderia destravar 40 bilhões de reais em investimentos privados.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem defendido que a medida irá gerar um “choque de energia barata” para a indústria. Tanques de gás natural na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro
CONTROVERSAS TÉRMICAS
Durante a tramitação do projeto na Câmara, alguns especialistas e empresas do setor tentaram convencer parlamentares a mudar o texto para garantir a construção de novas térmicas que assegurariam demanda por gás a ponto de viabilizar a construção de gasodutos para escoar a produção futura do insumo em campos do pré-sal.
Mas o relator da matéria, deputado Laércio Oliveira (PP-SE), considera que decisão nesse sentido diz respeito à política de Estado e não deve ser tratada em projeto de lei. O parlamentar não concorda com a sugestão, que definiu como “subsídio cruzado”.
A previsão de “termelétricas âncora” no projeto –como forma de evitar que petroleiras sigam reinjetando gás nos campos do pré-sal ao invés de enviá-lo para o continente– foi intensamente defendida pela Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e nomes como o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
A ideia, porém, sofreu críticas de alguns especialistas do setor elétrico, como a ex-diretora da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Joisa Dutra, para quem contratar essas usinas poderia distorcer a competição no mercado elétrico e eventualmente gerar custos extras para
os consumidores.